Coluna da Cleo: artista entrevista Paris Hilton em sua estreia na Vogue Brasil

16/11/2020 09h55


Fonte Vogue

Imagem: DivulgaçãoCleo estreia na Vogue Brasil.(Imagem:Divulgação)Cleo estreia na Vogue Brasil.

Durante muitos meses refleti junto com o time da Vogue Brasil sobre como e com quem eu começaria essa coluna. Sobre o formato desse novo projeto, chegamos em um consenso de que a coluna traria entrevistas feitas por mim. Isso porque eu sempre acho de suma importância deixar a narrativa na voz de quem tem que narrar, ou seja, não tirar o protagonismo das pessoas.

Não são todos os assuntos em que tenho o lugar de fala e é essencial reconhecermos isso e convidar para a conversa quem realmente entende e vive. Essa troca de figurinhas tem acontecido desde o início da quarentena e agora, finalmente, está tudo pronto. Nesse meio tempo separei uma lista de pessoas que admiro e que me motivam na desconstrução diária de pensamentos e atitudes tóxicas que todos nós ainda temos que estar atentos. Mas, principalmente, quero conversar com pessoas que vão agregar tanto para mim quanto para você, que está aí do outro lado da tela lendo esse texto e que irá assistir a entrevista.

Aqui, teremos um espaço para conversas sérias e para conversas fiadas, também. Afinal, a gente pratica os dois no nosso dia a dia, certo?

Com isso em mente, quis trazer para a estreia uma personalidade que eu não só admiro, como me identifico em diversas situações das quais ela já passou e ainda passa. É uma estreia que fala sobre a fama, sobre o lugar da mulher imposto pela sociedade e incentivada pela mídia, sobre máscaras que criamos para nos proteger, como essas máscaras podem nos machucar emocionalmente, como usar a dor ao nosso favor, mas o mais importante: a importância de se libertar, de se reinventar, buscar o autoconhecimento e acreditar em você.

Às vezes é necessário que as críticas maldosas sobre o seu corpo ou sua imagem te despertem para a necessidade de libertação, outras vezes é "chutando a porta", mesmo com um documentário que abale o mundo.

Eu sigo Paris Hilton nas redes sociais há muito tempo e sigo há mais tempo ainda sua trajetória de vida. Quando soube do seu novo documentário fiquei muito ansiosa para assistir. Ela é uma figura icônica que influenciou a minha geração e ainda influencia. No entanto, é também uma figura que a maioria das pessoas pensava que conhecia. Então, "o que ela mostraria no documentário?", me questionei.

Ao assistir, entendi diversos assuntos que ela estava trazendo para a mesa. Consegui me ver nas inseguranças com aqueles que nos rodeiam (essas pessoas estão aqui porque gostam de mim? São realmente minhas amigas? Esse cara realmente está comigo por mim ou pelo o que será agregado a ele?); me vi nos relacionamentos abusivos; nas dores e nas delícias de nascer em uma família com um grande legado e querer ser apenas você mesma, na forma como a mídia nos vê e como, seja por um curto ou longo período de tempo, a gente também acaba se enxergando dessa forma; como é cansativo não poder investir em outras frentes sem que as pessoas duvidem de sua capacidade ou talento... A lista só cresce.

Para a minha surpresa, descobri há alguns meses que a Paris me seguia (juro, fiquei chocada!), então pensei: por que não convidá-la para a estreia da minha coluna? Quando minha equipe conseguiu entrar em contato com a dela e confirmou que ela topava fazer a entrevista, fiquei ainda mais em choque.

Em nosso papo, quis tratá-la com a mesma delicadeza que desejo que me tratem quando me pedem depoimentos ou entrevistas sobre assuntos mais sensíveis para mim. Não é sobre ganhar aplauso ou likes, mas entender que julgamentos machucam, que pessoas são mutáveis e têm o direito de mudarem se assim quiserem, têm o direito de ser quem desejam ser (respeitando, claro, sempre os que vivem opressão seus lugares de fala).

E você pode achar que essa entrevista não tem relação com você e perguntar nos comentários: "mas o que isso agrega na minha vida?" Eu te convido a olhar ao redor. Analise o seu meio, quem te rodeia, e você vai entender que essas pressões também te atingem, em maior ou menor escala.

É sobre situações que nos machucam e utilizamos como combustível para chegar onde queremos até que em um momento das nossas vidas precisamos nos libertar dessa carga e falar a respeito, criar consciência sobre situações que podem ser abusivas e que antigamente não eram consideradas como. Sendo assim, espero que essa primeira coluna te toque de alguma forma.

Tópicos: estreia, entrevista, coluna