Operação Inventário: neto de juíza é suspeito de acelerar andamento de processos para fraude no PI

27/05/2021 15h18


Fonte G1 PI

Imagem: Divulgação/PC-PIImóveis de luxo da organização criminosa da Operação Inventário.(Imagem:Divulgação/PC-PI)Imóveis de luxo da organização criminosa da Operação Inventário.

A Polícia Civil do Piauí (PC-PI) deu detalhes sobre a Operação Inventário durante coletiva na manhã desta quinta-feira (27), em Teresina. Um dos investigados, Diego Miranda, neto da juíza Maria da Paz e Silva Miranda, é suspeito de acelerar o andamento de processos para o esquema de fraude.

Os delegados Matheus Zannatta, Anchieta Nery e Yan Brayner, informaram, que Diego tinha acesso à senha da avó no sistema do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI) e teria recebido quase R$ 30 mil do grupo criminoso.

A investigação iniciou em 2020 quando a Polícia Civil foi notificada pela própria juíza Maria da Paz, da Comarca de Demerval Lobão, sobre uma possível fraude em um processo protocolado na comarca, para alcançar o patrimônio de um homem falecido no Paraná, identificado como Bruno Guilherme Muller.

Ele faleceu em 8 de julho de 2015, quando tinha 89 anos. Só que o nome e os dados de Bruno Guilherme apareceram em uma ação de execução de dívida no Piauí, em 2019. Foi a família da vítima que denunciou o caso para a juíza.
Imagem: Aline Moreira/TV ClubeDelegados Anchieta Nery, Matheus Zannatta e Yan Brayner.(Imagem:Aline Moreira/TV Clube)Delegados Anchieta Nery, Matheus Zannatta e Yan Brayner.

Maria da Paz repassou o caso para a polícia que, durante a investigação, descobriu que o neto dela estaria envolvido no esquema. Diego trabalhava na mesma comarca que a avó em Demerval Lobão.

“A juíza recebeu uma petição de Curitiba informando sobre esse caso do Bruno e essa ação de execução de dívida. Depois dessa petição é que ela acionou a polícia. Durante a investigação descobrimos que o neto dela estava envolvido e, depois disso, ela se declarou impedida de atuar nesse processo”, explicou o delegado Matheus Zanatta.

Ainda durante a investigação, os policiais ainda descobriram um despacho emitido no dia 18 de setembro de 2019, com o nome da juíza, que atuando como substituta, na Comarca de São Pedro do Piauí, afirmou que Bruno Guilherme compareceu pessoalmente no gabinete e que na ocasião ele foi intimado.

Segundo a polícia, com a descoberta do despacho, informando que o falecido Bruno Muller havia comparecido pessoalmente na comarca e dando andamento na ação de execução de dívida, a Corregedoria do TJ-PI deve apurar as movimentações feitas pela magistrada no processo.
Imagem: Divulgação/PC-PIDespacho emitido pela juíza Maria da Paz.(Imagem:Divulgação/PC-PI)Despacho emitido pela juíza Maria da Paz.

“Apesar de ter o despacho com o nome dela, nós não podemos investigar [a possível participação dela na organização]. Nós não temos autonomia para investigar ela, então isso vai ficar com a corregedoria”, disse o delegado.

Procurada pelo G1, a Corregedoria do TJ-PI não se manifestou sobre o caso até a publicação desta reportagem.

Golpe de 2 milhões
Imagem: Divulgação/PC-PICarros de luxo foram apreendidos na Operação Inventário.(Imagem:Divulgação/PC-PI)Carros de luxo foram apreendidos na Operação Inventário.

Outro caso que foi investigado a de um golpe envolvendo o falecido Rui Santiago Porto, que é de Curitiba, e tinha um inventário avaliado em quase R$ 2 milhões. Após a morte de Rui Santiago, o grupo criminoso teria aberto uma ação de inventário na Comarca de Demerval Lobão e mais 3 ações trabalhistas em Barra da Corda, no Maranhão, para ter acesso ao dinheiro da vítima.

Para o inventário eles usaram uma falsa herdeira. A irmã da vítima, que era a verdadeira herdeira e foi citada no inventário, contratou um advogado que descobriu que já havia uma ação para ter acesso aos bens de Rui Santiago. O grupo conseguiu retirar quase R$ 2 milhões da herança que a vítima tinha deixado.

Mais casos em que o grupo criminoso atuava estão sendo investigados pela Polícia Civil, principalmente se havia mais servidores públicos e até mesmo magistrados envolvidos.

Outros suspeitos de envolvimento
Imagem: Divulgação/PC-PIPolícia Civil divulga integrantes de organização criminosa da Operação Inventário no Piauí.(Imagem:Divulgação/PC-PI)Polícia Civil divulga integrantes de organização criminosa da Operação Inventário no Piauí.

A polícia informou que os suspeitos de liderarem as ações eram Dellano Sousa e Silva e o advogado Elano Silva. O grupo ainda tem como suspeitas de envolvimento as advogadas Elizafran Morais Amorim, Natalia Miranda de Silva e Liana Erika de Sousa.

Já Diego Miranda, neto da juíza, é suspeito de ajudar a acelerar o andamento dos processos. Também são investigados Ana Clara Vieira de Oliveira e Diego Guilherme de Oliveira Abreu. As participações dos últimos não foram detalhadas.

Na quarta-feira (26) a operação foi realizada, para cumprimento de 11 mandados de prisão, oito mandados busca e apreensão e bloqueio judicial de bens obtidos como proveito do crime.

Foram alvos da operação advogados, empresários e servidores públicos suspeitos da prática crimes de estelionato e lavagem de dinheiro.

A Polícia Civil informou que usando documentos falsos e narrando fatos inexistentes, alguns advogados ingressavam com ações usando nomes de pessoas mortas, com o objetivo de conseguir dinheiro.

A organização criminosa sempre buscava pessoas sem herdeiros ou com poucos herdeiros, segundo os delegados. Quase todos os investigados confessaram os crimes em depoimento. Foram cumpridos mandados no Piauí, em São Paulo, Paraná e na Paraíba.

Dellano Sousa morava em Ribeirão Preto, em São Paulo e, segundo a polícia, tinha renda incompatível com a atividade que exercia oficialmente. A Justiça determinou o sequestro de bens dos investigados, como veículos, imóveis de alto padrão, terrenos, jet skis e mais de R$ 50 mil em dinheiro.

Tópicos: grupo, caso, comarca