Análise: atuação de gala reconecta Flamengo com a torcida e embala o time até Copa do Mundo de Clube

02/06/2025 10h11

Fonte ge

Cincum? Com placar que lembra um antigo meme da Era Jorge Jesus, o Flamengo versão Filipe Luís fez lembrar os velhos tempos e espantou a desconfiança. Quatro dias depois de ter sido vaiado contra o Deportivo Táchira no Maracanã, o Rubro-Negro foi aplaudido de pé no estádio ao golear o Fortaleza por 5 a 0 na noite do último domingo. Uma atuação de gala que valeu a liderança do Campeonato Brasileiro, reconectou o time com a torcida e embala a equipe para a inédita Copa do Mundo de Clubes da Fifa.

Desde que o árbitro apitou o início do jogo, o Fortaleza não viu a cor da bola. Só no primeiro tempo, o Flamengo teve 66% da posse, quase sempre no campo de ataque (veja no mapa de calor abaixo), e trocou mais do que o dobro de passes do adversário: 322 contra 137. O placar no intervalo era magrinho, só 1 a 0, mas já era bem mentiroso àquela altura. Além do gol de Arrascaeta, construído com uma assistência de cinema do "camisa 10 da zaga" Léo Ortiz, houve ainda mais quatro chances claras:

Aos sete minutos, Ortiz já tinha dado outro passe fura-linhas, e Bruno Henrique deixou Arrascaeta cara a cara com João Ricardo. Ele tentou driblar o goleiro e adiantou demais. Se tivesse rolado para o lado direito, Varela ficaria com o gol aberto.

Seis minutos depois, após boa jogada de Cebolinha e Alex Sandro, o lateral cruzou rasteiro para Bruno Henrique, completamente livre na área, chutar de primeira para defesa de João Ricardo.

Aos 30, Gerson enfiou um lindo lançamento para Luiz Araújo entrar sozinho cara a cara com o goleiro, mas ele se desequilibrou na hora do chute e bateu para fora.

E 10 minutos depois, Varela tabelou com Evertton Araújo, que devolvou um bolão para o lateral-direito na área. O uruguaio chegou enchendo o pé para grande defesa de João Ricardo.

Na etapa final, o Flamengo não tirou o pé, finalizou mais nove vezes, deixou de perder tantas oportunidades e humilhou o Fortaleza. Das sete chances criadas no segundo tempo, o time aproveitou quatro: uma com Evertton Araújo, duas com Luiz Araújo e outra com Michael. E o placar ainda poderia ter sido mais elástico em outros três lances:

Aos 15, em um contra-ataque iniciado por Rossi, Pedro deu ótima bola para Michael, que tocou forte demais para Gerson, que deu um pique e entrava livre no lado oposto

Oito minutos depois, Gerson recebeu ótimo lançamento de Varela, invadiu a área e rolou para Pedro chutar em cima de João Ricardo.

E aos 34, Pedro deixou Gerson na cara do gol, mas o meia não finalizou.

Gerson deu bobeira nesse lance, mas só nesse jogo ele acumulou muito crédito. Foi uma partidaça que fez tanto como segundo volante quanto como meia, passando a jogar mais adiantado após a entrada de Pulgar no lugar de Arrascaeta no segundo tempo. Incansável, o Coringa correu o jogo inteiro, deu pique desde a defesa até o ataque nos minutos finais e mostrou como é uma peça importante nesse time.

Por falar nisso, Filipe Luís rodou algumas peças na equipe titular e ganhou aquela famosa "dor de cabeça boa" que todo técnico adora. Varela jogou na vaga do Wesley e jogou demais (bem mais do que o titular vem mostrando nos últimos jogos). Danilo foi outro que passou muita segurança ao lado de Léo Ortiz e também ajudou na construção, mas ali na zaga a concorrência anda pesada com a grande fase do Léo Pereira.

Teve ainda a volta do Pulgar, a recuperação de Viña depois de nove meses... Há muito o que comemorar desse jogo. Mas a torcida não deve se iludir. O Flamengo jogou muito, isso é fato. Porém, é preciso relativizar esses 5 a 0 em cima do adversário. O Fortaleza já vinha atravessando um momento de crise e visivelmente se exauriu fisicamente no segundo tempo: o Tricolor de Aço teve um dia a menos de descanso e ainda uma viagem desgastante no caminho (o time jogou quinta-feira na Argentina pela Libertadores).

Ao todo, o Flamengo massacrou o Fortaleza com 63% de posse de bola (639 passes e 91% de precisão contra 349 e 81%); 16 finalizações a 10, e 12 chances de gols contra uma única do adversário, que aconteceu no primeiro minuto do segundo tempo. Pochettino cruzou na cabeça de Tinga, que subiu sozinho nas costas de Danilo, mas cabeceou tão mal que o lance nem entrou nos melhores momentos.

Com a derrota do Palmeiras para o Cruzeiro, o Flamengo reassumiu a liderança com 24 pontos e vai para o Mundial como o melhor time do Brasileirão. Filipe Luís disse na entrevista coletiva que "foi um primeiro semestre excelente". Ele deu uma exagerada no adjetivo porque a campanha na Libertadores foi bem claudicante, embora o Rubro-Negro tenha se classificado aos trancos e barrancos para o mata-mata. Mas fato é que ganhou tudo que já disputou e está vivo em todas as frentes.

E chegou a hora de disputar a primeira Copa do Mundo de Clubes da história. O desafio é maior do que tudo que já se viu até hoje, e Filipe Luís chegou a citar como exemplo a goleada do PSG sobre a Inter de Milão na final da Champions League: "Parecia outro esporte, simples assim". Daria até um nome de filme: Campeonato Mundial, o Desafio Agora é Outro. Os jogos que antes só eram possíveis no videogame sairão do mundo virtual para o real. Será um choque de realidade (positivo ou negativo) para todos os times brasileiros. A lembrança da derrota em um duelo equilibrado com o Liverpool em 2019 é um alento. Aos rubro-negros, é impossível fazer previsões, mas não é impossível sonhar.