Alice Wegmann fala sobre "Vale tudo", abuso, transtorno alimentar e superação

19/06/2025 12h29


Fonte O Globo

Imagem: Divulgação / Bruna SussekindAlice Wegmann(Imagem:Divulgação / Bruna Sussekind)Alice Wegmann

Com 18 anos de carreira, atriz fala das consequência das personagens intensas em sua vida, diz que terapia ajudou a lidar com o luto ao se despedir dos papeis e conta como se livrou da vozinha da autossabotagem: Alice Wegmann gostaria de fazer. Mas a atriz tem receio de o convite soar invasivo. Prefere jogar para o Universo o desejo de “dar uma esbarradinha” com a veterana. Vai que... Se o acaso a atendesse, perguntaria à intérprete de Solange Duprat da “Vale tudo” original sobre as gravações de 1988. Também contaria da alegria de encarnar a chérie versão 2025, na TV Globo.

O desejo por uma personagem solar, “que mostrasse mais a arcada dentária”, já vinha de tempos. Com 18 anos de uma carreira marcada por personagens intensos, Alice chegou a se sentir esgotada. Houve vezes em que precisou chorar em 90% das cenas.


O primeiro alívio veio com Raíssa, sertaneja de “Rensga Hits!”, cuja nova temporada estreia este ano, no Globoplay. Agora, a “mocinha Duprat” coroa a fase alto astral e a maturidade da atriz de 29 anos, que participou do “Conversa vai, conversa vem”, videocast do GLOBO, no ar no canal do jornal no YouTube. Confira trechos a seguir.

Poderia ser forçado, mas o bordão "chérie" caiu bem na sua boca. Isso é carisma?

Lídia Brondi, uma atriz maravilhosa que deu vida brilhantemente à Solange, tinha um carisma inacreditável, amor. Talvez eu tenha trazido mais de humor, mas aquela mulher era inacreditável, iluminava a tela. Tentei honrar o que foi feito por ela. O bordão, o jeito de se vestir e se comportar permaneceram. Ela já era uma mulher moderna, e essas coisas que não se desfizeram com o tempo.

Solange é "resistência". Expressa opiniões políticas alinhadas à esquerda. Seria e voz da autora Manuela Dias?

Nunca falamos sobre isso. Solange é a voz de muita gente, a voz de um tempo, é posicionada. Vejo jovens se posicionando como ela. Ter sido black block, o ímpeto de "o mundo não tá legal, é preciso fazer algo". É firme nas escolha e valores. Olha Odete com respeito, não chega julgando, mas quando a vê sendo preconceituosa e destratando pessoas é: "Opa, peraí, essa madame não vai se criar aqui, não. Não é porque é bilionária que vai passar por cima de todos". Esse o mundo que a Solange acredita, e ela fala isso com clareza.

Você e Humberto Carrão criaram clima para dar mais força à narrativa da novela, ao imaginário das pessoas? Não desmentiram logo o boato de namoro, né?

Humberto sempre foi discreto na vida pessoal. Eu também. Demorou para saberem que eu tinha terminado com o meu último namorado. Eu e Humberto tivemos um reencontro. Tínhamos trabalhado juntos em "A Lei do Amor". Quando nos reencontramos, mais maduros, nos reconhecemos. É legal olhar e falar: "Caramba, que pessoa legal você se tornou". É mágico. Amor genuíno. A gente não tá namorando. Existe, sim, um encantamento. Que bom que eu encontrei um parceiro que está alinhado com meus valores, meu ideal de mundo, que olha pra equipe com carinho e não só para o umbigo dele, que joga com você, que conversa sobre o futuro da novela, da TV, do cinema. A gente sonha junto, e as pessoas acabam torcendo. Agora, vamos ver se eles vão conseguir se acertar na novela. Ainda tem uma Maria de Fátima e um Renato pela frente.
Imagem: Divulgação / Leo RosarioHumberto Carrão e Alice Wegmann(Imagem:Divulgação / Leo Rosario)Humberto Carrão e Alice Wegmann

Mas é chato não poder ter amigo homem que logo dizem que está namorando. Fora que se ficar desmentindo, vira refém disso.

