Torcedor em campo, Richarlison vê esperança em novos rumos da Seleção: "Era uma bagunça"

09/06/2025 09h44


Fonte ge

Sincero ou espontâneo? Difícil definir qual o melhor adjetivo que define Richarlison, mas se tem uma coisa que não há dúvidas é que o centroavante da Seleção não se priva de expor seu verdadeiro sentimento, como um legítimo torcedor. E não foi diferente no retorno após mais de um ano e meio, quando voltou a ser alvo de críticas e se abriu diante dos microfones.

Por mais que existam questionamentos, é inegável a relação visceral entre o camisa 9 e a camisa amarela. Na próxima terça, diante do Paraguai, terá a chance de completar 50 jogos. No entanto, a proximidade vai além das vezes em que foi convocado e mesmo à distância Richarlison acompanhou de perto o ciclo conturbado desde o fim da Copa de 2022.

"É difícil falar, porque não foi só o Dorival. Também passaram o Diniz, o Ramon Menezes, e sabemos a turbulência que estava a Seleção. Fora de campo estava uma bagunça. Querendo ou não, isso nos afetava dentro de campo"
Imagem: Cahê Mota / geRicharlison em entrevista exclusiva ao ge na Seleção.(Imagem:Cahê Mota / ge)Richarlison em entrevista exclusiva ao ge na Seleção.

- Sei lá, esse meio político da CBF e tudo mais, a imprensa atacava todo mundo, era uma bagunça danada, o treinador não tinha tempo para trabalhar. Creio que agora deu uma mudada, o Mister vai ter um pouco mais de tempo e é isso. Eu estava machucado, doido para estar aqui e ajudar, mas naquele momento eu não poderia fazer nada. Era muita coisa envolvida em torno de nós, jogadores. Era difícil estar disputando os jogos.

As palavras do centroavante fazem eco às críticas de Danilo e atingem diretamente a gestão do ex-presidente Ednaldo Rodrigues. Convocado pelos três treinadores do período, só não conseguiu entrar em campo com Dorival Júnior. Richarlison até chegou a ser convocado para os jogos contra Inglaterra e Espanha, mas lesionou-se, assim como no dia do anúncio da lista para Copa América - sendo substituído por Evanílson.

O retorno aconteceu pelas mãos de Carlo Ancelotti, com quem viveu suas melhores temporadas desde que chegou à Europa. Sob o comando do italiano, foram 81 jogos, 28 gols e sete assistências com a camisa do Tottenham entre 2019 e 2021. Motivos de sobra para acreditar na volta por cima.

- Minha melhor temporada foi com ele no Everton. Montamos um bom time, fazia não sei quantos anos que não ganhavam do Liverpool na casa deles e conseguimos. Foi uma experiência com muitos gols para mim. Fiquei feliz com a chegada de um cara vencedor e que tem tudo para vencer na Seleção também.
Imagem: Site oficial do EvertonCarlo Ancelotti ao lado do atacante capixaba Richarlison.(Imagem:Site oficial do Everton)Carlo Ancelotti ao lado do atacante capixaba Richarlison.

O retorno, por sua vez, foi diferente do planejado. Apesar de voltar a ser titular, Richarlison teve atuação discreta diante do Equador e não conseguiu encerrar um jejum que dura desde as oitavas de final da Copa do Mundo, contra a Coreia do Sul. Após o jogo com o Equador, o camisa 9 disse saber que "não é o preferido" e fez autocrítica em entrevista ao ge.

- Sabíamos que seria um jogo difícil, mas quando termina 0 a 0 as pessoas logo vão olhar a parte da frente. Não tivemos tantas oportunidades e foi um jogo difícil. O Brasil poucas vezes ganhou no Equador.

"O peso do empate é maior para gente e a culpa vai cair nos atacantes. Já me acostumei com isso e tento focar no próximo jogo, que vai ser melhor do que contra o Equador. Essa autocrítica sempre vem de mim para melhorar pela equipe"
Imagem: MARCOS PIN / AFPRicharlison marcado em Equador x Brasil.(Imagem:MARCOS PIN / AFP)Richarlison marcado em Equador x Brasil.

Com 20 gols em 49 jogos, Richarlison é o terceiro maior artilheiro em atividade da Seleção - atrás somente de Phillipe Coutinho, com 21, e do recordista Neymar, com 78. Terça-feira, pode ter a chance de igualar o meia do Vasco e encerrar a seca que já dura dois anos e meio.

