Jogador sofre choque no rosto, sangra nariz e espera socorro no sol

03/07/2015 14h34


Fonte Globoesporte.com

Uma ambulância foi o pivô de uma confusão durante a partida entre River-PI e Racing, pela terceira rodada do Campeonato Piauiense sub-19, atalho para a Copa São Paulo de 2016. Sem a ilustre presença do socorro em campo, o volante João Paulo, do River-PI, passou maus bocados após supostamente fraturar o nariz. Um lance infeliz que culminou em outro. Em disputa de uma bola aérea, o jogador tricolor acabou levando a pior.

No estádio Albertão, em Teresina, não havia ambulância, nem profissionais de saúde para fazerem os primeiros socorros. Até o chamado da ambulância para socorrer o atleta demorou. Conduzido ao Hospital de Urgências da capital piauiense, o jovem jogador retornou ao estádio local da partida ainda com o nariz inchado.

Imagem: Emanuele MadeiraSem ambulância, time improvisa curativo antes de levar volante ao hospital (Foto:Sem ambulância, time improvisa curativo antes de levar volante ao hospital.(Imagem:Emanuele Madeira)Sem ambulância, time improvisa curativo antes de levar volante ao hospital.

Um lance infeliz? Talvez, mas não inédito. Resguardado pelo estatuto do torcedor, a Federação de Futebol do Piauí (FFP) afirmou através de Daniel Araújo, diretor de futebol amador, que a ambulância em torneios da base não é obrigatória. Apesar de pedir para que não seja procurado um culpado, o diretor da entidade afirma que são os clubes, que possuem contratos com os atletas, quem devem zelar pelos seus jogadores.

- O futebol profissional tem a lei 10.671 que é o Estatuto do Torcedor, não é do jogador. A responsabilidade do jogador é do clube que tem de ter os profissionais de medicina e fisioterapia. No incidente de hoje, e que é rotineiro acontecer no futebol, a ambulância não estava presente pelo fato da lei cobrir apenas o futebol profissional e a obrigatoriedade de ter a ambulância é somente mediante o ingresso cobrado ao torcedor. Essa ambulância vai dar cobertura ao torcedor numa eventualidade de algum acontecimento mais grave – justificou Daniel Araújo.

Enquanto isso, João Paulo até tentou não se envolver na discussão, mas durante todo o momento, desde que saiu do gramado, até a chegada da ambulância, foram decorridos mais de 20 minutos. O atendimento ao jogador foi displicente ao ponto dele esperar o socorro no sol, do lado de fora do estádio.

- Além de eu estar sentindo muita dor, quem me acompanhou não era sequer um dos dirigentes. Ou seja, era para ter pelo menos uma ambulância para ter um atendimento melhor aos atletas. A diretoria vai tomar as providências, vão me levar a uma clinica particular para colocar meu nariz no lugar – contou o jogador ao final da partida, mais de duas horas após o lance no gramado.

Na Copa Piauí de Futebol Feminino de 2014, foi apresentada a mesma justificativa em um lance semelhante. Os próprios clubes tiveram de improvisar formas de socorrer as atletas. No caso de João Paulo, a ambulância só chegou porque foi pedida por um dos profissionais do marketing do Piauí Esporte Clube.

Sem cobrar ingressos dos jogos amadores, Daniel Araújo afirmou que a FFP faz uma cortesia aos clubes ao bancar uma ambulância no gramado nas semifinais e finais desses campeonatos não profissionais. Pelo Estatuto do Torcedor a proporção é de uma ambulância para cada 10 mil pessoas.

O técnico do River-PI, Péricles Veloso, afirmou que existe o profissional médico que acompanha o grupo a cada jogo, mas que por infelicidade, justo nessa quinta, o profissional estava de plantão.

- Infelizmente é o nosso futebol, temos de amadurecer muito nesse sentido. Nós temos o médico e o fisioterapeuta, mas infelizmente aconteceram alguns incidentes e eles também têm suas vidas particulares e profissionais. As pessoas que trabalham no nosso futebol são voluntárias e a própria equipe também não tem como pagar um profissional médico. Aconteceu um choque e o profissional não pode comparecer – afirmou Péricles Veloso.

O acontecimento gera uma reflexão sobre a organização dos campeonatos de base no Piauí e a forma como os jogadores, que são a esperança de um futuro para a modalidade no estado, são vistos. Clubes e a entidade organizadora do evento tem dois dias até a próxima rodada do campeonato piauiense sub-19, que acontece nesse fim de semana em locais bem mais distantes do hospital de urgência. E a expectativa é que, após o susto, ninguém mais torça o nariz para a necessidade da ambulância para o futuro do futebol no Piauí.

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Tópicos: jogador, futebol, médico