Tive e tenho muitos amigos homens que olho com admiração e não com desilusão ou decepção tipo, "homem é tudo igual". Carrão é esse menino legal, antenado com o mundo, que busca melhorar, faz terapia! Estou há um ano solteira. Aconteceu de sair, ficar com um cara, mas se for ficar dando satisfação sobre a minha vida toda.. Quero isso, não.

Dizem que mulheres heterossexuais estão no mapa da fome. Concorda? Tem a ver com o estaremos mais exigentes?

A gente está na miséria (risos). Vi vídeos engraçados sobre isso... Uma amiga ligando para a outra assim: "Amiga, ele faz terapia! Comprou flores pra mim"... Ah, jura? O básico. Está na hora de eles correrem atrás. Namorei muita gente legal. Um deles eu apresentei para uma amiga. Estão juntos há quatro anos. Tem essa ressignificação que podemos dar às relações amorosas quando elas terminam bem.

O que acha das análises que apontam Afonso como “tóxico” travestido de “gente boa”?

O Afonso do passado gritava muito com a Solange, a gente via mais claramente esse lugar, que hoje é um pouco mais velado, fica na sonsice. Quando a gente faz uma novela obra aberta, sabe que tudo pode acontecer. A gente lê, vê a cena sendo feita, mas quando olhamos no ar, sentimos junto com o público. A traição com a Maria de Fátima, o comportamento dele enquanto Solange estava em Madri. Olhava para o Humberto e falava: "Sai, não quero falar com você, hoje estou muito chateada". A gente brinca, assim. Defendo a minha personagem. Tem essa coisa de: "Não acredito que ele traiu ela com a Maria de Fátima?". Mas a novela também está falando sobre um casal que não se comunica direito. Vejo a minha geração assim. É um debate: "Como a gente tá se relacionando hoje em dia?"

Desde muito jovem, você tem uma profundidade enorme. Construiu sua carreira em cima de personagens densos, imersos em tramas sensíveis. Foi uma busca sua?

Acho que isso nasceu comigo. Era uma criança profunda, sensível, se sempre tive obsessão por aprender. Gosto de deixar as pessoas me ensinarem e tenho esse olhar de curiosidade para o outro. Me mudei várias vezes, isso foi me moldando. Fiz ginástica artística por oito anos. A realidade das meninas que faziam a ginástica comigo era muito diferente da minha. Eu olhava e pensava: "Por que o mundo é assim? Por que as meninas não tem dinheiro pra pagar uma passagem de ônibus para treinar". Desde criança, entendi a seriedade disso e de questionar a sociedade e o mundo do jeito que é. Essa profundidade, eu acho que vem de um incômodo, de uma vontade de mudar aquilo que não tá legal, de um comprometimento com o mundo e com a minha função.

Depois de tanto drama, vieram a Raíssa, de "Rensga Hits" e a Solange, que se aproximam muito mais da sua personalidade, com esse sorrisão iluminado, essa espontaneidade.

Raíssa chegou no momento em que virei para o Chico Accioly (do departamento artístico da GLOBO) e disse: "Estou precisando fazer uma personagem solar". No teatro, fazia comédia, me soltava. Na TV, papeis sombrios, com questões emocionais. Aquilo me consumia. Em "Órfãos da terra" teve um dia que chorei durante 30 cenas. E, aí, fui jantar com o meu namorado e cortava o peixe chorando, não conseguia fechar a torneira. Tem um lugar emocional que mexe, desestabiliza a gente. Aí, pensei: " Estou precisando fazer uma personagem que mostre mais a arcada dentária" (risos).

Até porque você teve um burnout fazendo a Maria de "Onde nascem os fortes", personagem que te exigiu física e emocionalmente, e que sofria bastante...

