Fred foi muito mais que um centroavante na incrível vitória do Fluminense

26/05/2021 14h40


Fonte Globoesporte

Imagem: ConmebolClique para ampliarFred é eleito melhor jogador da partida em River Plate x Fluminense(Imagem:Conmebol)
Quem é o criador de jogadas do Fluminense? Para uns, pode ser Nenê. Para outros, Cazares. Na vitória por 3 a 1 sobre o River Plate, que garantiu a classificação para a fase eliminatória do mata-mata da Libertadores, o garçom foi Fred, que jogou de muitos jeitos, inclusive como um centroavante.

Como o próprio técnico Roger Machado disse, não é qualquer time que vence o River na Argentina. Foi um Fluminense diferente do Carioca, mais reativo e atento, que encarou os argentinos fechando espaços especialmente no meio-campo, refigurado com Caio
Paulista e Gabriel Teixeira nos lugares de Kayky e Luiz Henrique.

A ideia era jogar no contra-ataque, e aí vem a pergunta: não seria melhor um jogador de mobilidade no lugar de Fred, que é mais lento, mais fixo na referência?

Há muitas formas de ser rápido no jogo. A corrida linear, que vence o adversário, é uma delas. A velocidade de raciocínio é outra. E há a velocidade de interpretação do jogo, algo que Fred, aos 37 anos, domina muito bem.

No primeiro gol, o Fluminense está todo encolhido em seu campo de defesa quando acontece uma roubada de bola. Esse é o início do contra-ataque, muito associado à velocidade e correria. Há sempre um outro lado, e para preencher espaço e evitar que a área fique desprotegida, o River Plate organiza o chamado "balanço defensivo", o posicionamento do time quando ataca. No caso, com dois zagueiros e um lateral formando um triângulo com o primeiro volante.

Nesse momento, o River está protegido. O Flu tem apenas três jogadores, contra quatro do adversário. O jogo apresenta um problema aqui: como criar espaço sendo mais rápido que o adversário?

Fred se desloca para o lado direito para responder ao dilema. Assim, ele atrai o zagueiro central, Maidana, e deixa Caio Paulista apenas com o lateral que fechava o balanço no River. O primeiro volante, por instinto, sempre tenta se posicionar perto da bola, mas é superado pelo adversário. Em poucos segundos, a área bem protegida do River tem uma lacuna, bem aproveitada no primeiro gol.

Essas sutilezas nem sempre são vistas por quem espera definição na pequena área de um camisa 9. Mas centroavantes que se movem, criam condições para companheiros e quebram defesas adversárias não são novidade. Na verdade, os melhores do mundo, como Lewandowski ou Aguero, e grandes nomes do passado, como Romário e Ronaldo, já faziam isso.

O segundo gol também é exemplo de criação de espaço, dessa vez de um jeito diferente. Fred recebe a bola, e ao invés de driblar ou chutar, dá alguns passos para trás. Ele faz isso porque o River está com a defesa bem fechada, com zagueiros e laterais alinhados, e ao dar uma "pausa" com o passe, pode chamar um zagueiro - novamente Maidana - para tentar recuperar a bola dele.

Essa pausa de Fred não leva apenas o zagueiro, mas também atrai os dois volantes do River. E dá tempo aos atacantes do Flu se projetarem na frente da linha da bola, justamente no espaço que se criou. Em questão de segundos, uma defesa alinhada, como manda o manual, fica numa situação de igualdade numérica com os dois atacantes do Flu. Um deles recebe e chuta ao gol.

Tem momentos que a mãe da decepção é a expectativa. Quem espera um Fred mortal como 2012, quando tocava na bola e fazia muitos gols, pode se decepcionar e não ver uma versão cada vez mais madura, inteligente e também assistente no "sempre" jovem Fluminense, que mereceu a classificação com dois jogos de domínio num dos maiores times da América.

Prova de que um bom camisa 9 faz muito mais do que gols.

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