Negros são quase 90% dos mortos em ações policiais no PI, diz relatório

07/11/2025 11h04


Fonte G1 PI

Em 2024, 87,5% das pessoas mortas por ações policiais no Piauí eram negras, segundo o relatório Pele Alvo, da Rede de Observatórios da Segurança. Teresina concentrou 32% dos casos. As vítimas são, em sua maioria, jovens negros, de baixa renda e com pouca escolaridade.

O Piauí teve 24 mortes por intervenção policial no ano passado, o menor número desde 2019. A queda foi de 42,9%, a maior entre os nove estados analisados. Contudo, ainda conforme o levantamento, os negros seguem como principais vítimas.

Teresina teve o maior número de mortes por ação policial em 2024, com oito vítimas, o que representa 32% do total. Também houve mortes em Avelino Lopes, Campo Maior e Parnaíba (2 vítimas cada), além de Alto Longá e Aroazes (1 vítima em cada cidade).

No estado, negros representam 77,1% da população, mas foram 87,5% dos mortos pela polícia. A Polícia Militar foi responsável por 80% das mortes registradas em 2024.

Procurada pelo g1, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) afirmou, em nota, que a redução das mortes é fruto do trabalho integrado das forças de segurança, com foco na valorização da vida, no uso proporcional da força e na capacitação contínua dos profissionais.

A secretaria destacou ainda que mantém sistemas de monitoramento da letalidade policial com análise de marcadores sociais, raciais, de gênero e geracionais, para aprimorar políticas de prevenção da violência e proteção dos direitos humanos (leia a íntegra do comunicado).

Mais da metade das vítimas tinha até 29 anos. A faixa de 18 a 29 anos concentrou 44% dos casos. Dois adolescentes entre 12 e 17 anos também foram mortos.

Pesquisadores relacionam a violência policial à pobreza e à desigualdade. Segundo eles, o Estado atua de forma mais repressiva em áreas com menos acesso a recursos.

Segundo o relatório, a violência também afeta quem sobrevive. Jovens negros relatam que precisam adaptar rotinas, trajetos e até roupas para evitar abordagens policiais.

“Eu, homem trans, e minha namorada, travesti, estávamos voltando do trabalho, uma exibição de curtas na ocupação Marielle Franco, em Teresina. Passamos o dia trabalhando, estudando. No caminho, fomos parados, tipo numa blitz", relatou um jovem de 26 anos, ao relatório.

"Na hora percebemos a diferença de tratamento de pessoas cis ou que não são LGBT. Sofremos transfobia durante toda a abordagem. Nessa e em outras abordagens eu realmente achei que fosse morrer”, completou o jovem.

Os dados foram coletados pelo Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens (NUPEC), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com a Rede de Observatórios da Segurança.

Nota da SSP-PI

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Piauí (SSP-PI) informa que acompanha com atenção os dados apresentados pela Rede de Observatórios da Segurança Pública e reforça o compromisso permanente com a transparência e o monitoramento das ações policiais no estado.

O Piauí registrou, em 2024, redução no número de mortes decorrentes de intervenção policial, alcançando o menor índice da série histórica dos últimos seis anos. O resultado reflete o trabalho integrado das forças de segurança, pautado na valorização da vida, no uso proporcional da força e na qualificação contínua dos profissionais.

A SSP-PI mantém sistemas de monitoramento da letalidade policial, com análise de marcadores sociais, raciais, de gênero e geracionais, a fim de aprimorar políticas públicas que promovam a prevenção da violência e a proteção dos direitos humanos.

O Governo do Estado do Piauí reafirma seu compromisso com uma segurança pública eficiente e responsável, orientada pela inteligência, pelo diálogo com a sociedade e pelo respeito à vida.


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Tópicos: mortes, estado, negros