Gabriela Duarte: "A maturidade traz liberdade de saber quem você é, o que quer e o que não quer"

22/05/2025 09h27


Fonte Revista Quem

Imagem: Andy Santana / Brazil NewsGabriela Duarte(Imagem:Andy Santana / Brazil News)Gabriela Duarte

Em uma nova fase profissional e também pessoal, Gabriela Duarte só busca uma coisa: paz! "Não estou mais a fim de ficar naquela correria que eu ficava quando eu tinha 30, 40 anos", explica a atriz, de 51 anos. Para ela, a maturidade trouxe consigo uma libertação. "As pessoas se apegam muito a coisa física, mas o que acontece fisicamente não é nada perto da liberdade que te traz saber quem você é, o que você quer e o que você não quer", enfatiza Gabi em conversa com a Quem no camarim do Teatro Estúdio, em São Paulo, onde ela está em cartaz com O Papel de Parede Amarelo e Eu.

O espetáculo é o primeiro monólogo de sua carreira. O texto é inspirado no conto O Papel de Parede Amarelo, da escritora Charlotte Perkins Gilman. Lançado em 1892, ele é considerado pioneiro na literatura feminista americana. A adaptação teatral, no entanto, ganhou um toque mais atual pelas mãos da própria Gabi. “São tantas conquistas, mas ao mesmo tempo a gente ainda precisa ficar em alerta sobre a insegurança que a mulher vive e sobre a vulnerabilidade que ela ainda se encontra. E estou falando de dados, não é de coitadismo", diz.

Com um viés político, a peça, de acordo com a atriz, não se apresenta de forma partidária. “Falar da situação da mulher não é levantar bandeira. Você ser voz para qualquer situação hoje é um ato político”, afirma. “A vida contemporânea está muito mais política. Que bom por um lado e que pena por outro, porque quando a gente fala nisso, a gente não pode esquecer do que a gente vem enfrentando de polarização. Esse é o lado triste. A polarização é uma coisa que atrapalha tudo.”

Gabi sente que esse novo desafio na sua carreira a resgatou de alguma maneira e é justamente no teatro que ela pretende reencontrar a mãe, Regina Duarte, em cena. A artista, que já estrelou na TV sucessos como Por Amor ao lado da veterana atriz, expressou seu desejo de voltar a dividir cena com Regina: “Acho que seria legal a gente fazer alguma coisa de teatro juntas. Estamos pensando. Temos a vontade e o desejo e acho que isso é o principal”.

Em paralelo a carreira, a atriz passou, em 2022, por um período de transição após o fim do seu casamento com o fotógrafo Jairo Goldflus. Eles ficaram 19 anos juntos e são pais de Manuela e Frederico. “Foi duro. Não era uma coisa que eu queria”, conta sobre a separação. “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e uma hora entendemos que a gente ia ser mais feliz seguindo as nossas vidas separadamente, mas continuando com a relação que a gente tem hoje, que é ótima.”

Atualmente, Gabi vive um relacionamento com o empresário Fernando Frewka. "É um começar, só que dessa vez sem as questões inerentes ao casamento”, fala. “A gente é namorado, ele não é meu marido, a gente não mora junto, a gente não divide nada. Somos pessoas independentes que se juntaram para viver coisas boas da vida. Eu com meu trabalho, ele com o trabalho dele. Eu com a minha casa, ele com a casa dele. Isso tem sido interessante. Decidimos que a gente quer ficar com o lado bom, o lado leve. E está sendo super legal.”

Gabi, como está sendo a experiência de estrelar o seu primeiro monólogo?

Está sendo uma montanha-russa de emoções. Cheia de aventuras, coisas boas e desafiadoras também. Está sendo incrível fazer uma coisa que eu nunca tinha feito e ter a oportunidade de fazer isso aos 51 anos. Era uma coisa que eu queria, mas nunca imaginei que fosse ser tão prazeroso. Eu achava que ia ser muito difícil estar em cena sozinha. Tem um lado um pouco solitário, você tem que encarar a pressão de entrar em cena sozinha, mas também tem um lado que é você com você mesma, o que te dá uma liberdade muito grande de fazer o que acha que tem que fazer.

O espetáculo é inspirado no conto O Papel de Parede Amarelo, mas houve adaptações e tem muito de você na peça. Como você quis se mostrar nesse espetáculo?