Ainda não tinha maturidade de distinguir o que era personagem, atriz e Alice. Era muito intensa. Ali, entendi o meu limite. Tive que ser reanimada. Meu coração bateu a 31 e fui parar numa UPA. Estava numa cena de ação e comecei a passar mal. Passar mal. Falei: "Tem algo estranho acontecendo, não tô com força". Eu tremia, não conseguia falar direito. Fiquei deitada no chão, veio uma ambulância, tomei duas doses de atropina porque uma não adiantou, e tive uma reação alérgica, minha pupila ficou dilatada, não conseguia respirar direito. Minha mãe pegou foi me ver e o médico disse: "Tive muito medo de perder sua filha". Imagina uma mãe ouvir isso!

E depois caiu em depressão ao ter que se despedir da personagem.

Acabou a série e eu entrei pra análise. Vivi um período sombrio. Era um luto. Quando acaba uma novela, série, filme, peça está perdendo a sua melhor amiga com a qual conviveu durante meses. A história, a persona que criou não existe mais. Acabou. É um vazio. Vivi essa depressão. Não tinha vontade de sair, de me ver, de que me vissem. Tinha muita vergonha de mim. Não sabia me reconhecer mais. Estava com um cabelo que não era o meu e nem da personagem. Eu pensava: "Quem sou eu?". E mais, a vida inteira eu emendei colégio, faculdade, um trabalho no outro. Passei a maior parte do tempo fora de casa, vivendo outras vidas. E quando, finalmente, entro de férias e tenho tempo livre, não sabia o que fazer. "O que gosto de fazer?". Não sei!

E foi dar conta disso na terapia...

Foi quando eu conheci a minha analista. Ela salvou a minha vida. Porque eu saí de um buraco. Uma boa analista é aquela que te dá potência de viver, um motor para você agarrar a sua vida e fazer o que quiser dela. Mas que te faça bem. Hoje, quando vivo esses lutos, término olhe e falo: "Não quero viver o que vivi em 2018, não vou voltar para aquele lugar". Olho para esses pensamentos e penso: "Peraí, estou louca, vamos acalmar, tomar uma água, fazer uma massagem". Me ajuda muito a água, entrar no banho e deixar a agua escorrer. E, aí, eu peço proteção, me conecto com a minha espiritualidade, a minha fé. Me concentro em acender uma vela fazer a minha oração, pedir pra Deus e pros meus orixás.

Você é da umbanda, e é filha de Oxóssi...

Sou filha de Oxum, Oxóssi e Iemanjá.

De que forma a espiritualidade e a religião te ajudaram no caminho do autoconhecimento? E qual a importância de se reiterar o pertencimento a uma religião de matriz africana?

Nunca fui de ter preconceitos com religiões no geral, filosofias. Espiritualidade nunca me deu medo, sempre me deu curiosidade. Desde pequena tenho interesse. Já fui em centro de budista, espírita, umbanda, candomblé. Acho que a fé é também motor da vida. É o que leva a gente pra frente. Acredito muito na energia das coisas. Em fazer o bem. Comecei a olhar um pouco mais para os orixás depois de um tempo. Fui educada num colégio católico. Hoje, eu rezo para Santa Teresinha, Deus, Maria, Jesus, Oxóssi, Oxum, Iemanjá. Eu tenho essa fé expansiva. E zero preconceituosa.

Acabou de sair uma pesquisa do IBGE dizendo que a adesão às religiões de matriz africana têm aumentado muito. Isso em meio, a gente sabe, muitos ataques. A intolerância religiosa é gigante...

Vou pedir respeito sempre. O Brasil é um país muito diverso, e a gente tem que olhar pra isso com felicidade e respeito. Não adianta a gente querer enquadrar todo mundo num lugar só. Que todas as pessoas acreditem num mesmo Deus, numa mesma energia. Então, é só respeito, é você olhar e falar: "Tudo bem, ele pratica essa religião e tá tudo certo, vou seguir minha vida".
Por que tacar fogo num terreiro, gente? É inacreditável. Então, vou reafirmar a minha fé, a minha crença. Não desejo mal de ninguém, nunca pedi pelo mal de ninguém? Peço para a minha proteção, para que coisas boas cheguem pra mim, para os meus amigos, minha família.

