Gkay x Gracyanne na musculação: duelo ensina sobre tipos de força

11/04/2024 10h12

Fonte ge

Seria possível a humorista e influenciadora Gkay levar a melhor em um desafio de musculação contra a influenciadora, modelo e ex-dançarina Gracyanne Barbosa? O duelo protagonizado nas redes sociais ensina que, embora Gracyanne tenha se sobressaído, não necessariamente quem tem o maior físico é o mais forte. Segundo especialistas, tamanho de músculo não é sinônimo de força, já que existem diferentes tipos de força e maneiras distintas de medi-la.

Como se mede força

Para começo de conversa, há diferentes parâmetros para se medir força. Cada tipo tem as próprias especificidades e exercícios de treinamento para desenvolvê-lo.

Segundo o educador físico Thayô de Oliveira Magalhães, há três tipos de força:

• Força bruta ou força máxima: é a capacidade de o atleta exercer o máximo de força em um único momento, independente da massa corporal que possui. Trata-se de quem consegue levantar a maior carga em valores absolutos;
• Força relativa ou proporcional: é a relação entre a força que o atleta consegue aplicar e o próprio peso corporal. Um atleta de grande força relativa, por exemplo, seria um levantador de peso capaz de erguer cargas muito maiores quando comparado a outros que estão na mesma faixa de massa corporal;
• Força resistida ou resistência muscular: é a capacidade de o atleta seguir fazendo força por um período prolongado, de maneira a sustentá-lo. Por exemplo, quem consegue realizar mais repetições com uma determinada carga ou ficar mais tempo em exercícios de isometria, nos quais se faz força sem gerar movimento.

No caso do desafio de Gkay e Gracyanne, as duas se enfrentaram em uma competição que as comparou majoritariamente através da força bruta. Elas fizeram as mesmas séries, sem adaptações de carga em relação ao peso de cada uma.

Somente no último exercício, a prancha isométrica, o duelo considerou a força relativa, já que, neste caso, a carga aplicada é a do próprio peso corporal, gerando uma igualdade entre as competidoras.

Exercícios realizados no desafio:

• Leg press horizontal (base de sumô e base fechada) + cadeira extensora
• Agachamento no hack de deadlift + isometria
• Puxada neutra com triângulo
• Leg press 45°
• Prancha abdominal (isometria)

Relação entre porte físico e força

No duelo realizado no último domingo (7), apesar das brincadeiras, Gracyanne venceu sem dificuldades - o que a maioria das pessoas podia esperar, já que a musa fitness possui porte físico e músculos muito maiores do que os de Gkay.

Entretanto, segundo educador físico João Pedro Campanha, que mediou o desafio entre as duas celebridades, seria possível que uma pessoa com o porte da Gkay derrotasse alguém com o corpo da Gracyanne.

Isso dependeria da metrificação aplicada e do tipo de força testado, já que, na força bruta, o maior físico tende a levar a melhor sempre.

— Não necessariamente o tamanho do músculo significa força. A gente ganha força de outras formas além do tamanho do músculo — explica o professor de musculação.
Como exemplo, Campanha cita que os exercícios que usam o próprio corpo como carga medem a força relativa de maneira resistida, tornando a competição mais justa. São os casos de prancha abdominal, barra fixa, flexão e agachamentos livres.

Mas há a possibilidade de replicar esse princípio para todos os equipamentos e exercícios, adequando a carga de acordo com o peso de cada pessoa e contando o número de repetições.

Por exemplo, se a pessoa de menor forte físico tiver metade do peso da maior, pegaria metade da carga da adversária. Nesse caso, a vencedora seria quem conseguisse realizar mais repetições naquele exercício.

Influência do tempo de treinamento

No caso específico do duelo das influenciadores, a vitória de Gkay seria improvável ainda que a disputa fosse focada em resistência (número máximo de repetições) ou força relativa, com as cargas sendo proporcionais ao peso corporal de cada uma delas.

