Falta água há 9 anos em favela de Teresina

12/08/2010 09h03


Fonte Ai5Piaui

A crônica falta de água na Vila Samaritana já fez os moradores do local mudarem de hábito e agora eles passam as noites acordados e só dormem durante o dia como morcegos. A falta de líquido é tão antiga que remonta à época em que o então governador Mão Santa era vizinho da vila e quem socorria os moradores na hora de maior aflição.

Segundo os moradores, a maioria das crianças da vila é conhecida como “dorme-suja” porque a água só chega nas torneiras de madrugada quando as crianças já estão dormindo após passar todo o dia correndo, suando e ficando suja, mas na hora de dormir não tem água e muitos vão para as redes sem ter tomado um único banho durante o dia.

“As famílias aqui só pegam água por volta de duas horas da manhã e tem que ser rápido porque em poucos momentos ela desaparece”, diz a moradora Raimunda Nonata da Silva Sousa, 48 anos, que reside na rua Carnaúba. Ao contrário dos vizinhos ricos, que têm grandes caixas de água para armazenar o líquido durante até sete dias se for preciso, os moradores da Vila Samaritana têm apenas pequenos recipientes que antes do meio dia estão vazios.

Lá é comum se encontrar manilhas, tambores de gasolina, pneus transformados em bacias e até as garrafas pet como locais de armazenar a água durante algumas horas. Mas nesta época do ano que o calor está muito forte a água se acaba em poucos minutos.

O pior é que não há a quem recorrer para pegar mais água. Até sete anos atrás as famílias corriam para a casa do então Governador Francisco de Assis Moraes Souza, o “Mão Santa”, que fica localizada na avenida Zequinha Freire” e a poucos metros da favela.

“Lá o Mão Santa botava a mangueira para fora (sic) e todos podiam pegar a quantidade de água necessária”, afirma Raimunda, arrancando gargalhadas de várias amigas ao usar uma expressão dúbia. Hoje outra família mora no imóvel e não permite que as famílias da Vila Samaritana peguem o líquido.

Pelas declarações da moradora se observa que o problema já dura pelo menos nove anos, isto porque Mão Santa foi cassado pelo TSE, assumiu o Hugo Napoleão durante um ano e o estado já está encerrando o segundo mandato do governo Wellington Dias que são oito anos. Durante este período não apareceu nenhum político capaz de acabar com o problema da vila.

Algumas famílias até que poderiam se arriscar em ir mais longe a procura de água, mas temem serem atacadas pelos “malas” que vivem na região. São drogados, batedores de carteiras, lanceiros e alcoólatras que fazem qualquer coisa para conseguir alguns trocados e com isto manter o vício.

Mas, se por um lado a água só chega na calada da noite e em conta-gotas, os moradores lembram que os leituristas passam religiosamente em dia, lendo o medidor e entregando logo uma nova conta para pagar. “Eu recebi a minha agora, mas estou pensando em gastar o dinheiro comprando carne porque não vale à pena pagar por um produto que você não recebe”, finaliza a moradora.