#DNA Piauí: atletas do estado traçam suas identidades com o povo da terra

19/10/2013 10h02


Fonte G1 PI

Nos estádios e nos campos de várzea. Nas quadras dos grandes complexos esportivos às brincadeiras de travinha. Nas piscinas, tatames e até mesmo no luxuoso octógono dos novos gladiadores do UFC. Não tem jeito. Quando o assunto é esporte, basta fechar os olhos e confiar na certeza de uma vitória piauiense. O motivo de tamanha confiança está na identidade dos atletas da terra, simples assim. No DNA, eles carregam traços de superação. No peito e na alma ultrapassam barreiras. É assim para Sarah, Rômulo, Eduardo, Lauro, Cruz, Conceição, Helder, Massaranduba, Lucas, Carlos... Não precisa escrever os sobrenomes para saber que são campeões, com “C” maiúsculo.

Os atletas com a identidade Piauí trilham pelo mesmo caminho: o da conquista. Não se intimidam com as dificuldades e seguem em frente, na busca de suas realizações. Essa marca, que soa como um carimbo de qualidade, vem lá do fundo, da última gota da garra e superação. É um trabalho honesto, que passa por cima até mesmo das decepções. Frustrações estas do dia a dia de treinos, da falta de infraestrutura e, claro, das naturais derrotas. Os guerreiros não são imbatíveis – é difícil encontrar um – mas duros na queda.

Com uma armadura das cores da bandeira do estado, nossos atletas lutam. O verde traz a esperança de sempre persistir. O amarelo, a riqueza das medalhas. A estrela, um lugar no pódio após as batalhas. É assim para Sarah, com apenas 23 anos. Das glórias de uma medalha olímpica, a judoca piauiense relembra as responsabilidades pelo caminho. O topo do mundo do judô tem Menezes, tem Piauí.

Imagem: Agência ReutersCampeã olímpica, Sarah Menezes destaca superação e coragem dos piauienses.(Imagem: Agência Reuters)Campeã olímpica, Sarah Menezes destaca superação e coragem dos piauienses.

- Quando penso no estado, vejo a determinação do povo, a garra e, principalmente, a vontade de enfrentar os desafios. É uma superação misturada com a coragem. Acredito que com isso, podemos chegar a qualquer lugar. Eu cheguei. Em toda minha história e conquistas carrego o nome do meu estado – revela Sarah Menezes.

A concentração de Sarah se encontra na disciplina de Helder Mourão, multicampeão no jiu-jitsu. É na arte marcial que Helder, de 27 anos, natural de Amarante, cidade localizada a 150 quilômetros da capital Teresina, forma um legado na modalidade e talvez tenha a mais importante característica da alma piauiense: repassar tudo aquilo que aprendeu, ou seja, solidariedade. O projeto QG da Luta atende centenas de jovens que acreditam que o esporte pode sim transformar.

Imagem: Reprodução/ FacebookClique para ampliarHélder Mourão dá aulas no projeto social QG da Luta.(Imagem:Reprodução/ Facebook)Hélder Mourão dá aulas no projeto social QG da Luta.

- Muita gente reclama da vida achando que sempre o seu problema é maior do que os dos outros. Esquecem que são capazes de se superarem a cada dia, porque não acreditam em si mesmo e nem nos próprios sonhos. Quando estou lutando, penso em tudo que passei para estar ali. Penso nas dificuldades que foi o treinamento diário. Penso em Deus e agradeço sempre pela oportunidade de estar pisando mais uma vez no tatame fazendo o que eu amo – descreve Helder, que agradece:

- No meu estado tiro de o meu professor, Luiz Oliveira Júnior. O homem que criou um projeto social sem apoio e hoje é um celeiro de campeões. Mostrando que quando o trabalho é feito com amor os bons frutos serão sempre colhidos – completa o lutador.

Amor. É uma palavra difícil de explicar. Quatro letras e um sentimento do tamanho... (não tem como medir, entendeu?) E se pegar o amor, misturar com a força e dá uma pitada de humildade e carisma. O resultado, com certeza, seria Massaranduba. Aos 35 anos, o lutador começou a trabalhar aos oito como cortador de cana na roça. Antes do estrelato no UFC – organização que administra os maiores eventos de MMA do mundo – passou pela construção civil e fez bicos de segurança.

- Dei a volta por cima. Faço com carinho, amor e não tem como não gostar – resume o autêntico Massa, com risos.

Imagem: Renan Morais/GLOBOESPORTE.COMClique para ampliarLucas Bacelar, ao lado do pai: missão de fazer mais do que o 'Pelé do Nordeste'.(Imagem:Renan Morais/GLOBOESPORTE.COM)Lucas Bacelar, ao lado do pai: missão de fazer mais do que o 'Pelé do Nordeste'.

Família e os dribles de superação


Paixão que está no sangue dos brasileiros, o futebol abre espaço para a combinação perfeita entre a técnica e a criatividade. Encantadora de milhões, a bola está pronta para uma bela jogada e um toque para o fundo das redes. No Piauí, o grito de gol ainda é meio tímido diante das dificuldades. Mas dois exemplos são a prova que aqui também tem Rei.

Um deles ainda é promessa, porém traz da família um peso. Lucas Bacelar, de apenas 18 anos, é filho de Sima, nada mais nada menos que o “Pelé do Nordeste”, artilheiro do Campeonato Piauiense por dez vezes e maior goleador do eixo Norte/Nordeste/Centro-Oeste, com 890 gols (nas suas contas) em pouco mais de duas décadas de carreira.

Trilhar os caminhos do pai é uma responsabilidade difícil, puxada. Mas como todo bom piauiense, Lucas – que atualmente joga no Brasilis, em São Paulo – segue à risca os conselhos e, claro tem uma missão: fazer algo diferente.