Você foi atleta profissional. Para além dos benefícios do esporte, sabemos que esse ambiente pode ser muito cruel para crianças, uma cobrança no grau máximo. Teve que lidar com essa auto cobrança depois, uma autos sabotagem, uma síndrome de impostora que, às vezes, a gente se coloca?

Totalmente. Essa coisa da auto cobrança de você querer se superar. Na minha época tinha um modo de se treinar, de se educar que era muito cruel.

Abusivo, né?

Abusivo. Era todo um sistema. Não culpo um professor, um técnico específico. A gente vivia isso porque era o aceitável, permitido. Éramos meninas. Estávamos com 7, 8 anos e me lembro de gritarem muito comigo. Me chamarem de incompetente quando aos 6 anos. É. Era uma pressão, e você se sente um lixo.

Reverberou para outros aspectos da sua vida?

Carreguei isso durante muito tempo. Com análise e maturidade, vai dando uma assentada. Um pouco na energia de "peraí, o que é meu e o que é do outro", entendeu?

Em 2022, quando estreou o “Rensga hits”, você me disse: “Maria, fiquei com medo do sucesso”. Isso é um pouco auto sabotagem, não?

Acho que é, tenho certeza. É que a gente sabe que é trabalho tão de formiguinha, de todo dia que qualquer escorregada.. A linha é muito tênue. Então, tem que trabalhar para aquilo funcionar, acontecer. E aí, quando finalmente o sucesso vem, é assustador. Porque pode ser muito ilusório, achar que o jogo está ganho, "ah, eu fiz essa personagem, bombei e aí acabou, não preciso fazer mais nada na vida". Não é assim.

O que mantém seus pés no chão.

Minha educação. Meus pais tiveram uma humildade de se olhar, não se achar a última bolacha do pacote. De levar a vida generosos com os amigos, com as pessoas próximas. A educação por parte da minha faculdade, colégio. Quando estava num momento em que podia me deslumbrar com a minha carreira...

Aos 16 anos, entrei para a faculdade e tinha acabado de fazer protagonista de "Malhação". Aquele momento em que todo mundo te oferece tudo, te promete mundos e fundos, e que sua carreira pode ou não continuar e decolar. Mas, aí, eu estava numa sala de aula. Com professores e vários outros alunos que vieram de Angra, de Friburgo, do Acre. De lugares que eu nunca tinha conhecido. e tinha uma uma cultura diferente da minha. Eu olhava para aquilo todos os dias. Enquanto estava trabalhando, falava: "Gente, o mundo é imenso e não essa minha bolha da Zona Sul onde eu cresci".

É difícil alguma mulher que não tenha sofrido abuso sexual de alguma ordem. E você já revelou ter vivido uma situação dessas. Que consequências a violência sexual que já revelou ter sofrido teve na sua vida?

É difícil quando a gente se dá conta disso. Eu demorei. A vida inteira tive dificuldade de falar. Quando, finalmente, consegui compartilhar, entendi que não estava sozinha, que não era a única. E isso alivia. É uma dor que você nunca vai curar, mas vai aprender a lidar com ela, vai olhar para isso com outra perspectiva. Antes, eu sentia muita culpa. Desenvolvi transtorno alimentar durante 10 anos. Aliás, não dá para dizer que me livrei, é que nem alcoolismo: é dependência química mesmo, que pode te acompanhar a vida inteira, fica no inconsciente. Há mais de três anos, não tenho. Mas o abuso me acarretou coisas físicas no meu corpo. Comia para cria essa camada de proteção.

Para preencher um vazio...

