Bruna Linzmeyer fala sobre carreira de alcance internacional
04/10/2025 09h46Fonte Glamour
Imagem: Julia Pavin
Bruna Linzmeyer

Completando 15 anos de carreira, Bruna Linzmeyer alçou um novo voo em um projeto que a levou às alturas (literalmente!). A atriz protagonizou "Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente”, minissérie de cinco episódios da HBO Max, inspirada em fatos reais e que acompanha um grupo de comissários de bordo na década de 1980, durante a epidemia da Aids, que inicia o contrabando do AZT, único medicamento disponível para conter o avanço do vírus na época.
Na trama, a artista interpreta Léa, uma comissária de bordo que vive um affair com um piloto casado e acaba engravidando. Melhor amiga do protagonista Nando (Jonny Massaro), ela entra no esquema de contrabando, não para trazer o medicamento para si mesma ou para uma família, mas porque acredita que é o certo a ser feito. Foi a força e a doçura de Bruna que chamaram a atenção do diretor Marcelo Gomes no teste para o papel. “Acabou sendo um eixo importante da construção dessa personagem, alguém que está sustentando seus medos – da morte do melhor amigo, de ter ou não um filho, do contrabando do AZT, de perder o emprego... mas, apesar de tudo isso, ela mantém a força de seguir em frente com doçura, afirmando a vida", disse à Glamour. "Algo que é muito característico e valoroso da comunidade LGBTQIAP+: a celebração, a alegria e o senso de comunidade e coletividade".
Nascida em Corupá, Santa Catarina, a artista começou sua jornada artística como atriz na televisão em 2010 e atualmente sua filmografia abrange mais de 30 projetos, incluindo filmes, séries e peças de teatro. O novo projeto conversa diretamente com o ativismo da atriz e era essencial para Thiago Pimentel, idealizador e produtor da série, assim como para o Marcelo, ter atores pertencentes à comunidade LGBTQIAP+ no elenco. “Entendo isso como um gesto simbólico, além de um reconhecimento da nossa contribuição artística a partir da experiência de sermos corpos dissidentes no mundo”.
Imagem: HBO Max
Johnny Massaro e Bruna Linzmeyer

Léa e Nando têm uma conexão muito forte. Eles são parceiros de trabalho, confidentes e a rede de apoio um do outro. Atrás das câmeras, Bruna e Johnny, que reprisaram a parceria de longa data depois de “O Filme da Minha Vida”, “Meu Pedacinho de Chão” e "A Regra do Jogo", também têm uma relação de amizade e intimidade. “Lembro durante os ensaios com Helena Varvaki, em que essa etapa de criar intimidade não foi necessária, pois ela já existia muito profundamente na gente. Já vivemos muitas e muitas histórias juntos".
Com mais de 2 milho?es de fa?s nas redes sociais, ela acredita que a presença online faz parte de seu trabalho e compartilha os bastidores do seu trabalho como atriz. Ela criou os “Realities das Personagens”, um "diário de bordo dessa jornada intensa e bonita que é a pesquisa, composição e filmagem do ponto de vista de uma atriz”. E com Léa, não foi diferente.
Mas não só isso, Bruna fortaleceu sua comunidade online registrando seu lifestyle envolvendo esportes, alimentação saudável, dicas de filmes, livros, moda e beleza, promovendo e provocando diálogo com seu público. “Preservar uma vida offline, onde o que eu estou vivendo é registrado apenas pelos meus olhos e pelo meu coração – e não por uma câmera digital, é essencial para manter a doçura com a qual me relaciono com as redes, inclusive”.
Engajada em um cinema inventivo e poético, este ano Bruna foi homenageada com o Troféu Barroco na Mostra de Tiradentes, em reconhecimento à sua contribuição ao Cinema Brasileiro. A atriz tem colaborado com cineastas emergentes como Juliana Rojas em "Cidade; Campo" (Urso de Ouro de Melhor Direção - Berlinale, 2024); Anita Rocha da Silveira em "Medusa" (Quinzena dos Realizadores Festival de Cannes, 2021); e Marcelo Caetano em "Baby" (Semana da Crítica, Festival de Cannes, 2024).
Desde 2017, Linzmeyer tem viajado com seus filmes e séries para festivais ao redor do mundo. A própria minissérie "Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente”, por exemplo, foi selecionada para o Mercado de Séries da Berlinale 2025. “Há uma internacionalização de trabalhos que participo e isso me interessa muito, onde nossas histórias brasileiras se conectam e alcançam cada vez mais gente”, contou.
"Faço filmes pra contar histórias que dialoguem com a gente enquanto gente, enquanto parte da natureza, que nos façam sonhar e chorar e elaborar essa vida tão bonita e tão complexa à qual todos pertencemos. Talvez um dia eu tenha a oportunidade de contar essas histórias em outra língua que não a minha língua materna. Mas, por enquanto, há muito o que quero fazer e com quem quero trabalhar no Brasil”.
