Joelma diz que convidou Mariah Carey para tomar um tacacá em Belém: "Ela ficou meio tímida, né?"

24/08/2025 14h04


Fonte O Globo

Imagem: Divulgação/Laís EvaA cantora Joelma(Imagem:Divulgação/Laís Eva)A cantora Joelma

Líder de vendagens de discos no Brasil na primeira década dos anos 2000 com a Banda Calypso, Joelma da Silva Mendes espalhou pelo país a notícia dos seus talentos de cantora, dançarina, coreógrafa, compositora, estilista, empresária, e virou uma embaixadora da música eletrificada e dançante do seu estado, o Pará.

Em carreira solo desde o fim do casamento com o parceiro de Calypso, o guitarrista Ximbinha, Joelma se manteve como uma das artistas mais conhecidas do país. E no mês que vem, no esquenta para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, vive um grande momento de sua carreira.

Joelma vai representar a música paraense ao lado de Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara em shows em São Paulo, no festival The Town (dia 14), e em Belém, no Amazônia Live 2025, no dia 17. Esta apresentação será no rio Guamá, em um palco flutuante com formato de vitória-régia, que em seguida será ocupado pela diva pop americana Mariah Carey.

— Tudo que Deus bota para mim como obstáculo, eu digo: “Opa, vou dar o meu melhor!” — conta Joelma por Google Meet, em uma das brechas de sua congestionada agenda. — Desde criança tenho uma ligação muito grande com Deus. Todos os meus projetos eu coloco nas mãos d’Ele e é incrível. Se estou fazendo uma coisa aleatória, de repente vem tudo na minha cabeça. É assim que nascem os meus projetos. Não me preocupo se vai fazer sucesso. Se eu estou gostando, se me entreguei de corpo e alma, basta.

Joelma convidou Mariah Carey a dividir um tacacá (caldo típico de sua terra) quando as duas estiverem no Pará.

— Ela ficou meio tímida, né? Mas a gente vai levar esse tacacá para ela experimentar — promete a cantora, para quem a americana é referência de canto, assim como Barbra Streisand e Céline Dion. — Acho que escolhi as melhores para me inspirar. Tem gente que canta muito, que vai lá em cima e lá em baixo, mas não tem um timbre legal. A Mariah, não, ela tem toda essa riqueza vocal e um timbre maravilhoso.

Estilo próprio

Joelma evita reconhecer que hoje, assim como a ídola, também é dona de um estilo com muitas seguidoras.

— Nunca tive tempo para pensar nisso, não, eu sempre trabalhei demais. Só agora, depois de pegar nove covids é que eu fui obrigada a diminuir o ritmo — revela, lembrando que no estouro da Banda Calypso, chegava a fazer 11 shows por semana.

Além das nove covids, a artista enfrentou paradas cardíacas e derrames oculares em consequência da doença.

— Fui internada três vezes. Depois de ter passado por essa experiência, fui obrigada a desacelerar. E foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Hoje meu trabalho tem uma qualidade maior. E não só no palco, mas fora dele também, porque o artista tem que dar atenção para a mídia, atender o público no camarim, isso é muito importante — detalha.

A doença ameaçou até a apoteose dos recursos teatrais da cantora que se apresenta de botas de salto alto e vestidos coloridos: dançar batendo cabelo.

— Com a Covid, perdi quase toda minha cabeleira. O cabelo vinha assim na mão, foi uma coisa louca. Mas já recuperei um pouco dele e estou mais tranquila — conta a estrela.

O desafio de Joelma é continuar fazendo aos “5.1 de idade”:

— Naquela época lá (do auge da Banda Calypso), pessoas diziam “é playback, é playback!”. Várias vezes tive que parar a banda e começar a cantar porque achavam impossível alguém levantar, baixar a cabeça, girar e não perder o fôlego, tudo em cima do salto — lembra.

Perto da entrevista, Joelma esperava o nascimento do seu primeiro neto, Oliver, da filha mais nova, Yasmim. Logo depois, viria Zahara, do seu filho do meio, Yago. Assim como a mais velha, Natália (“o meu braço direito”), os dois trabalham com a mãe.

— Acho que a Joelma avó vai ser bem moleca. Porque eu não cresci, sabe? — aposta ela, que deixou as paixões de lado e está “há sete anos sem beijar na boca”. — Deus me livre, prefiro a morte. Estou tão bem, tão feliz, que, para entrar uma pessoa na minha vida, ela tem que estar igual a mim. Não preciso de nada e de ninguém para ser feliz.

Joelma recorda que desde cedo foi criada para ser independente.

— Quando era criança, eu jogava futebol com os meninos. E conseguia ser melhor que eles, era uma coisa anormal. Tudo que os meninos faziam, eu fazia, e fazia melhor — gaba-se. — Faço musculação desde os meus 20 anos de idade, nunca parei. Sempre gostei muito de esporte e sempre cuidei muito da alimentação.
Imagem: DivulgaçãoJoelma e Ximbinha no último show da Banda Calypso, em 2015.(Imagem:Divulgação)Joelma e Ximbinha no último show da Banda Calypso, em 2015.

