Médica viraliza ao se formar no Paraguai e ser recebida com cartazes e desfile no interior do Piauí

14/12/2025 08h42


Fonte G1 PI

Aos 18 anos, com uma mala, poucos contatos e o sonho antigo de ser médica, Camila Fernandes deixou São Gonçalo do Gurguéia, no Sul do Piauí, rumo a Assunção, no Paraguai. Era a primeira viagem de avião, a primeira vez fora do país e também a primeira grande decisão de sua vida profissional.

Seis anos depois, ela voltou formada em medicina, recebida com festa, cartazes e abraços de uma família que nunca deixou de acreditar.

A ideia de estudar fora surgiu em 2019, depois de Camila não conseguir a aprovação desejada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A ideia veio da mãe, Marilene, comerciante local conhecida na cidade como “Marilene do Mercado”.

“Eu sempre tive o sonho de ser médica. Quando minha mãe perguntou se eu queria ir, eu aceitei”, lembra.
Imagem: Arquivo PessoalDra. Camila Fernandes e sua mãe Marilene.(Imagem:Arquivo Pessoal)Dra. Camila Fernandes e sua mãe Marilene.

São Gonçalo do Gurguéia é considerada uma das menores cidades do Piauí. Camila cresceu ali, cercada por familiares e vizinhos que a viram sair adolescente para estudar e acompanharam cada passo da trajetória. Aos 14 anos, ela já havia deixado a cidade para morar em Corrente, a cerca de 50 quilômetros, após ser aprovada no Instituto Federal do Piauí (IFPI).

Um dos momentos mais difíceis veio ainda antes da mudança para o exterior. Em junho de 2018, o pai de Camila morreu após sofrer um acidente de carro. Dois meses depois, ela completou 18 anos. Em 2019, embarcou para o Paraguai apenas com o apoio da mãe.

A adaptação em Assunção, capital do Paraguai, não foi simples. Longe da rotina do interior e da proximidade típica de cidade pequena, Camila enfrentou solidão nos primeiros meses. “Eu morava em um prédio e não sabia quem eram meus vizinhos. Isso foi muito difícil no começo”, relata. Com o tempo, veio o encantamento pela cultura paraguaia e a construção de uma nova rede de apoio.
Imagem: Arquivo PessoalCamila Fernandes e seu noivo, Daniel, no último dia de faculdade.(Imagem:Arquivo Pessoal)Camila Fernandes e seu noivo, Daniel, no último dia de faculdade.

Durante a graduação, ela passou pelo internato e pela rotina intensa de hospital. Em 2022, conheceu o noivo, Daniel, médico cubano, que ajudou a tornar o período mais leve. Já em 2024, um novo desafio apareceu: dificuldades financeiras após mudanças na mensalidade da faculdade.

Para não sobrecarregar a mãe, Camila decidiu trabalhar. Passou a vender bolo de pote na faculdade e no hospital onde estagiava.

“Eu sempre gostei de cozinhar. Ia para o hospital às 5h da manhã com duas marmitas cheias de bolo, vendia tudo, voltava para casa à noite e fazia mais até 1h. Às 5h, estava de pé de novo”
Imagem: Arquivo PessoalCamila vendeu Bolo no Pote quando as contas apertaram.(Imagem:Arquivo Pessoal)Camila vendeu Bolo no Pote quando as contas apertaram.

A rotina durou cerca de dois meses e cobrou do corpo. Pouco depois, a situação se estabilizou e ela pôde se dedicar exclusivamente à formação.

“Minha mãe sempre me protegeu das dificuldades. Só no final do curso ela me contou tudo o que passou. Ela me deixou estudar tranquila”, diz.

“Marilene do Mercado agora é mãe de médica”

O retorno ao Piauí foi marcado por emoção. Vídeos da chegada mostram familiares e amigos com cartazes, comemorando a conquista. Um deles, feito por Camila para a mãe, resumia o sentimento: “Marilene do Mercado agora é mãe de médica”.

Agora, com 25 anos, Camila já foi aprovada na primeira fase do Revalida, exame que permite o exercício da medicina no Brasil para formados no exterior, e aguarda a segunda etapa. Enquanto isso, faz questão de reafirmar o amor pela cidade natal.
Imagem: Arquivo PessoalDona Marilene, mãe da Dra. Camila Fernandes.(Imagem:Arquivo Pessoal)Dona Marilene, mãe da Dra. Camila Fernandes.

“Meus amigos de lá não entendem por que eu quero voltar para uma cidade tão pequena. Mas aqui tem amor, tem história. Todo mundo aqui me viu crescer”
Ao tentar resumir a própria trajetória, ela escolhe uma palavra: fé.

“Se eu e minha mãe não tivéssemos acreditado que tudo ia dar certo, a gente não teria chegado tão longe. O medo sempre tenta parar a gente, mas minha mãe nunca me deixou ter medo de ser grande”, afirma.
Imagem: Arquivo Pessoal"Essa foto é muito importante. É a minha família, a Família Fernandes. Sem a energia deles nada disso estaria acontecendo", disse.

Tópicos: hospital, paraguai, rotina