Entre seus trabalhos inéditos ainda estão o longa “Virtuosas” de Cíntia Domit Bittar, contemplado com o “Goes to Cannes”, prêmio do Marché du Film do Festival de Cannes 2025, o curta-metragem “Sandra-Roque”, de Mayara Santana, e “My Letter to B”, primeiro longa de Helen Beltrame-Linné e que está sendo filmado na ilha de Faro, na Suécia, com Vera Holtz, Guilherme Weber e Fernanda Farah. Nessa conversa, Bruna reflete sobre como tem ampliando seu olhar como autora, roteirista e diretora, representatividade no audiovisual e como sua trajetória reflete sua curiosidade artística.
Imagem: Julia Pavin
Bruna Linzmeyer

A minissérie é inspirada em fatos reais. Como foi sua pesquisa?
Foi uma pesquisa robusta, feita a partir de alguns eixos: do HIV/AIDS, desde os anos 80 até os dias de hoje, onde conversamos com a Dra. Márcia Rachid, médica infectologista e consultora da série, referência no tratamento e acolhimento das pessoas vivendo com HIV desde aquela época. Ela nos trouxe muitas histórias, inclusive de que alguns pacientes dela estão vivos hoje em dia, porque tiveram acesso ao AZT trazido por comissários de bordo nos anos 80; vi entrevistas que a produção fez com algumas pessoas que participaram do contrabando.
Outro eixo de pesquisa foi a profissão da Léa e os anos dourados da aviação. Conversei com algumas comissárias de bordo que me trouxeram vivências maravilhosas sobre o que era esse ofício naquela época, que “antecipava as necessidades do cliente”. Além do envolvimento e disponibilidade emocional que elas tinham. Uma delas me disse, “eu fiz amizades que vou levar pra vida que duraram o tempo de um voo”. Tudo isso foi material de trabalho para entender quão apaixonada Léa poderia ser pelo seu cotidiano enquanto comissária de bordo. Depois, levei essa pesquisa para a sala de ensaio com Helena Varvaki, nossa preparadora, junto com os diretores, Marcelo e Carol Minêm.
Segundo dados do Ministério da Saúde, houve um crescimento dos casos de HIV nos últimos anos. Você acredita que a série pode conscientizar jovens a adotar medidas de prevenção?
Desejo que sim. É importante percebermos que viver com HIV hoje não é uma sentença de morte como parecia ser nos anos 80/90. Atualmente, quem vive com HIV pode ter uma expectativa de vida tão alta quanto alguém que não convive com o vírus. Isso porque o tratamento, disponibilizado pelo SUS de forma gratuita, pode levar à carga viral indetectável, e indetectável é igual a intransmissível. Dos anos 80 pra cá muita coisa mudou e avançou cientificamente quanto ao tratamento e prevenção do vírus e da doença. Mas uma coisa mudou muito pouco: o preconceito. No Brasil, ainda morrem cerca de 10 mil pessoas por ano. São mortes por medo, vergonha e preconceito.
Ainda assim, precisamos manter a consciência coletiva. Aprendemos com a COVID que a infecções virais são um problema de saúde pública e o cuidado deve ser individual e coletivo. O uso da camisinha segue sendo fundamental, pois além do HIV previne outras ISTs como sífilis e gonorreia. Especificamente em relação ao HIV, há a PREP e a PEP, profilaxias pré e pós exposição, também disponíveis pelo SUS. No caso da PREP, são comprimidos que você toma diariamente que protegem caso ocorra contato com o vírus. Já a PEP é indicada em situações de possível exposição recente, como em relações sexuais sem preservativo ou em casos de violência sexual, e deve ser iniciada o quanto antes, dentro de 2 horas e no máximo até 72 horas após a exposição.
Imagem: Julia Pavin
Bruna Linzmeyer

Você faz parte do elenco de "Baby", premiado em Cannes e que esteve entre os seis pré-selecionados pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026. Como vê esse movimento do cinema nacional?
Nosso cinema é muito poderoso e sempre se comunicou lindamente com diferentes culturas. Com “Cidade; Campo”, ganhamos o urso de ouro de melhor direção pra Juliana Rojas no ano passado [em Berlim]... Há muitos filmes que têm conquistado alcance internacional. E é mesmo especial quando um filme se espalha Brasil adentro.
Vivemos esse momento no nosso cinema agora e isso é fruto de políticas públicas, de investimento estatal. A arte não é um investimento que retorna, necessariamente, em números. O investimento em arte retorna em pertencimento, no orgulho que sentimos de perceber um filme falado na nossa língua, sobre a nossa cultura, alçando grandes voos. E é algo que se constrói ao longo de uma vida.
