Alunas de jornalismo da UFPI relatam insegurança e temem retorno à sala de aula

01/02/2023 08h25


Fonte ClubeNews

Imagem: Andrê NascimentoFlores posicionadas no local onde Janaína foi socorrida.(Imagem:Andrê Nascimento)Flores posicionadas no local onde Janaína foi socorrida.

A repercussão da morte da estudante do curso de Jornalismo, Janaína Bezerra, provocou comoção entre todas as mulheres da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que clamam por justiça e mais segurança dentro da instituição.

Ao Portal ClubeNews, algumas estudantes relataram o sentimento de revolta sobre o caso e afirmam não ter condições psicológicas de assistir aulas no momento.

A estudante Ana Gabriela Freire comenta que convive com o medo ao precisar andar sozinha pelos corredores da instituição, principalmente durante o período da noite quando reduz a circulação de pessoas.

“Não é de hoje que eu, como aluna, me sinto insegura na UFPI, principalmente com os casos de assédio e assaltos que vem ocorrendo. Agora está mais complicado com a morte de uma colega de curso. As disciplinas que eram da noite são piores porque o CCE (Centro de Ciências da Educação) ficava mais deserto e, às vezes, nós tínhamos que esperar ônibus ou carona até depois do horário”,
comenta.

A aluna está sem assistir aula e pede por mais policiamento dentro da instituição.

“Infelizmente, no momento, não tenho condições psicológicas de retornar porque ver uma violência dessas acontecendo tão próximo de você é algo que não é fácil para nenhum ser humano lidar. Então, esse lado referente à nossa segurança no campus tem que melhorar muito; ter maior número de seguranças e patrulha para que no futuro a gente possa evitar tragédias desse tipo de novo”, acrescenta.

TRISTEZA

Também aluna de Jornalismo, Anastácia Viveiros comenta que a UFPI é um lugar onde não se sente mais segura.

“Vou ter que voltar às aulas porque elas têm de acontecer, mas é sempre com medo de assalto, ou que uma pessoa armada queira fazer alguma coisa, é um lugar onde não me sinto segura”, diz.

“O caso dessa moça é revoltante, pois ela só foi a uma festa se divertir. Dois anos de pandemia, as pessoas trancadas, no momento que ela vai sair acontece uma coisa assim, é desestimulante, a vontade que tenho é de não pisar mais na UFPI. O custo psicológico de entrar em pânico a cada moto que passa, ou de ficar com medo de cada pessoa que abre a porta. O frio que dá na espinha quando se escuta alguém andando atrás de você é muito grande”, desabafa.

AULAS SUSPENSAS

Nesta terça-feira (31), a coordenação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) comunicou aos estudantes do setor que as aulas desta semana podem ou não ocorrer, conforme decisão dos professores.

Além disso, mesmo com aula, os estudantes que não se sentirem confortáveis ou estáveis emocionalmente não precisam comparecer na universidade.

Os professores da universidade já aderiram à decisão de suspender as aulas durante a semana. O corpo docente convocou os estudantes a participarem das atividades preparadas pelo Centro Acadêmico de Jornalismo para se recuperarem do abalo emocional.

APOIO PSICOLÓGICO

Nesta quarta-feira (1º), às 16h, no auditório do CCE, está marcada uma roda de conversa com o professor Thayro Carvalho, do curso de Psicologia na UFPI.

“Frente a esta tragédia, eu, enquanto professor, ser humano e profissional de psicologia, não poderia me omitir neste processo. Em articulação com a chefia e a coordenação do curso de Comunicação Social, pensamos neste momento de diálogo com os alunos e tentar, de alguma forma, dar um apoio para eles neste processo que é muito delicado, e dizer que eles podem contar conosco”, disse o professor.

OCUPAÇÃO DA REITORIA

Estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) ocuparam a reitoria da instituição, por volta das 11h30 desta terça-feira (31/01), em protesto pela morte da aluna Janaína Bezerra, estuprada dentro da instituição. Eles pedem por mais segurança na instituição para evitar novos casos de violência física e sexual no campus.

Dentre as reivindicações estão monitoramento com câmeras, aumento da equipe de segurança e que o Hospital Universitário passe a atender aos alunos em urgência e emergência. Eles também pedem a criação de uma rede de apoio para combater assédios na UFPI, a descriminalização das festas universitárias (calouradas), além de assistência social e psicológica à família de Janaína.