Ainda com time indefinido, o Brasil pega o Paraguai, terça-feira, às 21h45 (de Brasília), na Neoquímica Arena, em São Paulo, pela 16ª rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2026. Em caso de vitória brasileira e também do Uruguai sobre a Venezuela, em Montevidéu, a Seleção carimbará o passaporte para o Mundial.

Confira a íntegra da entrevista

Comparação com o passado


- Também são minha referência, mas, infelizmente, não podem jogar mais. Estamos ali para honrar a camisa. Se formos campeões da Copa do Mundo, também seremos ídolos como eles, que já ganharam tudo pela Seleção. O torcedor sente falta e eu também. O que importa é estar ali trabalhando com os companheiros, todo mundo dando o melhor em campo. Amamos vestir essa camisa. É uma pressão que carregamos porque eles foram vencedores, a maioria trabalha no meio do esporte, e acabam colocando mais pressão ainda. Acontece, faz parte do futebol. Resta a nós trabalharmos forte para sermos vencedores com esta camisa também.

Estilo Ancelotti

- Acho que a amizade com os jogadores (é o diferencial). No dia a dia, se você fica de lado, ele já chega resenhando, conversando, e sempre nos ensinando também. Nos chama na salinha para conversar, na época de Everton eu já tomei muito esporro, mas é um treinador vencedor e espero que seja feliz com a camisa da Seleção.

Título com o Tottenham

- Foi muito especial. Eu lembro que no começo da temporada, depois de um empate em casa, o nosso treinador pegou os jogadores para dar uma volta pelo estádio e ver as fotos que tem lá dos caras de antigamente levantando troféu e falou: "Estão vendo? Não tem vocês aí". Vocês precisam mentalizar isso para vocês. Depois que ganhamos a Europa League, eu já fui nele e falei que agora quero uma foto no estádio também. Foi muito especial para o clube, os torcedores fizeram uma grande festa. Foi muito importante.

Também quer fotos na sede da CBF?

- Com certeza. É o que mais queremos. Tem muita coisa para evoluir ainda. Começamos pelo Equador, que foi o primeiro jogo do Mister, mas creio que agora estamos no caminho certo. O clima está mais leve. O treinador vai fazer total diferença para que nós, atletas, possamos dar a vida por essa camisa dentro de campo. Sei o peso de uma Copa do Mundo, sei o quanto é difícil. É se preparar bem para ser feliz novamente.

Lesões em 2024

- Eu fui avisado quando fui para as Olimpíadas de 2021 que aqueles jogos pesariam lá na frente. Fui avisado pelos fisioterapeutas do Everton na época e meio que arrisquei. Eu joguei a Premier League, eliminatórias, Copa América e no final de tudo as Olimpíadas. Fiquei sem férias e voltei na Premier League de novo. Os doutores falaram que o meu corpo ia sentir. Foi um risco que eu quis e deu tudo certo no final, conseguimos ganhar as Olimpíadas. Foi sofrido. Ao mesmo tempo que eu ganhei, eu perdi. Foi um momento duro, mas de aprendizado. Começo a conhecer mais o meu corpo, saber onde dá para ir e onde não dá.
Imagem: Cahê Mota / geRicharlison em entrevista exclusiva ao ge na Seleção.(Imagem:Cahê Mota / ge)Richarlison em entrevista exclusiva ao ge na Seleção.

A lesão mais difícil foi a do púbis, que eu operei. E teve a do joelho, onde fiquei um ano e meio tomando anti-inflamatório. Fui convocado para Inglaterra e Espanha, mas nem entrei nos jogos. Conversei com o Dorival para ser liberado e ele pediu para ficar para ajudar o grupo. Foi um momento complicado que serviu de aprendizado. Toda vez que eu voltei foi com mais força, graças a Deus e ao meu treinador. Se fosse outro, já tinha largado. Foram muitas lesões, eu praticamente não jogava, e ele falou que contava comigo. Parece que viu alguma coisa em mim e me utilizou na semifinal e na final da Liga Europa. Foi muito importante este processo.

Período com Dorival

- Nunca tive problema com o Dorival. Quando tive uma proposta da Arábia, ele foi o primeiro cara que eu liguei para saber o que pensava. Ele foi muito sincero ao dizer que o futebol lá não é tão visto assim. Para mim, ia ser ruim ir para lá. Deu a dizer que eu indo para lá era praticamente esquecer a Seleção, e não era isso que eu queria. Não era isso que minha família sonhou. Sempre deixei claro que a Seleção é prioridade. Primeiro, Deus e depois a Seleção. Fiz a escolha certa.

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Tópicos: copa, jogos, richarlison