"Pensei em desistir", conta Lauana Prado, fenômeno do feminejo, bissexual e fã de rock nacional

18/05/2025 21h32


Fonte O Globo

Imagem: DivulgaçãoLauana Prado(Imagem:Divulgação)Lauana Prado

A boa e velha pinga virou vodca com energético na virada dos anos 2000, quando a música sertaneja passou por uma revolução estética. As modas de viola de raízes caipiras, com letras sobretudo sofridas, foram perdendo espaço para as canções conectadas à realidade urbana, de linguagem mais coloquial — era o sertanejo universitário, que virou fenômeno em todo Brasil.

Lauana Prado, goiana de 36 anos que vive o auge da carreira, faz parte da segunda geração de cantoras de um desdobramento daquele subgênero, também muito vitorioso: o feminejo. Segue a trilha aberta por nomes como Marília Mendonça, Maiara & Maraísa e Simone & Simaria. Mas é preciso dizer: Lauana Prado parece ter algo diferente de suas antecessoras.

Ela recebe a reportagem do GLOBO em São Paulo, na concessionária de uma marca automotiva especializada em caminhonetes de luxo da qual se tornou embaixadora. Está ali para receber um veículo de presente, uma RAM 1500 SST, modelo à venda a partir de R$ 540 mil. De calça e colete beges, o chapéu marrom e um cinto despojado de couro, ela passa cerca de uma hora fazendo fotos e vídeos promocionais ao lado do novo mimo. Com seus 1,68m, parece pequena diante do imponente automóvel. Mas Lauana está gigante.

Depois de despontar em 2018 com o hit “Cobaia” (dos versos “E quando for beijar alguém/ Testa esse beijo em mim”), ela voltou à crista da onda no ano passado com a regravação de “Escrito nas estrelas”, canção lançada por Tetê Espíndola em 1985. A versão de Lauana foi a música mais tocada no Brasil no segundo semestre de 2024, de acordo com levantamento da Pro-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras fonográficas do Brasil.

Também ficou na 24ª posição da Top 50 Viral, lista do Spotify das músicas mais tocadas em todo o mundo. A faixa levou a melhor nas categorias Sertanejo do Ano e Hit do Ano no Prêmio Multishow do ano passado. Também gravado por Lauana em 2024, “Raiz Goiânia” foi o terceiro álbum mais ouvido no Spotify Brasil.

Dentro da caminhonete nova, a caminho do Villa Country, espaço dedicado ao sertanejo no bairro da Água Branca, em São Paulo, onde ela se apresentaria horas depois, na última terça-feira, Lauana comenta o efeito meteórico de “Escrito nas estrelas” em sua carreira.

— É surreal até hoje. Escolhi colocar “Escrito nas estrelas” no repertório do “Raiz Goiânia” porque foi o tema do casamento da minha mãe com meu pai. Eu brinco que é a música “do tempo do fofo e da fofa” — brinca a artista. — O sucesso viral foi impactante, com certeza, mais uma grande virada de chave na minha carreira.
Imagem: DivulgaçãoLauana em show no Villa Mix: cantora esgotou os ingressos da casa na última terça-feira.(Imagem:Divulgação)Lauana em show no Villa Mix: cantora esgotou os ingressos da casa na última terça-feira.

Bi, e daí?

O sucesso fez com que sentisse um “maior assédio das pessoas”. Ficou difícil andar a pé no bairro onde morava à época, em Mairinque, cidade perto de Sorocaba, interior de São Paulo. O boom estelar também também despertou um interesse maior na vida pessoal da cantora que, num movimento corajoso, diante de uma cena sertaneja historicamente machista, já havia se assumido bissexual em 2019. Desde junho do ano passado, ela namora a empresária, influenciadora e chef Tati Dias, conhecida por ter participado de realitys da TV como “De férias com o ex” e “A fazenda”.

— A gente se conheceu pelas redes sociais, começou a se aproximar conversando por direct, até que um dia ela foi na minha casa pessoalmente e a gente não desgrudou mais — lembra Lauana, que costuma postar registros românticos com Tati em seus perfis.

Nascida em Goiânia, numa família de classe média, sendo a mais velha entre três irmãos, Mayara Lauana Pereira e Vieira do Prado não veio exatamente de um berço musical. Seu pai é advogado e a mãe é psicóloga, e ninguém na família tinha qualquer história na música. Ela conta que foi uma criança expansiva, que acabou se interessando por piano aos 9 anos. Depois, se apaixonou pelo violão. Ainda nova, se mudou com a família para Araguaína, no Tocantins.

Fez faculdade no Maranhão, onde se formou em Publicidade. Nessa época, começou a tocar em barzinhos de São Luís, com um repertório amplo, que além do sertanejo abrangia MPB como um todo, de Alcione a Cássia Eller, passando pelo cancioneiro do pop rock nacional, do qual se diz “muito fã”.
Imagem: DivulgaçãoDobradinha no Prêmio Multishow de 2024: sertanejo do ano e hit do ano.(Imagem: Divulgação)Dobradinha no Prêmio Multishow de 2024: sertanejo do ano e hit do ano.