Quis fazer uma coisa que não fosse só usar o meu instrumento físico e vocal para tirar alguma coisa das páginas de um livro do século XIX. Eu quis falar de mulheres, o texto é isso, um manifesto feminista do século retrasado, e acreditando que falar de mim, que sou mulher, mãe e artista, eu estaria falando com várias mulheres sem ser num lugar ligado ao passado. Quis uma coisa mais contemporânea. Mas é interessante você ler um conto como esse e falar: “Nossa, continua muito parecido, né?”. Claro que houve mudanças, isso é óbvio e indiscutível. Houve progressos e as coisas evoluíram, mas intrinsecamente as coisas continuam muito parecidas, a opressão feminina [continua]. São tantas conquistas, mas ao mesmo tempo a gente ainda precisa ficar em alerta sobre a insegurança que a mulher vive e sobre a vulnerabilidade que ela ainda se encontra. E estou falando de dados, não é de coitadismo. Olha os números de feminicídio, por exemplo.

A peça possui um viés político. Como ele se apresenta no espetáculo e como isso conversa com a sua realidade?

Falar da situação da mulher não é levantar bandeira. Você ser voz para qualquer situação hoje é um ato político. A coisa política que você está se referindo é isso, nada mais do que isso. Não é uma peça política, de bandeirola na mão e militância, não é. Ela conversa [com o público] através de metáforas. Acho que hoje tudo é uma questão política. A vida contemporânea está muito mais política. Que bom por um lado e que pena por outro, porque quando a gente fala nisso, a gente não pode esquecer do que a gente vem enfrentando de polarização. Esse é o lado triste. A polarização é uma coisa que atrapalha tudo.

E afetou sua família também, né? Quando sua mãe começou a se posicionar politicamente e as pessoas começaram a questionar e a criticar.

Atrapalha tudo. Acho que as pessoas perdem a chance de dialogar quando a coisa está polarizada, sabe?

Isso chegou a te afetar também? Na época, a classe artística também fez críticas à sua mãe. As pessoas te trataram diferente ou começaram a questionar sua relação com a sua mãe?

Sim, bastante. Olha, faz tanto tempo. Já passou, de verdade.

"As pessoas perdem a chance de dialogar quando a coisa está polarizada"

Recentemente, teve a reprise de Por Amor e sempre é um sucesso. Como é para você ter feito parte desse marco da TV?
Foi um super sucesso. A novela reprisa muito, acho que é uma das campeãs de reprise, se não me engano. Eu encontro pessoas que falam [que assistem] toda vez. Eu falo: “Não é possível. Como é que você aguenta?”. Tem gente que ainda fala assim: “Eu acabo de assistir e já começo de novo”. Acho uma loucura, mas entendo o porquê das pessoas gostarem tanto e se identificarem com aquela humanidade e simplicidade do Manoel Carlos. São situações muito plausíveis. Não é todo dia que se troca um bebê na maternidade, lógico que não. Agora, é impossível? Não. A novela tem desdobramentos incríveis. Uma mulher que tem que lidar com a mentira, que acho que é a grande tragédia da novela, que começa quando ela toma essa atitude [de trocar os bebês] por amor.

E como foi viver filha da sua mãe na ficção?

Foi engraçado, mas foi muito bom. Uma experiência incrível. Me senti muito privilegiada também de poder viver um momento profissional tão importante ao lado da minha mãe.

"Eu gostaria (de um projeto com Regina Duarte). Estamos pensando. Temos a vontade e o desejo e acho que isso é o principal"

Você acha que seria legal nesse novo momento assim vocês fazerem algum outro projeto juntas?
Eu gostaria. Acho que mais ligado ao teatro, porque acho que é mais propício. O teatro te dá mais liberdade, você pode fazer uma turnê [com um espetáculo], e não tem aquele cronograma mais rígido da TV. Acho que seria legal a gente fazer alguma coisa de teatro juntas. Estamos pensando. Temos a vontade e o desejo e acho que isso é o principal.

Falando agora da Gabriela mãe, como foi conciliar a maternidade com a carreira de atriz?