Entretanto, os dois educadores físicos ouvidos por EU Atleta explicam que isso não se dá especificamente por causa da diferença na quantidade de músculos presentes no físico de cada uma delas, mas sim porque a musa fitness treina continuamente há mais de 20 anos, em uma rotina que ainda inclui dieta e suplementação personalizadas.

Em um desafio com duas pessoas de perfis corporais distintos, mas que treinam há mais ou menos o mesmo tempo, com frequência e constância semelhantes, não seria improvável que o resultado fosse favorável à pessoa de menor físico.

— Sempre dependerá da base de treinamentos para que uma pessoa tenha a força maior do que a outra. Não necessariamente ter mais músculos significa ter mais força. Um exemplo disso é um influencer chamado Anatoly, que faz uma pegadinha em academias se disfarçando de faxineiro e pegando o peso de pessoas grandes e musculosas. Porém, ele é da elite do powerlifting. É um cara treinado e resistido para isso — pontua Thayô.

Diferença de preparação e resultados

O que deve ser levado em conta em um desafio que envolva capacidade física, seja qual for, é o princípio da especificidade. Ou seja, diferentes exercícios e treinamentos fornecem resultados específicos na capacidade do corpo para a realização da atividade física.

Por exemplo, alguém que quer correr uma maratona precisa treinar corrida, incluindo atividades prolongadas, enquanto quem deseja melhorar no futebol precisa treinar explosão e fundamentos específicos da modalidade.

O mesmo conceito se aplica aos diferentes tipos de exercícios que desenvolvem a força, sejam eles realizados em sessões de musculação, crossfit, treinamento funcional ou qualquer outra metodologia. Embora não sejam totalmente independentes em termos de ganho de capacidade, os maiores resultados estarão atrelados ao que cada treino se propõe.

— Toda atividade física tem sua individualidade e seu sistema energético próprio. Cada treino é realizado para cada objetivo diferente: para você emagrecer, para ter hipertrofia, para ter condicionamento físico para certo tipo de atividade e assim vai. Sempre irá depender da necessidade e do objetivo do indivíduo, com amplas opções para ele escolher como se condicionar — explica Thayô.

Ainda que sejam utilizados os mesmos exercícios no treinamento, a quantidade de carga, o número de repetições e o tempo descanso entre as séries é o que determina as diferentes adaptações que o corpo realiza para dar o resultado do exercício. A constância nos treinos de acordo com o objetivo desejado vão, com o tempo, gerar tipos cada vez mais específicos de força e de volume de massa corporal.

Na musculação, o objetivo é fazer força para erguer determinada em um movimento repetido até o que ocorra a falha, independente do tipo de força que se pretende desenvolver. É o momento da falha que determina o tipo de ganho obtido pelo treinamento.

Com cargas mais pesadas, a falha vem com três ou quatro repetições, trabalhando principalmente a força bruta. Caso o peso aplicado sobre o exercício seja mais moderado, esta falha pode ocorrer perto de 30 repetições, sendo mais voltada para a resistência muscular.

— Se você quer desenvolver força bruta, tem que fazer força. Para isso, você diminui o número de repetições, o que faz com que você consiga colocar mais peso, e o treinamento se designaria por esse viés. Ao contrário de buscar mais repetições, que a gente teria que fazer um treinamento mais voltado para a resistência, em um treino mais circuitado, com vários exercícios em conjunto, menos pausa... Isso são coisas que vão fazer com que você, além de ter hipertrofia, ganhe a resistência de força. São caminhos diferentes para atingir a hipertrofia muscular. Com um você desenvolve a força máxima e, no outro, a resistência — conclui Campanha.

Fontes:

João Pedro Campanha (@jpcampanha) é formado em Educação Física pela PUC-Minas e especialista em correção e reabilitação postural, hipertrofia e emagrecimento. É professor de musculação na academia Les Cinq Gym (@lescinqgym) e personal trainer.

Thayô de Oliveira Magalhães é educador físico e faixa-preta e técnico de equipes de judô e jiu-jitsu. Foi personal trainer especializado em Teste de Aptidão Física (TAF) para concursos públicos policiais. Desde 2016, é coach de crossfit e, atualmente, dá aulas na Crossbox21 (@crossbox.21).