É. E veio também de um lugar... Eu estava muito em evidência, o Brasil inteiro via uma adolescente de 15 anos e opinava. "Tá gorda", "tá magra". Tudo isso interfere na nossa forma de se olhar. Em relação ao abuso, pude fazer a Carolina, na série "Justiça 2", que vivia um abuso intrafamiliar do tio. Era o personagem do Murilo Benício, que foi grande parceiro. Apesar de ser uma história pesada, a gente conseguia dar risada junto no intervalo. Eu me sentia segura, acolhida. Recebia mais de 20 mensagens diariamente de mulheres e homens contando casos pessoais sobre os quais nunca tinham falado e que a série os ajudou a enxergar. Falar e buscar ajuda te dá uma estrutura. A série veio num lugar de cura para mim.

Mas deve ter despertado gatilhos...

Sim. Tinha dias que o meu corpo doía inteiro, eu ficava mal. Fico até emocionada de contar (os olhos se Alice se enchem de lágrimas). Foi um trabalho que mudou minha vida, em que vivi esse processo de entendimento e de cura, de olhar para aquilo e saber que aquela história da Carolina também tinha sido um pouco a minha. Não no lugar do tio... Mas que vivi isso de alguma forma e muitas outras mulheres também. E aí existe o lugar de entender o poder genuíno da arte como cura. O teatro, o audiovisual me salvaram. Não sei o que seria da minha vida sem isso sem uma personagem como essa. Sem as séries, os livros que eu li. A arte muda os nossos mundos mesmo. E um tema como esse precisa ser colocado, falado. Ter esse espaço foi um presente.

O abuso teve impacto na sua vida sexual?

Totalmente. Fui redescobrir meus prazeres depois de longo tempo. Muitas vezes, você liga o sexo à culpa. Não se permite viver o prazer por conta disso. O que eu faço de roubarem o seu desejo, seu poder com o próprio corpo é isso, ser dona dele. Porque alguém te tirou esse poder. É o que acontece com nós mulheres. Todos os dias alguém nos tira esse poder. De a gente escolher o que fazer com o próprio corpo. É num lugar de sentir culpa por sentir prazer. Na alimentação, eu sentia culpa por sentir prazer. Comia mais do que deveria porque meu inconsciente pedia por aquilo. E depois me sentia culpada. Tá tudo interligado.

O que foi fundamental para você virar a chave, aprender a gostar de você?

Não estou 100% satisfeita, mas é um alívio. Viria para essa entrevista com milhões de preocupações. "Ai, meu rosto está assim, meu corpo tá assado". Viria com tanta insegurança que não conseguiria relaxar, me divertir com você. Eu era essa pessoa, dura, tinha medo. Me sinto muito mais feliz. Pelo lugar que conquistei com meu trabalho, dedicação. Tem contradições, mas usei a internet como ferramenta. Vivi uma fase em que as pessoas falavam muito de aceitação nas redes sociais, a coisa da libertação dos corpos. Hoje, acho que há de novo uma opressão, voltamos uns passos atrás. Mas tem um lugar de olhar outras a beleza de outras mulheres e falar: "Cara, tá tudo bem".

Fiquei muito tempo sem ir à praia. Quando voltei, olhava para outros corpos e falava: "Gente, porque me escondi tanto, que ideia de jerico eu tinha na cabeça para não querer colocar um biquíni?". Quando você muda a cabeça e chega num lugar de maturidade, olha pra trás e fala: "Eu era muito boba". Deixei de aproveitar muita coisa.

Digo isso com 29 anos, tenho uma vida pela frente. Mas imagino quantas mulheres não ficaram aprisionadas a vida toda. Poder reverberar a questão da aceitação... E, pra mim, ainda é fácil falar, sou uma mulher branca, padrão. Mas sofri tom todas essas coisas no passado. E ainda sofro com milhões de influências. Mas a gente precisa se olhar com mais carinho. E parar de falar do corpo da amiguinha! Coisa chata! 2025, gente! Vamos falar de conquistar outras coisas, de trabalho, causas sociais.