Ir ao cinema é como ir a um estádio de futebol: algum adulto um dia te pega pela mão, te presenteia com uma camisa, te ensina a torcer, te leva para testemunhar a emoção de um estádio cheio em final de campeonato. O cinema é assim também: um dia você vai numa excursão da escola junto com seus colegas e tem discussões sobre o filme depois, ou sua mãe e seu pai te levam. Mais tarde, você mesma começa a marcar com suas amigas esse programa na sexta à noite. Vez ou outra, você se dá de presente ir sozinha na sala escura, se emocionar com a história de uma personagem na tela.
Desde 2015, quando você assumiu ser parte da comunidade LGBTQIAP+, você se tornou uma das vozes mais ativas quando falamos de representatividade no audiovisual brasileiro. O que mudou de lá para cá e quais são os desafios que ainda persistem?
Pouca coisa mudou no audiovisual brasileiro, especialmente em se tratando de obras com alcance de grande público e/ou grandes orçamentos. Se pensarmos em roteiristas, diretoras/es, executivas/os/es com poder de decisão, junto de narrativas lésbicas e transmasculinas com protagonismo, por exemplo, menos ainda.
Onde é possível encontrar um pouco mais dessas histórias é no cinema autoral independente, principalmente de curta-metragem, feito com dinheiro público através de editais. Nessa esfera temos grandes filmes, com narrativas profundas, premiados internacionalmente e que se conectam com o público de uma maneira muito autêntica e emotiva. Tive a oportunidade de fazer parte de algumas dessas obras: “Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui” de Éri Sarmet, premiado no festival de Sundance, nos EUA; “Cidade; Campo", de Juliana Rojas, premiado na Berlinale; “Se Eu Tô Aqui é Por Mistério” de Clari Ribeiro, estreou no festival de Roterdã; e o ainda inédito “Sandra Roque” de Mayara Santana.
Como é a sua relação com a beleza hoje?
Sempre aprendi que existe uma beleza interna que sustenta a beleza exterior de alguém: a gentileza, a curiosidade pela vida, o interesse pelo outro, a alegria.
Minha atenção e cuidado relacionados inclusive à minha beleza física vêm do que sustenta e alimenta ela: dançar e cantar, me divertir com minhas amigas, me emocionar com um filme, transar, gozar e curtir cada pedacinho do meu corpo com calma e prazer.
Quais são seus rituais indispensáveis de autocuidado hoje em dia?
De maneira mais prática: boa alimentação, 8 a 9 horas de sono por dia, muita água, análise/terapia, minhas orações, exercícios físicos diários (faço natação no mar, musculação, corrida, muay thai e yoga). Esfoliação de vez em quando e cremes pra deixar a pele bem hidratada!
Tem alguma prática ou hábito que você descobriu recentemente e virou parte da sua rotina?
Acho que o hábito mais recente que realmente tomou por completo minha rotina é a natação. Eu costumo nadar no mar, no Rio de Janeiro. Mas aqui na Suécia, por exemplo, fui atrás de uma piscina pública aquecida pra nadar. Como pra nadar é preciso domínio do fluxo da respiração, acaba sendo uma meditação muito profunda pra mim. Eu relaxo, me concentro, me organizo emocionalmente e saio em estado de êxtase.
Como é a sua relação com as redes sociais hoje?
Confesso que estou num momento de certa preguiça das redes. Estou trabalhando em projetos que demandam minha atenção e poesia, e estar muito conectada às redes me esvazia. Eu gosto de fazer os realities das personagens, onde compartilho o processo de pesquisa e composição de personagem, o diálogo com o público a partir disso é superinteressante. E tenho tentado, enquanto atriz, oferecer algo mais simples, perto do coração e do cotidiano, para o meu público.
Como enxerga o papel das redes na sua carreira como artista? Elas ajudam ou atrapalham?
O que me interessa nas redes sociais enquanto artista é o diálogo com as pessoas. Falar, mas também ouvir, trocar. Responder, mas também poder perguntar. Mais especial ainda é quando o que eu compartilho online reverbera nas ruas. Dia desses, estava colocando meu neoprene pra nadar no mar às 7h da manhã e uma mulher veio falar sobre a poesia de Ana Martins Marques comigo, pois costumo postar vídeos lendo poemas dela. Pra mim, é sobre isso.
O que significa para você viver de forma autêntica?
Me parece ter a ver com as pessoas, com a arte e com a natureza. Mimar a mim mesma com um estado de presença, de calma, sem pressa e sem compromisso. Um almoço gostoso de domingo rodeado daqueles amigos com os quais eu posso relaxar; uma ida ao museu ou ao cinema; um banho de rio e um passeio no meio do mato.
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