Excesso de velocidade agrava acidentes e é infração mais cometida em Teresina

31/10/2019 14h30


Fonte Cidadeverde.com

Um condutor que dirigia rápido demais fez a vida do então auxiliar de frios, Francisco Alves dos Santos,34 anos, parar por um tempo. Era julho de 2013 quando um motorista em alta velocidade provocou um acidente que o fez ficar paraplégico.

O percurso não precisou ser extenso. Emocionado, Francisco conta que saiu da Vila da Paz, na zona Sul de Teresina, e logo ao entrar na Avenida Gil Martins sofreu o acidente. Ele estava indo buscar sua ex- companheira no trabalho.

“Eu ia entrar na Avenida Gil Martins, próximo ao estádio Albertão, e um carro vinha longe. Pensei que ele estava em baixa velocidade e dava tempo eu passar, mas ele estava fugindo de uma blitz em alta velocidade. Ele veio para me pegar em cheio. Eu não sabia o que fazer na hora e, para desviar, acabei batendo em um canteiro da avenida. Meu capacete rachou. O motorista fugiu sem prestar socorro. De lá para cá foi só sofrimento mesmo. Minha vida parou mesmo”,
conta.
Imagem: Roberta Aline/Cidadeverde.comFrancisco Alves(Imagem:Roberta Aline/Cidadeverde.com)Francisco Alves

Desde 2013 Francisco enfrenta desafios diários para recuperar os movimentos das pernas e voltar a andar. Diagnosticado com traumatismo raquimedular, há seis anos ele faz tratamento avançado no Centro Integrado de Reabilitação (CEIR) e sonha em poder retomar sua vida.

“Fui internado no Hospital Getúlio Vargas. Passei por duas cirurgias ortopédicas. Minha coluna trincou. Fraturei as vértebras T4 e T5 e fiquei paralisado da cintura para baixo. Eu tinha uma vida muito ativa, jogava bola, tinha uma rotina atividade, também era promotor de vendas, estava pensando em ser motorista de carro grande”
, lembra. Francisco afirma que sempre foi um condutor prudente e lamenta ter sido vítima da irresponsabilidade de outro motorista.

Francisco faz um pedido para que os condutores respeitem às leis e tenham consciência que atitudes erradas podem mudar de forma negativa a vida de todos que fazem parte do trânsito: motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.

Francisco, que na época do acidente tinha duas ocupações, hoje não pode trabalhar e vive apenas com a renda de auxílio doença. “A vida ficou muito difícil, mas dou graças a Deus por estar vivo. Eu gostava de sair, ir para clube. Parei minha vida mesmo. Às vezes a gente pensa que não vai acontecer nada com a gente, que é só com os outros. Nunca me imaginei nessa situação. Eu ajudava muito cadeirante na rua, nunca pensei que depois seria eu”, disse.

Excesso de velocidade é infração mais cometida

Que a pressa é inimiga da perfeição todo mundo já sabe. Agora a realidade de que a rapidez é um dos principais fatores de riscos de acidentes fatais no trânsito parece não impedir que os condutores teresinenses fiquem receosos em “correr” demais. É tanto que trafegar com velocidade acima da média permitida continua sendo a principal infração cometida em Teresina. De acordo com balanço da Superintendência Municipal de Trânsito (Strans), de janeiro e setembro deste ano 140 mil condutores foram notificados por excesso de velocidade. De janeiro a dezembro de 2018 passado foram 184 mil notificações.

A multa para quem excede a velocidade permitida no trânsito vai de R$ 130 a R$ 880,41 ou mais. Existem três tipos de notificações para os condutoresinfratores. São elas: transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20% (multa média R$ 130,16); transitar em velocidade superior à máxima permitida em mais de 20% até 50% (multa grave R$ 195,23); transitar em velocidade superior a máxima permitida em mais de 50% (multa gravíssima R$ 880,41). A gravíssima, dependendo da situação, a notificação poderá ter um agravamento de 3, 5, 7 e 10. Nesse caso multiplica o valor da gravíssima por 3, 5, 7, ou 10.

