Florianense lamenta desabamento de casarão histórico em Floriano: "O retrato do descaso"

05/08/2020 15h05


Fonte Izabel Carvalho

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarCasarão da Rua São Pedro(Imagem:Divulgação)Casarão da Rua São Pedro

Floriano acordou neste 05 de agosto de 2020 triste, empobrecida. Parte importante de sua história desmoronou. ntem por volta das 23 horas o prédio do Seu Michel localizado no coração de Floriano, na Rua São Pedro, virou escombros. Uma tragédia anunciada, evitável, mas o descaso deixou acontecer.

O sobrado construído por Salomão Mazuad no início do século XX para sua esposa D. Izabel, com arquitetura lembrando suas raízes libanezas, de beleza singular, onde funcionou o Banco do Brasil e a Casa Michel já não faz parte da paisagem, agora é só lembrança. Não vivi o tempo do Banco do Brasil, já o conheci como loja do Seu Michel.

Meus olhos ainda refletem o brilho ao lembrar de como brilharam diante das primeiras "vitrines" de Floriano. Ao adentarmos na loja nos deparávamos com armários de vidro simulando as vitrines de agora. Novidade era no Michel. Coisa chic era no Michel. Um balcão de madeira e vidro apinhado de coisas separava os clientes dos vendedores. Consigo sentir até o cheiro da loja do Michel. 

Por trás do balcão uma espécie de prateleira grande cheia de tudo. Tinha botões, gregas, linhas, fechecler, tinha tudo no Michel. Presentes, louças, pratarias, cristais, roupas de cama, bonecas, caixinhas de música, decalques para trabalho da escola, fitas...tudo era no Michel. Do jeito dele Seu Michel era simpático e cortês, um grande comerciante. Naquele tempo não existia empresário, existia comerciante. Lembro de sua esposa D. Helena e Carmosina sua funcionária que conhecia a todos pelo nome. O piso era ladrilho desenhado.

Na parte de cima da loja ficava a casa do Seu Michel, que tinha uma sacada para rua. Pintado de branco e rosa, me fazia lembrar enfeite de bolo confeitado. Aquela rua era um pedacinho das arábias em solo florianense, podíamos ouvir alguns falando árabe entre si. As festas por aqui têm que ter esfirras, quibes, carneiro na coalhada, humus... o paladar florianense é árabe.

A nossa cultura se mistura e se completa com os árabes. Aos poucos os prédios históricos se vão no descaso. Sinto por mim, pelo povo tenaz que veio de tão longe e escolheu nossa cidade para morar. Sinto por Floriano e pelas futuras gerações. Agora a loja do seu Michel faz parte apenas da memória de quem teve a ventura de conhecê-lo. Que bom seria se todos dessem a devida importância a nossa história!

Por Izabel Carvalho


Para ler mais notícias do FlorianoNews, clique em florianonews.com/noticias. Siga também o FlorianoNews no Twitter e no Facebook

Tópicos: floriano, loja, michel