As mulheres estão mais livres sexualmente? Como é, hoje, a questão do desejo para você?

Essa geração está sabendo fazer mais isso, e as mais velhas sabendo dizer do que gostam. Se querem usar vibradores, onde está a fantasia, o fetiche delas. Vejo a gente conseguindo ter essas experiências orgásticas com mais facilidade, apesar de ainda ter dificuldade. Hoje é mais falado, normalizado. E vamos desconstruindo ideias, nos permitindo ter mais prazer.

Se investiga com liberdade?

Sim. Totalmente. Tenho as minhas travas, limites, inseguranças. Mas me sinto mais segura, entendo mais o que eu gosto. O sexo não está mais ligado a um lugar de culpa como estava antes.

O comentário daquele vídeo seu dançando com o Carrão e o Lucas Leto foi "o verdadeiro significado de tanto faz". Como é para alguém que teve problemas com corpo e imagem se ver desejada? Mexe com a vaidade?

Sempre fui atrás das pessoas que quis. Mesmo quando não estava tão feliz com o meu corpo, tentava me abrir para o outro, me relacionar, chegava junto. Dava uma bisoiada, jogava meu charme, e a coisa rolava. Não sempre, óbvio, já tomei muito toco nessa vida (risos).

Mentira!

Verdade. Mas sempre consegui demonstrar o desejo quando me sentia desejante. Mas tinha mais dúvida se era desejada também, ficava insegura. Hoje, se não estou desejada, está tudo bem. Vou tentar desviar, direcionar o desejo para outro lugar. Normal, tomar toco, tá tudo certo.
Você falou em redes sociais, que é um lugar que usa com sabedoria. Se serve dele, sem se expor demais. E também um canal em que desabafa, como quando criticou o fato de não bastar ser bom na profissão, é preciso ter muitos seguidores...

Essa coisa de ter que ter números para poder trabalhar. Como se os seus anos de formação, estudos e cursos não fossem suficientes se não tiver mais de um milhão de seguidores. Quanto seguidores precisa ter para se considerar um bom ator? Isso sempre me incomodou. E não só na minha profissão. Se você indica um médico, o cara está lá com 80 anos de profissão, milhões de congresso, mas se não tem Instagram, não deve ser bom? Acho um absurdo! É bom se comunicar, colocar o rosto no mundo, mostrar sua influência. Mas não pode ser uma condição para as pessoas serem aceitas nas suas profissões. Números não significam que dará dignidade a uma personagem, a uma história. Isso vai depender de você. Que medidor é esse que estamos criando. Carreira se constrói a longo prazo. E quando você é devoto da arte, do que aquilo causa nas pessoas, entende a profissão.

Temos pela frente, tem o filme inédito "Rio de sangue" e a terceira temporada de "Rensga hits". Mas já contou não depositar as fichas só na profissão de atriz. Tem vontade de dirigir, produzir as próprias coisas? Tem um livro vindo aí...

Muita vontade. Me vejo produzindo e dirigindo no futuro. Também quero muito voltar para o teatro. E tem esse livro. Já há algumas crônicas escritas, coisas soltas, que invento e situações que eu vivi. Tem muito de mim ali, que quero muito compartilhar. Sempre gostei de escrever, mas nunca tive coragem de publicar. Esse livreo tem muita influência da minha avó, que sempre gostou muito de literatura. Quero que ela leia, que esteja aqui pra prestigiar. Quero que seja nessa fase dos 30, que farei em novembro.

Vai trintar sem crise?

Imagina, crise nenhuma. Adoro fazer aniversário, viver mais anos. Quero envelhecer, viver o máximo que eu puder com saúde. Ah, tem um filme na Itália também, o primeiro filme faço em outra língua. Estou aprendendo italiano. Wagner (Moura) disse isso numa entrevista, que falar pai e mãe em outra língua é muito diferente. É desafiador, tem um lugar de desconforto que eu quero experimentar.

Tópicos: atriz, personagem, alice