Senegalês joga no profissional pela 1ª vez e conta sonho de ser fenômeno

20/06/2015 11h04


Fonte G1 PI

Imagem: Emanuele Madeira/GloboEsporte.comClique para ampliarMouha: sorriso fácil e paixão pelo futebol desde pequeno.(Imagem:Emanuele Madeira/GloboEsporte.com)Mouha: sorriso fácil e paixão pelo futebol desde pequeno.

Nem mesmo um Oceano Atlântico de distância impediu a realização do sonho que passava na imaginação do ainda garoto Leye Mouhamadou. Há pouco mais de um ano no Brasil, o senegalês de 21 anos mudou de país para seguir aquilo que pedia ao pai desde os três anos de idade, ser um jogador profissional de futebol. Admirador incontestável de Ronaldo, o atleta também quer se tornar fenômeno assim como o ídolo. E foi no interior do Piauí, em Campo Maior, cidade localizada a 78km da capital Teresina, que “Mouha” – apelido depois do técnico considerar seu nome muito grande e complicado – deu o primeiro passo. No Caiçara, o atacante disputou o Campeonato Piauiense. Em seu primeiro clube profissional, após passar nas categorias de base de times baianos, o africano jogou quatro partidas, levou dois cartões amarelos e acumulou uma expulsão por retardar o início de partida. Xodó da torcida alvirrubra do Leão, o jogador espera o contato de outro clube para seguir o que sonhava quando jogava pelada com os amigos em Mboro, onde nasceu.

No Piauí desde o começo do ano, quando acabou contratado pelo Caiçara na montagem do time para o estadual, Mouha colecionou histórias nestes últimos dois meses. E como. O sorriso do grandalhão de 1,83 de altura é fácil de arrancar. Da torcida, a primeira vez que ouviu seu nome gritado das arquibancadas se transformou em uma emoção sem fim. O jeitão de falar meio desengonçado – ainda se arriscando no desafiante português – também rendeu. Às vezes, ela confessa, não entendia muito bem o que o técnico falava, pedia à beira do campo. Muçulmano, o atacante narrou a complexidade de explicar que era preciso rezar cinco vezes por dia, antes e depois dos jogos do time. Por isso, foi até chamado de “macumbeiro”.

- Agradeço por ter encontrado pessoas boas no meu caminho. Gostei muito, aprendi mais ainda. O Caiçara abriu as portas, e vi que gostaram do Mouha. Foi minha primeira equipe como profissional e tive oportunidade de jogar com pessoas incríveis. Todo mundo gostou do Mouha, agradeço por isso. O que vou levar comigo é o carinho da torcida. Eles gritavam: ‘Coloca o Mouha... Coloca o Mouha’. Também ouvia: ‘Não desiste... Vai dá certo’. Isso emocionou – conta o atacante.

- Meu nome é Mouhamadou, mas o treinador disse que seria mais prático Mouha, caiu no gosto (risos). Falava francês, mas com dificuldade aprendi a falar português. Nos treinos era um pouco difícil, pediam uma coisa, e Mouha fazia outra. Tem que dizer as palavras devagar. As pessoas também não entenderam a minha religião. Sou muçulmano e cinco vezes por dia faço minhas orações. Coloco meu tapete e faço oração, mas as pessoas olhavam assim... E não sabiam o que era aquilo. Expliquei que não era macumbeiro, não sou isso. Eles entenderam – completou o jogador, sobre suas aventuras no Piauí.

Imagem: Emanuele MadeiraMouha em atuação no Piauiense: quatro jogos, dois amarelos, uma expulsão e nenhum gol.(Imagem:Emanuele Madeira)Mouha em atuação no Piauiense: quatro jogos, dois amarelos, uma expulsão e nenhum gol.

Sozinho no novo país, Mouha mata a saudade da família e dos 16 irmãos através das redes sociais. Até chegar a Campo Maior, o senegalês começou a carreira nas categorias de base do Dakar Sacré-Coeur. Por lá, conquistou a Copa Senegal sub-18. O pai, Masseck Leye, atendeu o pedido do filho e o trouxe até Salvador, onde conheceu Sérgio Passarinho, auxiliar técnico que montou o Caiçara no começo do ano. Da relação, veio o convite para jogar em Campo Maior.

- Passarinho me ligou e disse que estava montando um time no Piauí. Ele perguntou se eu queria jogar. Perguntei onde ficava o Piauí, e aceitei o desafio. Sempre quis jogar bola. Minha mãe pergunta como estou, digo que ainda não é um time grande ainda, mas quero aprender. Todo mundo começa em clube pequeno e tudo dá certo.

Em quatro jogos no Campeonato Piauiense, Mouha não conseguiu o sonhado gol. Nada que abalou o sonho do menino de seguir no futebol. Com o fim o estadual, onde ganhava R$ 1 mil por mês, o atacante continua na cidade de Campo Maior para saber qual o futuro clube após o fim do estadual.

- Eu sei das minhas condições desde pequeno. Vejo vídeos do Ronaldo e me admiro, quero fazer gols como ele. Espero agora um novo clube, pode ser qualquer um, porque minha missão é jogar bola.

Tópicos: clube, jogador, atacante