Tenho um pré-adolescente e uma adolescente. Agora eu vou fazer uma turnê com a peça e acho difícil [ficar longe], imagina quando eles eram pequenos. Não é fácil. Para mulher, nunca foi. Por mais que o pai seja presente, tem coisas que são a mãe, não adianta. É uma tripla jornada, mas é possível. Lembro que quando eu fazia Sete Pecados, uma novela do Walcyr [Carrasco], a Manu tinha um ano. Mudei para o Rio para gravar e tive que levá-la. A gente montou uma estrutura e aluguei um apartamento nessa época, eu não tinha mais casa no Rio. Gravava muito, fazia uma professora de escola pública, era um papel socialmente importante. Eu decorava o texto de madrugada quando ela estava dormindo. Ficava até às 4 horas da manhã decorando. De dia, eu queria ficar com ela e também gravava.

Gabi, você viveu um casamento de 19 anos. Como foi seu processo de transição após a separação?
Foi duro, foram 19 anos. Não é fácil, né? Só posso falar por mim, não era uma coisa que eu queria. Eu fiz tudo que eu podia, eu tenho certeza que ele também, o Jairo, meu ex-marido e pai das crianças. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e uma hora entendemos que a gente ia ser mais feliz seguindo as nossas vidas separadamente, mas continuando com a relação que a gente tem hoje, que é ótima. Construímos uma relação boa, sólida, de família e de interesses em comum, que são essas duas pessoas, Manuela e Frederico. Não é fácil, mas são coisas da vida. Eu tenho 51 anos, veja você, quantas coisas eu já vivi. Já vivi um casamento, já vivi uma separação, já vivi coisas que muitas mulheres na minha idade vivem. É natural. Procuro encarar como uma coisa da vida e que a gente vai lidar da melhor forma possível. E está indo tudo bem. Ele está bem, eu estou bem. É isso o que importa, eu quero que todo mundo esteja bem.

"Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e uma hora entendemos que a gente ia ser mais feliz seguindo as nossas vidas separadamente"

Hoje você está em um novo relacionamento. O que esse atual namoro te trouxe de novo?

Justamente a novidade, a leveza de um início e de um recomeço. Acho que basicamente isso. É um começar, só que dessa vez sem as questões inerentes ao casamento. É um namoro. A gente é namorado, ele não é meu marido, a gente não mora junto, a gente não divide nada. Somos pessoas independentes que se juntaram para viver coisas boas da vida. Eu com meu trabalho, ele com o trabalho dele. Eu com a minha casa, ele com a casa dele. Isso tem sido interessante. Decidimos que a gente quer ficar com o lado bom, o lado leve. E está sendo super legal.

E o que a maturidade te trouxe de bom?

Nossa, tantas coisas. Uma das mais importantes, sem dúvida, é a de realmente não me preocupar mais com coisas que eu me preocupava antes, inclusive com que vão pensar, vão achar e vão falar. Eu sei quem eu sou hoje. Eu tenho os meus dois pés fincados numa identidade muito sólida. Então o que a pessoa acha, eu já não consigo me importar mais. Realmente, eu não tô nem aí. Não me afeta como já me afetou um dia.

Que bom ter esse sentimento em uma época de redes sociais, já que há tantos comentários, né?
É uma libertação. A maturidade traz uma liberdade. As pessoas se apegam muito a uma coisa física, mas o que acontece fisicamente não é nada perto da liberdade que te traz saber quem você é, o que você quer e o que você não quer. Lembro que, durante muitos anos, sabia o que eu não queria, mas não era o suficiente. Nunca me contentei, porque só vou conquistar o que eu quero sabendo o que eu quero. Não é a verdade?

E o que é que você quer daqui para frente?

Quero paz (risos). Quero fazer minhas coisas. E [querer] paz não quer dizer que estou sofrendo ou que as pessoas estão me perturbando, não é isso. O mundo está perturbador e provocativo. O mundo está difícil. Quero pensar no que é essencial, quero poder acalmar a minha cabeça para entender [as coisas]. E quero continuar trabalhando. Muito. Estou muito feliz com esse atual trabalho. Acho que esse trabalho me resgatou. O teatro faz uns resgates assim, incríveis. A peça estreou faz praticamente um mês e tanta coisa já aconteceu. São tantas emoções, como diria Roberto Carlos. Quero continuar fazendo as coisas que eu acredito, mas tenho vontade de voltar para uma coisa mais simples, de paz mesmo.

Você diz isso profissionalmente?

Não, pessoalmente e espiritualmente. Me conectar mais, entendeu? Não estou mais a fim de ficar naquela correria que eu ficava quando eu tinha 30, 40 anos. Quero fazer tudo com calma e com tranquilidade e acho que, assim, vai dar tudo certo.

Tópicos: trabalho, atriz, mulher