A multa é considerada alta, mas o desrespeito aos limites de velocidade em Teresina só aumenta. Ainda segundo levantamento da Strans, até o mês de agosto deste ano, transitar em até 20% na velocidade superior à máxima permitida foi a infração mais cometida por condutores na capital, representando um percentual de 44,38% do total das infrações.

Em segundo lugar no ranking das infrações está transitar na faixa ou via de trânsito exclusivo, regulamentada com circulação destinada ônibus [14,12%]. No terceiro lugar aparece estacionar em local/horário proibido especificamente pela sinalização [7,03%] e no quarto lugar mais uma vez a velocidade permitida não é respeitada. Transitar em velocidade superior à máxima permitida em mais de 20% até 50% representa 5,93% das infrações.

Publicação mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), feita em 2018, destaca que “cada aumento de 1% na velocidade média produz, por exemplo, um acréscimo de 4% no risco de acidente fatal e um aumento de 3% no risco de acidente grave. O risco de morte para pedestres atingidos frontalmente por automóveis aumenta consideravelmente (4,5 vezes de 50 km/h para 65 km/h). No choque entre carros, o risco de morte para seus ocupantes é de 85% a 65 km/h”. Quanto mais se aumenta a velocidade, mais cresce o número de acidentes graves.

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Piauí, Stênio Pires, alerta que o condutor precisa ser mais prudente e respeitar os limites de velocidade para que haja menos mortes no trânsito. “O excesso de velocidade é um fator de risco no trânsito. Orientamos à população que, ao transitar pelas rodovias, sempre obedeçam a velocidade máxima permitida. O cidadão, com certeza, estará evitando acidentes e mortes. Caso ocorra alguma situação inesperada de sofrer algum acidente, quanto maior a velocidade maior a gravidade do acidente. Isso é um questão de física. Quanto maior a velocidade, maior o deslocamento de massa”, explica.

Levi Gomes, especialista em Trânsito e ex-diretor da Escola de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PI), afirma que o condutor teresinense tem pleno conhecimento dos limites de velocidades das vias da capital, o que devia ajudar na conscientização de que respeitar as regras diminui riscos.
Imagem: Roberta Aline/Cidadeverde.comExcesso de velocidade agrava acidentes e é infração mais cometida em Teresina.(Imagem:Roberta Aline/Cidadeverde.com)

"A velocidade é um fator de risco exatamente porque está entre todas as causas mais graves de acidente. O controle do veiculo está equacionado baseado em algumas premissas. Entre elas está a forma da condução do veículo , o estado psicomotor desse condutor, as condições das vias, a sinalização. É um conjunto de medidas que são úteis e elas incidem diretamente na quantidade de acidentes de trânsito",
disse Levi. Os especialista faz palestras em várias cidades do país sobre educação no trânsito.

Para ele, o comportamento das pessoas no trânsito deve ser como o comportamento de um bom cidadão. "O condutor tem obrigação de se portar com urbanidade. Nunca deixará de ocorrer os atritos ou pelos menos as condições desses atritos. Mas eles devem ser diminuídas em função da urbanidade, da consciência cidadã", afirma.

Sobre a quantidade de multas por excesso de velocidade aplicadas a condutores em Teresina neste ano, Levi diz que o número reflete diretamente na irresponsabilidade do condutor e revela um "grave" problema".

"Essa quantidade exacerbada de notificações, de penalizações por excesso de velocidade, dá a dimensão da gravidade desse problema. Não é possível que, na última razão, não doa no bolso, no orçamento dessas pessoas. Então não é propósito que o Estado coloca sua máquina fiscalizatória nas ruas para coibir essas condutas. Não absolutamente. O que há é uma necessidade de regulamentação, de penalização, afinal nas vias há um carro que anda rápido, mas também há uma senhora que é portadora de alguma moléstia e não pode atravessar com a mesma capacidade motora de alguém que em estado normal. Então tem que haver uma convergência destes entes no transito para que ele flua melhor"
, analisa Levi.

Menor velocidade, mais segurança

Em 2017 a Strans alterou o limite de velocidade de vias onde acidentes estavam sendo registrados frequentemente. As avenidas Raul Lopes, Cajuína, Ipês, Marechal Castelo Branco e Maranhão tiveram as velocidades máximas reduzidas de 70 km/h para 60 km/h.

