"Seca verde" castiga agricultores de Itaueira e ameaça abastecimento de água

04/05/2025 23h29

Fonte ClubeNews

A chamada “seca verde” tem castigado os pequenos agricultores de Itaueira, no Sul do Piauí. Embora as plantações aparentem estar em bom estado à primeira vista, a realidade é outra: as lavouras estão sofrendo com a escassez de chuvas e a má distribuição das precipitações durante o período considerado chuvoso.

Quem plantou, na expectativa de uma colheita produtiva, agora enfrenta frustração e prejuízos. É o caso do agricultor Gilberto Luz, que perdeu toda a lavoura de milho. Ele também viu seu tanque de reserva secar por completo, agravando ainda mais a situação.

“Choveu muito pouco. Em janeiro e fevereiro não choveu. A gente não limpou o milho para ver se sai uma pastagem para os animais, senão até morrem de fome. A barragem não tem água, e estávamos esperando chuva para encher”, relatou Gilberto em entrevista à TV Clube.

Na localidade Floresta, o agricultor Francisco Washintong também sente os impactos. Ele plantou um hectare de feijão, mas a plantação não se desenvolveu. O mato tomou conta do terreno.

“Plantei um hectare de feijão e começou a falta de chuva. Ele não desenvolveu. E eu não limpei, por isso que está assim. Essa florada toda aí pelo menos vai servir para as abelhas”, disse.

A crise atinge não apenas a produção, mas também o abastecimento. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, os açudes da região estão próximos do fim. Alguns estão praticamente aterrados, outros completamente secos. A barragem de Poços, que deveria garantir segurança hídrica para o município, teve sua extensão reduzida de 22 km para apenas 4 km.

“É muito preocupante. Fizemos um levantamento com a Defesa Civil do município. Açudes que há dez anos não secavam agora estão à beira do colapso. A barragem que abastece toda a cidade já está no último nível”, alerta Edilene Alves, secretária de Administração e Planejamento do STTR de Itaueira.

A realidade é ainda mais dura para famílias como a de Dionísio Quitério e Maria das Graças, que viram a plantação de milho e arroz se perder. O riacho Salinas, que cortava suas terras, secou completamente. Mesmo diante das perdas, eles ainda mantêm alguma esperança.

“Se chover, eu ainda consigo tirar um pouquinho de arroz. Mas, se não chover, é perda total. Só vi algo parecido em 1982 e 83. De lá para cá, nunca mais tinha acontecido uma seca assim”, lembra Dionísio.

A Defesa Civil confirma a gravidade do cenário. Para Valdo Laxeira, que acompanha de perto a situação, esta é uma das piores secas já registradas em Itaueira. No ponto chamado Cabeceira da Represa, onde antes havia o encontro das águas da Lagoa do Rio Grande com a Barragem de Poços, hoje não resta mais água.

“É uma situação muito preocupante. Estamos em pleno período chuvoso, e essa região deveria estar com seis metros de profundidade. Agora, a gente caminha onde antes só era possível passar de canoa”, relatou.

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