Ruivinha de Marte reconstrói a relação com o corpo e traz à tona fome na infância

03/10/2025 09h21

Fonte Revista Quem

Ruivinha de Marte, nome artistico de Anny Bergatin, ganhou fama por fazer vídeos engraçados em que sua magreza chamava a atenção dos internautas. Entretanto, o que parecia apenas uma característica física escondia uma realidade dura: a falta de acesso à nutrição básica. "Antigamente a gente passava muita fome, então, não era algo que eu estava querendo provocar, é porque realmente a gente não tinha o que comer", revela a influenciadora de 28 anos em entrevista à Quem.

A infância de Anny com poucos recursos marcou não apenas seu corpo, mas também sua relação com a alimentação. "A gente fazia duas refeições no dia, no máximo, quando estava bem, e o meu estômago começou a se acostumar com pouca comida", relembra.

Com a carreira de influenciadora dando frutos, Ruivinha agora passa por uma transição: "Tem sido uma mudança muito grande, não só para a minha mente, mas para o meu corpo também aceitar que está entrando bastante comida, suplementação, vitaminas que antes eu não tinha".

A relação de Ruivinha com a nutrição antecede sua adolescência, mas foi nessa fase — principalmente no ambiente escolar — que o corpo virou um lembrete de autoódio motivado por comentários maldosos de colegas.

"Quando a gente está na adolescência, a gente quer ter namoradinho, a gente quer paquerar", relembra. "Mas, as pessoas nunca queriam ser associadas a mim. Os meninos sempre falavam: Ai, Deus me livre, como se fosse uma coisa muito ruim ficar com uma pessoa muito magra. Então, começou desde essa época, fui botando na minha cabeça que as pessoas magras eram muito feias".

Durante a pandemia, Anny apostou nos fios vermelhos e logo deu espaço para surgir a personagem Ruivinha de Marte. "Eu viralizei na internet como uma pessoa engraçada, humorista, magrinha, que fazia dancinha e todo mundo ria. Eu conseguia me esconder atrás desse humor". E, apesar de ter agarrado sua chance, não era assim que ela sonhava: "Eu queria viralizar como jornalista, mas a vida me levou para outro caminho".

Para além dos likes, a exposição também lhe trouxe um nível de ataques que ainda não conhecia. "Foi aí que eu fui entender o que é hater", recorda. "Comentários horríveis, que diziam que eu tinha aids ou que usava algum tipo de droga para ser como era", expõe.

Auxílio médico

Com a própria insatisfação ao olhar no espelho e a onda de ataques que recebia desde a juventude, Ruivinha decidiu que era hora de aproveitar os frutos do seu trabalho como influenciadora para buscar apoio de especialistas.

"Eu comecei a me preocupar comigo mesma. Minha costela estava aparecendo, os ossinhos aqui do meu ombro estavam muito aparentes, a minha clavícula estava para fora. Minhas pernas muito magras...", relembra. "Bem antes de me tornar influenciadora, eu procurava médicos no SUS para ver se estava acontecendo alguma coisa, porque eu me sentia muito fraca", conta.

Como suspeitava, os exames apontaram problemas graves — todas as suas vitaminas estavam pela metade do normal, ela estava quase com anemia e precisou repor ferro.

Até mesmo o médico ficou surpreso ao revelar sua porcentagem de gordura corporal. "Ele falou: Olha, tu tem 3% de gordura no corpo, que é quase impossível alguém ter. Nem os melhores atletas às vezes têm 3% de gordura", lembra. "Eu tive que ir atrás de aumentar a porcentagem de gordura para que quando eu fizesse exercícios ou passasse da hora de comer não fosse consumir os músculos que estava construindo."

Além da musculação, que começou a ganhar cada vez mais sentido para Ruivinha, ela também precisou fazer uma série de suplementação e reposição de vitaminas. "A minha família depende de mim, eu preciso cuidar de mim", reflete.

A mudança de perspectiva aconteceu paralelamente com a dedicação nos treinos somada à boa nutrição. "Eu ficava oscilando de 43 a 46kg. O máximo que eu cheguei era 48kg". Atualmente com 60kg, Ruivinha conta orgulhosa: "Quando eu cheguei a 50kg, falei: Não, agora a chave virou de verdade, porque eu nunca cheguei nesse peso".

E a transformação trouxe mudanças para além do corpo. "Minha autoestima... Antes já usava biquíni, já usava roupa muito curta, mas hoje em dia eu me sinto muito mais segura. Antes eu usava por usar, mas não me sentia tão bem. Hoje estou usando roupas que eu nunca imaginei".

Da subnutrição ao fisiculturismo

Passada superação de fazer as pazes com o espelho, a academia ganhou um novo sentido para Ruivinha e logo o interesse pelo fisiculturismo veio naturalmente. "Quando eu olhava de longe, eu sempre admirei a coragem, a força, a disciplina de subir no palco e deixar coisas de lado", diz.

No entanto, foi ao se mudar para São Paulo que ela sentiu que tinha chegado o momento de novos desafios. "Eu sou uma pessoa muito determinada. Os personais que trabalham na minha equipe falaram: Não, você consegue. E que meu shape atual se encaixaria na categoria bikini", explica.

Para a competição, Ruivinha aponta que não se trata apenas de peso. "É mais a questão de músculos. Tem que secar mais, diminuir a porcentagem de gordura, mas com todo o cuidado para não voltar como eu era antes. Treinar pontos estratégicos: ombro, abdômen e o glúteo, que é a gota".

A preparação também vem com limitações que fazem diferença no mundo do fisiculturismo, em que há uma cultura do uso indiscriminado de anabolizantes.

Questionada se faz ou pretende fazer o uso dos hormônios, Ruivinha é categórica: "Eu não posso usar anabolizantes. As pessoas têm dúvidas sobre isso porque eu ganhei muita massa corporal em pouco tempo, mas eu não uso e vai ser mais difícil ainda, porque para manter esse shape mais sequinho e não perder com facilidade, precisaria usar".

A decisão da influenciadora tem um motivo claro: ela também quer seguir carreira como cantora. "Eu não posso porque eu canto. Mesmo que fosse pouca dosagem, iria afetar. Não quero arriscar a minha voz", explica.

Alguns profissionais chegaram a dizer que ela poderia usar fazendo acompanhamento com uma fonoaudióloga, mas para Ruivinha o risco não vale a pena. Por isso, ela competirá na categoria natural, sem hormônios, voltada para iniciantes.

Vale destacar que a estreia de Ruivinha nos palcos está próxima. Ela e sua equipe miram um campeonato em novembro em São Paulo, mas se o tempo ficar muito curto, há outra opção em dezembro. De qualquer forma, ela já está em preparação intensa, focando em ganhar ainda mais massa muscular para depois secar na medida certa.

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