Carlos dá aval a novo discurso de Bolsonaro sobre vacina por reeleição
12/03/2022 10h15Fonte 180graus.com
Imagem: ReproduçãoCarlos Bolsonaro
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 e um dos principais conselheiros do presidente, deu aval à mudança de discurso de Jair Bolsonaro (PL) a respeito da vacinação contra a Covid-19.
Outrora crítico contundente da imunização, o chefe do Executivo tem moderado o tom após apelos de aliados, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo.
O entorno do presidente constatou que a rejeição a Bolsonaro tem relação direta com seus posicionamentos a respeito da vacina -cuja eficácia já está amplamente comprovada na comunidade científica.
Além disso, como disse um interlocutor de Bolsonaro, trata-se de uma questão matemática: mais de 70% da população brasileira já se vacinou.
Segundo auxiliares do presidente, levantamentos indicando o desgaste foram apresentados ao clã, inclusive a Carlos Bolsonaro, que será responsável pelas redes sociais do pai durante a campanha.
O vereador, que é considerado um dos mais inflamados no entorno do presidente, não apenas entendeu o que as pesquisas e as análises dos aliados apontavam como deu aval à correção de rumo nas declarações de Bolsonaro.
Assim como o chefe do Executivo, ele teve postura negacionista durante a pandemia da Covid-19, defendeu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada e não há relatos de que tenha se vacinado.
Já os irmãos Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) se imunizaram. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também tomou doses.
Mais recentemente, a mudança no discurso do governo e de Carlos tem sido no sentido de não questionar mais eficácia da vacina, mas ressaltar que as doses foram compradas pelo governo federal e dizer que não há obrigatoriedade.
O vereador chegou a apresentar um projeto contra o passaporte da vacina na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mas foi derrotado. O decreto do prefeito Eduardo Paes (PSD), que ele queria derrubar, prevê a comprovação de vacinação para entrada em diversos lugares, como locais turísticos.
Nas redes sociais, Carlos não criticou a vacina neste ano. Em uma publicação recente, de um vídeo de uma fala sua na Câmara Municipal, ele ataca o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ressalta que as vacinas contra a Covid-19 foram aquisição do governo federal.
"Eu gostaria de perguntar a alguns seres humanos que me antecederam [na sessão] quem foi que comprou 400 milhões de doses de vacina para o Brasil? Foi o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva ou foi o presidente Jair Bolsonaro?", disse o vereador.
"Quem foi que destinou os bilhões de reais para estados e municípios combaterem a Covid ao longo dessa pandemia? Como é que uma pessoa pega e tem a cara de pau de dizer que o presidente Bolsonaro é isso e aquilo o tempo inteiro, com provocação e sem nenhuma objetividade, presidente?", completou.
Em janeiro do ano passado, Carlos compartilhava em seu canal de Telegram vídeo em que o presidente falava para apoiadores não desistirem do chamado "tratamento precoce" e comparava a eficácia da Coronavac a jogar uma moedinha para cima.
A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, vinculado ao Governo de São Paulo, foi a primeira aplicada no Brasil. O governador João Doria (PSDB-SP), pré-candidato à Presidência da República, é um dos principais alvos do bolsonarismo.
Na busca pela reeleição de Bolsonaro, Carlos terá papel de destaque e controlará as redes sociais do pai, que hoje está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula.
Ainda que carregue histórico de polêmicas e desavenças públicas, o vereador é muito próximo do pai e sua presença na campanha nem sequer é questionada por aliados mais pragmáticos de Bolsonaro.
Um interlocutor chegou a dizer que este é o momento em que ele deve ser deixado mais livre para fazer o que sabe melhor: mobilizar a militância nas redes sociais.
A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 até hoje é atribuída pelo pai em grande parte ao papel que o vereador teve no comando dos perfis nas redes sociais do então candidato.
Uma das maiores dificuldades do presidente na busca da reeleição neste ano, segundo aliados, será abandonar o discurso antivacina.
Auxiliares tentam convencê-lo de que ele já deu publicidade às suas dúvidas quanto à eficácia da vacina e agora deveria silenciar sobre o assunto. Eles afirmam ainda que há descompasso entre o que o presidente diz e o que o governo federal tem feito –por exemplo, comprando as doses das vacinas.
Os defensores do silêncio do presidente dizem que este é o melhor cenário possível, diante da incapacidade de ele defender o imunizante.
Por outro lado, há quem diga que qualquer possibilidade de sucesso eleitoral de Bolsonaro está diretamente vinculada à adesão completa à campanha de vacinação.
Além de ter atuado na campanha, Carlos tem forte influência na comunicação do governo do pai. Ele emplacou no governo seus principais aliados, chamados de integrantes do "gabinete do ódio": Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes, e Mateus Matos Diniz.
Em abril do ano passado, ele também indicou o coronel André de Sousa Costa como chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
Em depoimento no inquérito que investiga atos antidemocráticos no STF (Supremo Tribunal Federal), prestado em setembro do ano passado, Carlos admitiu relações com um dos integrantes do chamado "gabinete do ódio", mas apenas para pedir informações.
Ele ainda disse que não participava da política de comunicação do governo federal e que "tem relação apenas com divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelo governo federal nas contas pessoais do declarante e do seu pai".
O vereador foi indagado sobre a utilização de robôs para impulsionamento de informações em redes sociais envolvendo memes ou trabalhos desenvolvidos pelo governo federal.
Carlos então respondeu: "Jamais fui covarde ou canalha a ponto de utilizar robôs e omitir essa informação".
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