Pensei em desistir

Dos shows quase vazios, onde “só tocava para o garçom”, ela brinca, foi construindo seu nome — na época, ainda usava Mayara Prado —, chegando a faturar R$ 15 mil por mês com seus 20 e poucos anos. Mas também viveu desilusões, como quando um empresário a fez voltar para Goiânia lhe prometendo “mundos e fundos” antes de “sumir”.

— Nunca mais eu vi. E aí eu contraí uma série de dívidas, fui recomeçar minha vida em Goiânia. Ali eu entrei numa depressãozinha. Foi o primeiro grande baque. Tipo: “Cara, será que eu preciso passar por isso?” — relembra a cantora. — Pensei em desistir. Mas outras portas começaram a se abrir.

Os ventos voltaram a soprar a seu favor quando ela começou a participar de programas de auditório. O primeiro foi “The Voice Brasil” (Globo), em 2012, onde chegou às etapas finais pelo time de Carlinhos Brown. Em 2015, venceu o “Mulheres que brilham”, do “Programa Raul Gil” (SBT). Com as idas e vindas a São Paulo por conta da TV, estreitou relações com nomes importantes da cena sertaneja. Um deles mudou de vez seu destino — e seu nome.

— Conheci o Fernando Zor (da dupla Fernando e Sorocaba), que foi meu empresário, meu padrinho de carreira aqui em São Paulo — diz. — Quando intensifiquei meu trabalho como autora, batia na porta dos estúdios mandando minhas músicas, ele ouviu e se interessou pela minha voz. Mas disse que eu precisava mudar meu nome artístico.

No feminejo já havia uma Maiara — além de Maraísa, Naiara, Simaria, nomes com sonoridade semelhante. Foi quando a até então Mayara contou ao amigo que seu segundo nome era... Lauana.

— Fernando achou sensacional. E ficou — conta ela.

Aí vieram as tatuagens, o dread no cabelo e todo um visual boho chic que lhe davam uma pinta de fazendeira hippie dona de si. E é aí que ela se diferenciava de seus pares. Além do estilão, meio inédito no sertanejo, Lauana nunca foi muito adepta da sofrência descomunal. Em vez da fossa, sempre preferiu os versos que lhe davam as rédeas:

— Os grandes clássicos foram muito importantes pra mim. Mas sempre fui muito disruptiva. Gosto muito dessa coisa da mulher moderna, independente, que sai desse lugar de submissão e abandona essa coisa do “ah, preciso de alguém”, para se apropriar do discurso de “cara, eu sou feliz comigo mesma e não estou aqui pra sofrer por causa de ninguém.”
Imagem: Ricardo Brunini / Agência O GloboO visual boho chic de Lauana Prado no começo da carreira.(Imagem:Ricardo Brunini / Agência O Globo)O visual boho chic de Lauana Prado no começo da carreira.

Choradeira e tremedeira

O show no Villa Country estava marcado para as 22h naquela terça-feira. Era um ensaio para o projeto audiovisual “Raiz Belo Horizonte”, que será gravado no próximo dia 24, no Mineirão. Às 9h da manhã, já havia fãs na porta.

Por volta das 17h, Lauana apareceu para cumprimentar o grupo que batia ponto ali desde cedo. Depois de muitas fotos, gente chorando e se tremendo, acabou colocando todo mundo para dentro, e a turma viu o ensaio do ensaio, que ela fazia com seu time de 13 músicos como preparação para a noite. Lilian de Sousa, 35 anos, foi uma das agraciadas.

— Escuto a Lauana desde 2019 — diz ao GLOBO a fã da cantora, com “Raiz” tatuada na mão esquerda, que ainda tremia por tê-la abraçado. — Entrei num salão com meu filho pra cortar cabelo e estava tocando uma música dela. Foi um amor inexplicável. Ela tem uma luz sem igual.
Lauana esgotou os ingressos do Villa Country. No camarote, famosos como Nicole Bahls e a namorada da estrela, Tati Dias. Do lado de fora, ambulantes vendiam chapéus a R$ 50 e cambistas não vendiam, mas compravam ingressos. Um ex-jogador de futebol famoso, inclusive, teve dificuldade para conseguir entrar. No camarim, Lauana recebeu Zélia Duncan, de quem regravou “Catedral”, que estará no repertório do “Raiz BH”.

— Eu sou muito, muito muito sua fã — disse Lauana.

E Zélia respondeu:

—Te ouvi outro dia, fiquei tão feliz. Sua voz grave, com muita potência, com muita vontade. Você sabe que durante um tempão não deixei ninguém gravar “Catedral”?


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Tópicos: carreira, sertanejo, lauana