- Tenho muita fibra e vontade. Quando disputo uma partida de futebol penso na minha família, fonte da minha força e disciplina. São meus exemplos. Amo meu estado, mas fica uma critica: se tivesse um futebol bom, não sairia dele – revela Lucas “Sima”.

Quem apostou, confiou e ocupa um lugar de destaque no futebol é Rômulo. Com apenas 23 anos, o volante tem uma trajetória brilhante, como o imponente sol do Piauí. Do interior do estado, de Picos – cidade a 306 km de Teresina – o jogador passou pelo Vasco, alcançou a Seleção Brasileira, participou das Olimpíadas de Londres e integra o Spartak Moscou, da Rússia.

Uma lesão no ligamento do joelho direito, em setembro do ano passado, interrompeu a fase do jogador. Mas, segundo Rômulo, por pouco tempo. É na queda que o piauiense busca motivos para levantar, recomeçar e acreditar na fé. Desistir, jamais.

- Nesta fase de recuperação, tenho apenas fé que vai dar certo. Estou fazendo tudo que foi pedido e agora é esperar para voltar a jogar normalmente. Do Piauí, tiro o exemplo de superação do nosso povo. Não estamos perto dos grandes centros do país, mas tem muita coisa boa por aqui. A própria Sarah Menezes, que conheci no aeroporto, antes de embarcar para as Olimpíadas é um exemplo de dedicação e vitória. É muito difícil ser um campeão olímpico, principalmente se a gente for comparar com as estruturas e apoio dos grandes países. Ainda mais no Brasil, que o esporte olímpico é pouco lembrado e valorizado – destaca Rômulo.

Imagem: Divulgação/CBFRômulo ao lado de Neymar, Lucas e David Luiz durante jogo da Seleção Brasileira. Piauiense destaca superação do povo para se recuperar da lesão no joelho.(Imagem:Divulgação/CBF)Rômulo ao lado de Neymar, Lucas e David Luiz durante jogo da Seleção Brasileira. Piauiense destaca superação do povo para se recuperar da lesão no joelho.

Coletividade: a inspiração para as batalhas

É de um esporte de intenso contato físico que vem um exemplo de união, grupo. Carlos Marvel, de 29 anos, dedicou oito deles para o rúgbi, modalidade que ganha cada vez mais adeptos, ou seria melhor, “guerreiros”. No lugar do gol, principal objetivo do rúgbi é chegar à linha de fundo. Mas para isso, é preciso ultrapassar os adversários. Uma analogia da realidade do povo piauiense.

- O suor de todos os atletas dentro de campo lutando comigo pelo mesmo ideal é gratificante, pois além da vitória é representar bem nosso estado, esse é o sacrífico. Como sou capitão da minha equipe, tento ser exemplo. Ou seja, o primeiro a correr, derrubar, correr atrás da vitória e ser o último, ou às vezes nem isso, a desistir. Sem falar que lutamos o máximo para orgulhar o estado. Todos esperam bons resultados nosso. Isso é uma das maiores glórias, pois defendemos a bandeira do meu estado – comenta Carlos Marvel.

Quebrar recordes. Essa é a missão para Lucas Alves, do badminton, e Vinícius Gabriel, da natação. Com a raquete, Lucas passa por um período de testes na Indonésia e sonha com uma vaga nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Nas piscinas piauienses, Vinícius, de apenas 15 anos, se torna destaque no Norte-Nordeste. Natural da cidade maravilhosa, o nadador vive em Teresina desde os sete anos. Em modalidades diferentes, desejos comuns.

- É daqui que saem minhas energias para as vitórias, com um trabalho duro – diz Vinícius.

- Minha maior motivação é levantar todos os dias para cada treino, dá meu melhor para as competições – completa Lucas.

Imagem: Divulgação / Find YourselfConceição Oliveira, segunda colocada no ranking Corrida de Rua, coragem e orgulho de ser piauiense.(Imagem:Divulgação / Find Yourself)Conceição Oliveira, segunda colocada no ranking Corrida de Rua, coragem e orgulho de ser piauiense.

Guerreiras de tênis e boné, cadê a armadura?


A alegria, os risos e as brincadeiras do piauiense estão concentrados em duas de nossas atletas: Cruz Nonata e Conceição Oliveira. Não importa o momento. Uma foto, uma competição, uma simples conversa. Ele está lá, no rosto das duas: o sorriso de “orelha a orelha”. Das ruas de Teresina, Cruz se tornou tricampeã no Troféu Brasil, medalhista no Pan-Americano de Guadalajara, no México, e faz parte da elite do atletismo do Brasil. Buscar o melhor é a sua fonte de conquistas.

Conceição Oliveira busca na raça. De Campo Maior, a piauiense teve que conviver com o abandono do pai aos cinco anos de idade. Aos 12, perdeu a mãe vítima de leucemia. Nas viradas da vida, começou a trabalhar e cuidar da irmã mais nova, até quando decidiu mudar-se para São Paulo, onde conheceu as corridas de rua, suas paixões.

- Minha vida sempre foi de muita luta e desafios, mas sou grata. A vida me deu oportunidades e aproveitei todas, não deixando passar nada. Por isso, tive que amadurecer cedo devido às circunstâncias. Penso que todo trabalho bem feito, treinado e concluído, além do sofrimento ao mesmo tempo, se remete uma sensação de prazer. Por incrível que pareça, mas a palavra que não sai da cabeça no ponto de partida de cada prova é vou conseguir. Somos arretados e especiais – afirma Conceição.

As palavras de Conceição resumem a coragem e o orgulho de ser piauiense. Um povo que transforma o pouco em muito. Os medos, em vontade de vencer. As tristezas, em alegrias... Gente única.

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