Zezé Motta: "Se existe reencarnação pode me mandar negra de novo"

17/04/2021 15h01


Fonte G1

Imagem: Chico CerchiaroZezé Motta: Zezé Motta: "Se existe reencarnação pode me mandar negra de novo"

Entrevistar Zezé Motta é uma delícia. Não só porque a atriz tem histórias de sobra para contar, mas porque, aos 76 anos, é uma mulher bem-resolvida, confortável na própria pele e com quem se tornou. As respostas vêm muitas vezes às gargalhadas, e mesmo quando as lembranças são ruins e a voz embarga, ela continua. Zezé segue em frente, sempre, e promete que não vai parar tão cedo. “Eu me sinto realmente realizada. Agradeço a Deus todos os dias. Me sinto bem com quem eu sou”, diz.

Zezé conversou com Quem em duas etapas: na sessão de fotos no Parque Lage (feito com todo protocolo de segurança), cercada pelo verde aos pés do Corcovado, e em seu apartamento no Leme, o mesmo onde morou Clarice Lispector. Ali, entre um cafezinho e outro – que ela prefere tomar em copo de boteco -, Zezé lembrou a infância passada em um colégio interno, as primeiras experiências como atriz, a censura na ditadura, os muitos amores e as tentativas de ser mãe. Desejo esse que realizou criando quatro filhos adotivos, a empresária Luciana, a produtora cultural Carla, a cabeleireira Cíntia e o administrador Robson.

Também falou sobre o racismo que fez com que fosse presa, de propósito, dentro de um elevador social por se recusar a entrar no de serviço. O mesmo racismo que a levou acreditar que era feia, de tanto ouvir que tinha “nariz chato, bunda grande, cabelo ruim”. “Se alguém te diz que você é feio e você acredita, você sempre se sente feio”, explica. Precisou ir a Nova York, no auge do movimento Black is Beautiful, para se livrar da prisão imposta pela peruca chanel que usava, entender que tinha o direito de usar o cabelo como queria e começar a discutir o assunto, que em sua casa não existia. “Na minha família não se discutia questões sobre o preto”, lembra ela, que descobriu a negritude e foi ter aulas para se aprofundar no tema.

Ativista e primeira negra símbolo sexual empoderada: em 1976, Zezé ganhou fama mundial com Xica da Silva, conquistou o imaginário masculino e feminino, e serviu como exemplo possível para atrizes negras que vieram depois. Com a fama de Xica veio o fardo de não decepcionar o parceiro na cama, que carregou por um bom tempo. “Ficava tão preocupada com minha performance que eu esquecia do meu prazer. Já fingi várias vezes, com certeza me arrependi de vários relacionamentos”, assume ela, que tem namorado, faz reposição hormonal e continua ativa. “A minha vida sexual é muito importante. Pendurar as chuteiras jamais”, avisa.

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