Ana Beatriz Nogueira lembra batalha contra o câncer
29/09/2025 09h08Fonte O Globo
Ana Beatriz Nogueira convive há 16 anos com a esclerose múltipla. Como se não bastasse os desafios impostos pela doença, a atriz enfrentou um câncer maligno de pulmão em 2021. Em entrevista à jornalista Maria Fortuna, no videocast "Conversa vai, conversa vem", no ar no Youtube do GLOBO e no spotify, a atriz falou como essas experiências a colocaram frente a frente com a possibilidade da morte. E como o bom humor a ajuda a encarar os obstáculos. Leia trecho abaixo:
Você teve um câncer em 2021, depois complicações no hospital. Como saiu dessa experiência?
Olha, bilhete premiado! Peguei pneumonia bacteriana no hospital... Saí e fui fazer a novela do João Emanuel Carneiro. Era uma personagem que morria logo num incêndio. Mas queria fazer e fui cheia de cortisona mesmo, Mas eu peguei o câncer cedo por causa de fazer exame sempre. Fumante...
Parou de fumar, né
Parei... Pera, não consigo mentir... É difícil, tenho recaídas. Parei tudo, não bebo, não faço nada. Mas poxa, às vezes aquele cigarro é prazeroso, não o da compulsão. É minha Coca Cola 12 anos. Dou uma escorregadinha. Aquela que fumou durante 50 anos... Comecei a fumar acendendo cigarro pro meu pai. Antigamente não tinha essa consciência. Às vezes, a pessoa começa a beber cerveja, a criança tá bebendo cerveja e nem sabe que aquilo pode virar uma complicação. Peguei o câncer no início, e quando soube que era maligno, falei: "Poxa, batalhei tanto pra no segundo tempo ter um câncer e ir embora?". Engraçado como relativizamos. Vem o câncer. Aí descobre que é maligno, segunda queda. Quando é preciso saber se tem metástase, o maligno vira tudo bem. Você redimensiona numa velocidade. Fui comemorar depois de um PET scan que não tinha metástase. É um corredor polonês de sustos.
Em meio a essas doenças, sentiu a presença da morte? Teve medo?
Nas duas. Na EM, no início. Não era nem a morte. Era não poder exercer a minha profissão. Me parecia o fim do mundo mesmo. Era o medo do caminho. Mas a gente tem uma capacidade de redimensionar... Não penso em morte, essa é uma certeza. Inclusive, tenho a impressão que devo morrer de tijolada, um reboco que cai de um prédio... Acho mais fácil, porque o resto.... Quem tem alguma coisa, se trata e se observa muito. Quem não tem nada, não se trata e não se observa. Quando vai ver, já não dá mais tempo. É uma sorte poder se tratar, se observar e estar de olho. Não tenho medo de morrer, mas de viver mal, ficar sofrendo por aqui. Na morte, você não está mais aqui. A morte é ausência de dor. Só tem dor quem está vivo.
É lindo o bom humor que escolhe aplicar na sua vida mesmo com tantos desafios. Esse seu bom humor. O que identifica na sua criação como fundamental para ter essa característica?
Não sei de onde vem. Sou muito ligada à música, brasileira, principalmente. Comprava fitas "a estreia Ângela Maria", de Dalva Oliveira, PRK30. Meu primeiro LP foi do Caymmi, comprei na banca de jornal. Lembro do sofrimento aos 8 anos porque eu descobri que ninguém voltava do mar (risos). Quando saí da novela, fiquei muito triste, dei uma deprimida, nunca tinha saído de uma novela. Sou uma insistente profissional, até quando não é bom pra mim. Aceitar ter que sair foi o mais difícil. Ninguém imagina que o mais difícil é com você. Aí pensei, acho que estou deprimindo. Aí tem uma vozinha do lado de fora que fala "ela está péssima". Daqui a pouco, vem a música "pobre menina, não tem ninguém". É maluquice, né? Essa coisa de perde o amigo mas não perde a piada... Levantou, eu cortei. Aí falo: "Pronto, mais um chateado comigo".
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