Adutora que resolveria problema da seca em 50 cidades não saiu do papel

04/04/2016 07h41


Fonte G1 PI

Imagem: Patrícia Andrade/G1Adutora atenderia mas de 600 mil pessoas em 50 cidades do estado.(Imagem:Patrícia Andrade/G1)Adutora atenderia mas de 600 mil pessoas em 50 cidades do estado.

Seis meses após a Justiça Federal determinar que a União e o Governo do Estado elaborassem um projeto-básico para a implementação da Adutora do Sertão do Piauí, nada foi feito até o momento. A obra prevê captação da água dos poços jorrantes de Cristino Castro e atenderia cerca de 50 cidades que amargam há décadas com a estiagem no semiárido piauiense.

Somente este ano, pelo menos 81 municípios tiveram decretos de emergência renovados pelo Ministério da Integração Nacional por conta da seca. pesar do período chuvoso, muitos municípios ainda amargam com a irregularidade das chuvas.

Imagem: Adelmo Paixão/G1Clique para ampliarSemiárido Cristalino (Imagem:Adelmo Paixão/G1)Semiárido Cristalino 

O G1 tentou durante uma semana saber em que etapa se encontra o projeto, mas conforme as informações levantadas, ainda não há sequer um órgão que ficará responsável pela execução do projeto-básico e nem um cronograma definido.

Há mais de uma semana, o senador Elmano Férrer (PTB) chegou a anunciar que incluiu emenda de sua autoria no Plano Plurianual 2016/2019, no valor de R$ 1 bilhão, para elaboração de projetos e a execução de obras de implantação da referida adutora.

A reportagem também não obteve do governo uma resposta sobre qual a programação para o investimento desses recursos.

A Adutora do Sertão do Piauí foi idealizada ainda em 2013, quando a Superintendência Regional do Serviço Geológico no Piauí (CPRM) apresentou o projeto ao Ministério da Integração Nacional e à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Com orçamento preliminar de R$ 842 milhões, a obra inclui a construção de uma adutora para distribuir a água de 37 poços para 51 cidades do semiárido piauiense atendendo uma população de 600 mil habitantes.

A adutora resolveria o problema da seca e custaria R$ 13 milhões a menos do valor aplicado pelo governo federal na medida paliativa para atender as famílias brasileiras em cidades com decreto de emergência. O projeto prevê que o abastecimento poderia durar 350 anos sem causar dano nenhum ao manancial, segundo o CPRM.

Ação civil
Em julho do ano passado, os Ministérios Públicos Estadual e Federal ajuizaram ação civil pública contra a União, o Governo do Estado do Piauí e a Agência Nacional de Águas (ANA) cobrando uma ação para resolver o desperdício de água na região do Vale do Gurgueia, mais especificamente entre os municípios de Cristino Castro e Elizeu Martins.

Na decisão, a juíza Marina Rocha Cavalcante Barros Mendes, da 5ª Vara da Justiça Federal, deferiu parcialmente os pedidos do MP.

Imagem: Patrícia Andrade/G1Projeto prevê captação da água dos poços para distribuir no semirárido.(Imagem:Patrícia Andrade/G1)Projeto prevê captação da água dos poços para distribuir no semirárido.

A ação destaca que, enquanto grande número de pessoas no Piauí sofre com a seca e depende exclusivamente da “Operação Carro Pipa” para sobrevivência, sobram recursos hídricos que são desperdiçados pela má utilização de poços profundos de alta vazão. Os poços captam água em imenso aquífero existente na região do Vale do Gurguéia (aquífero Cabeças), especialmente nos municípios de Cristino Castro, Alvorada do Gurguéia e outros da região.

Na ação civil pública, MPF e MP argumentam que a construção da adutora garantirá o fornecimento de água para os 51 municípios que compõem o semiárido cristalino piauiense onde não há água subterrânea, utilizando-se da água desperdiçada nos poços jorrantes das proximidades, localizado no Vale do Gurguéia.

“Se adotada a construção da Adutora do Sertão do Piauí, pelo valor estimado de 950 milhões de reais, seriam resolvidos 300 anos de seca no estado. Ao passo que com a utilização dos carros-pipa, ao custo de R$ 80 milhões (valor gasto pelo Poder Público em 2014) só seria possível resolver o problema, de forma parcial, por apenas 1 ano”,
apontava a decisão judicial.

Poços jorrantes
Em Cristino Castro, a água de um poço tem uma vazão de 700 mil litros por hora e chega a atingir uma altura de até 20 metros. Em um dia inteiro, a vazão seria suficiente para abastecer uma cidade com 140 mil habitantes, conforme os padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS). A população de Cristino Castro é de 10 mil. Todo esse desperdício foi mostrado em reportagem feita pelo G1 há um ano.

O município fica no Vale do Rio Gurguéia, na Bacia Sedimentar do Rio Parnaíba – a terceira maior reserva de água subterrânea do Brasil. Na região, muitas vezes basta atingir o lençol freático para a água subir sem necessidade de bombas. Isso acontece porque esses aquíferos estão selados e cheios de água.

Alguns poços foram abertos ainda no final da década de 1970 para irrigar plantações de frutas, mas não há mais produção atualmente. Até hoje não foi executada nenhuma obra governamental capaz de captar e distribuir os mais de 266 milhões de litros de água jorrados diariamente dos 350 poços da região do vale.

Tópicos: governo, obra, projeto