Outra memória que não se apaga é do quanto teve que ralar com o Calypso até o sucesso nacional:

— Quando estava começando a fazer show pelo Sul do Pará, a gente ia só com dinheiro do combustível. E só para a ida. Não tinha dinheiro para voltar e nem para comer. A gente parava nos postos de gasolina e eu saía vendendo nossos CDs para os caminhoneiros. Eu explicava: “Ó, a gente está batalhando, dá para você comprar o CD para a gente poder almoçar?” E eles ajudavam a gente. Foi muita luta.

O início da carreira solo

Ano que vem, Joelma poderá comemorar os dez anos de carreira solo, que decolou rápido com o hit “Voando pro Pará”.

— Quando tive que encarar a carreira solo, senti a diferença nas pessoas. Botavam muita fé na banda, mas não sabiam que praticamente 80% do que ela apresentava tinha sido criada por mim. O nome, a forma de cantar, de montar o show, com abertura, meio e fim.

O tempo dedicado à carreira a impede de atender a todos os colegas, admite. Como a discípula confessa Pabllo Vittar, que “me mandou uma música linda, achei incrível a interpretação”. Joelma foi abraçada pelo público LGBTQIA+ como um ícone.

— Fico muito honrada, porque esse é um público muito exigente, que gosta de fazer coisas diferentes. Eles me pedem cada coisa (risos)! Se eu conseguir chegar a 10% do que me mandam... Alegria é com eles mesmo.


Há algum tempo Joelma se divide entre São Paulo e Pernambuco, onde fica seu escritório. Ela lançou na sexta-feira seu primeiro audiovisual solo (“Uma noite amazônica - Ao vivo em Portugal”) e dia 18 de outubro grava em Brasília um DVD ao vivo. A cantora se esforça para manter o ritmo dos lançamentos — tem quatro músicas inéditas para soltar depois dos festivais.

— Prometi para os meus fãs que eu ia gravar um álbum com dez músicas inéditas. Só consegui lançar duas. Eu digo: “Gente, o que eu prometi eu vou cumprir, só não sei quando!”

The Town e Amazônia Live

Joelma se alegra em ver como “a mulherada de hoje está forte demais, em todos os ritmos, em todas as áreas”. O que se reflete na escalação da música paraense para The Town e Amazônia Live.

— Foi uma conquista na raça, nós tivemos que lutar muito, mostrar que éramos capazes. Hoje, a gente está com quatro gerações do Norte do Pará — diz ela, prometendo “um espetáculo paraense, com toda a nossa musicalidade, que é versátil demais”, organizado para o quarteto Joelma-Onete-Gaby-Zaynara por Diego Ramos, diretor musical de sua banda. — Tem carimbó, tem tecnobrega, tem calipso, tem cúmbia, merengue. É muita riqueza, e é isso que a gente vai mostrar.

A cantora se diz animada com novidades da música paraense, como o beat melody e o rock doido (novidades que, por sinal, a amiga Zaynara, de 24 anos, tem levado para os grandes centros do Brasil).

— A gente sempre misturou muita coisa. Tem um calipso que parece mais rock do que calipso, né? Umas guitarras com distorção, muito corte, muita bateria. Muita coisa que quero levar para esse show — adianta a artista, lembrando que o Pará é muito voltado para música latina e influenciado por gêneros que vêm das Guianas, desde quando eles chegavam ao estado por estações de rádio. — Temos uma música chamado soca, que é um dos ritmos que gravo. Um merengue mais acelerado que as aparelhagens divulgam muito lá em Belém.

Joelma reclama de preconceito que havia com o brega do Pará, mais alegre e dançante do gênero que foi batizado com o mesmo nome no Nordeste.

— Quando a gente começou a tocar com outras bandas, o pessoal perguntava: “Que ritmo você toca?” Aí os dançarinos diziam “É brega!” E o pessoal: “Ah, igual ao do Falcão?” (risos) — recorda a artista. — Eu ouvi aquilo, reuni a galera e disse: “Vocês não vão mais falar isso. Quando perguntarem o que é que a gente toca, qual é o nosso ritmo, vocês vão dizer: calipso!”

Cantora que já gravou com Joelma (na versão ao vivo de “Aquele alguém”) e com Gaby Amarantos (em “Mulher da Amazônia”), Zaynara celebra o encontro com as duas no The Town e no Amazônia Live, ressaltando a diferença musical entre elas.

— Eu tenho o meu beat melody caminhando e Joelma tem o calipso e toda sua irreverência em cima do palco. Uma das coisas que com certeza fortalece a gente são essas particularidades. A força que cada uma tem e que, unindo tudo, chega a mais lugares. Com todo o trabalho que a gente tem feito, vão se abrir caminhos para mais artistas, porque tem muita gente boa no Pará.

Linguagem renovada

Gaby também se mostra animada com a multiplicidade (feminina) da música paraense que, em boa parte, estará representada nos palcos dos festivais.

— Cada uma tem ali a sua forma de comunicar. É muita diversidade, porque tem muita coisa nessa Amazônia. A gente nunca pode ter uma representante só. Quero estar no palco cantando com elas — defende. — As meninas (no caso de Zaynara), elas trazem essa renovação da linguagem, que é muito moderna, para as pessoas também verem o quanto que a gente é tecnológico, e o quanto que a gente consegue ser sublime com todo o nosso afro-ribeirinho-futurismo.


Veja mais notícias sobre Celebridades, clique em florianonews.com/celebridades

Tópicos: joelma, show, mariah