A Strans garante que as mudanças resultaram na diminuição significativa de acidentes nas vias. “As vias tem suas velocidades definidas a partir da geometria, hierarquia viária, volume de tráfego, de travessias de pedestres. Tivemos vários impactos positivos, onde o mais relevante foi a redução de mortes no trânsito, o que ilustra uma redução de severidade. Quem respeita os limites de velocidade primeiramente contribui com a cidadania, além de ter uma redução de riscos de acidentes”, afirma o Diretor de Trânsito e Sistema Viário da Strans, José Falcão.

A gerente de Educação no Trânsito da Strans, Samyra Motta, reforça que a velocidade agrava o acidente. Ela lembra que antes das alterações a Avenida dos Ipês era “palco” de vários acidentes. Os condutores costumavam a trafegar com muita rapidez na pista e eram vítimas, principalmente, de capotamentos.

“A gente tem feito na cidade redução de velocidade nas vias. A Avenida dos Ipês era uma avenida que todo final de semana tinha acidentes. Hoje já não acontecem tantos acidentes. Isso prova que a velocidade aumenta casos de acidente”,
destaca Samyra.

A gerente defende, ainda, que os limites de velocidade precisam ser respeitados, pois não são definidos à toa e, tampouco, foram estipulador para render multas.

“Qualquer 5 km/h acima da velocidade permitida faz diferença. Tudo é estudado. O trânsito é feito por pessoas, cada um com seu modo de ver, de agir. Tem que ter segurança tanto para quem é condutor, quanto pros pedestres, ciclistas”,
comenta.

Para conscientizar todos que fazem parte do trânsito, a gerência desenvolve projetos de educação em Teresina. Blitzen educativas, campanhas e palestras são proferidas constantemente para que o trânsito em Teresina se torne mais seguro e práticas corretas sejam multiplicadas. Entre esta ações estão Stransformando, [voltada para adultos, empresas e órgãos públicos] e a Escolinha de Trânsito para crianças. Só nos primeiros seis meses deste ano 3839 pessoas assistiram às palestras.

Samyra Motta destaca que a conscientização das crianças sobre o trânsito reflete diretamente nas ações dos pais [condutores].

“É importante os pequenos terem ensinamento básico. A gente mostra o redutor de velocidade, semáforo, vamos dando uma ideia básica do que é o transito e ali eles conseguem visualizar o que os pais fazem de errado. As crianças são futuro que a gente acha que vai ser melhor”, analisa Samyra.

Paraplégico aos 17

O jovem Antônio Sousa Filho é outra vítima do excesso de velocidade. Ele lembra que em junho de 2017 passava pela Avenida Josué de Moura Santos, no bairro Pedra Mole, zona Leste da capital, quando sofreu um acidente de moto.

Ele trafegava a 80 Km/h e conta que uma mulher que estava em uma velocidade superior "lhe trancou" e o acidente aconteceu.

"Eu colidi em outra moto. A mulher me fechou e acabei batendo na moto dela",
conta o jovem que, na época do acidente tinha apenas 17 anos. Com um futuro pela frente, Antônio sofreu graves sequelas na colisão e ficou paraplégico.

O jovem acredita que a alta velocidade pode ter agravado o acidente. "O acidente ia acontecer de qualquer jeito por conta da forma como a mulher me trancou, mas a velocidade, acho que pirou as coisas. Ainda bem que estava de capacete, senão estava morto", afirma Antônio trabalhava na área da construção civil e atualmente é desempregado.

"Eu trabalhava. Com o acidente mudou tudo na minha vida. Mas, graças a Deus e ao tratamento que faço,estou melhorando",
diz o jovem que é paciente do Centro Integrado de Reabilitação (CEIR).

Falta de dados

Embora não seja difícil encontrar vítimas da alta velocidade, dados que correlacionem o excesso com acidentes são escassos. A Delegacia de Repressão aos Crimes de Trânsito, por exemplo não possui este levantamento específico.

A Companhia de Policiamento de Trânsito (Ciptran) também não tem esta estatística, mas excesso de velocidade é um dos fatores causadores de acidentes graves com vítimas fatais. No caso destes sinistros a Polícia Científica é responsável em fazer o atendimento e realizar estas perícia.

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