Ex-lateral de São Paulo e Flamengo pede chance após ir à falência: "Faltou vergonha na cara"
28/07/2025 16h47Fonte ge
Alcançar o auge da carreira profissional aos 22 anos pode significar uma grande possibilidade de ter uma aposentadoria tranquila e confortável, ainda mais quando a profissão envolve as cifras milionárias do futebol. Era com essa perspectiva que Jurandir Fatori, conhecido como Jura, comemorava o título mundial conquistado com o estrelado time do São Paulo treinado por Telê Santana, em 1993.Considerado um promissor lateral-direito que vinha ocupando o lugar de Cafu, que depois viria a se tornar um dos maiores jogadores da posição na história do futebol, Jura não conseguiu deslanchar como o esperado.
Mesmo tendo por clubes como São Paulo, Flamengo, Bahia, Avaí, Athletico-PR e times menores do interior paulista, Jura encerrou a carreira em 2005 sem se consolidar na carreira. Ele conseguiu acumular fortuna nas mais de duas décadas como profissional, mas perdeu tudo por causa da vida noturna e a bebida.
Um dinheiro que nunca imaginei ter começou a cair na minha conta. Eu só tinha noção do que podia gastar, do que podia comprar, não sabia de um investimento que poderia render
— Jura.
Imagem: Reprodução/TV Globo
Jura foi campeão da Libertadores, Recopa, Supercopa e Mundial pelo São Paulo em 1993.

Atualmente com 54 anos, o ex-lateral revisita a sua história como atleta e tenta assimilar os erros do passado que tornaram o seu presente distante de uma vida luxuosa e tranquila.
– Foi a madrugada, gostava muito. Falta de vergonha na cara mesmo, mas uso isso como exemplo. Hoje tem que ser 100% profissional. Antigamente não, você podia dar aquela saída, só que cada saída era muito dinheiro envolvido. Por exemplo, os amigos meus não colocavam a mão no bolso, era bebida, noitada, mulherada... Me casei muito tarde, se tivesse minha família hoje, casado, a cabeça era outra, outra performance, mas sozinho, solteiro, dinheiro no bolso, tudo muito fácil.
Em sete meses no São Paulo fui campeão da Libertadores, Recopa, Supercopa e Mundial. É difícil explicar...
— Jura.
– Acredito que a falta de estudos atrapalhou bastante a minha vida, não só financeiramente, como profissional também, pois poderia ter ido muito mais longe. Minhas condições eram boas. Até tive chances de na época conversar com o Parreira, Zagallo, ser cogitado para uma seleção brasileira – disse ao ge (veja a entrevista completa no vídeo acima).
Mais sobre Jura
Nome: Jurandir Fatori
Idade: 54 anos (12/06/1971)
Profissão: ex-jogador profissional | técnico de futebol
Carreira: Guarani, São Paulo, São Bento, Remo, Flamengo, Athletico-PR, Bahia, Novorizontino, Ponte Preta, Avaí, Araçatuba, Matonense, Inter de Limeira, Paysandu, União São João, São Gonçalo-RN, XV de Piracicaba e Olímpia-SP.
Títulos: Libertadores, Supercopa, Recopa Sul-Americana e Mundial de Clubes (1993).
Carreira como treinador: Olímpia-SP, Guaçuano, União Barbarense, São José e Rio Claro.
Imagem: Arquivo Histórico / saopaulofc.net
Jura (ao lado esquerdo de Cafu) comemora título Mundial de 1993 com o São Paulo.

Jura percebeu que a sua trajetória fora de campo estava atrapalhando diretamente a sua carreira em 1999, quando foi flagrado no exame antidoping pelo uso de maconha.
A partir deste momento, ao ter que encarar os pais e explicar que havia usado drogas, Jura entendeu que havia começado a declinar depois de passar por São Paulo, Flamengo e Bahia.
– Até nem gosto muito de falar, que fico meio... hoje trabalho com criança, mas acredito que hoje levo tudo pelo lado positivo, sou um exemplo positivo, porque não é fácil você sair de situações como entrei. Claro, entrei de gaiato, consciente, sabendo o que ia fazer. Quando caí no exame antidoping, falei: agora é o fim do túnel. Vi meu pai e minha mãe chorar, que por eles nunca fumei um cigarro. Caí por embalos de amigos, usei, mas não sou um cara frequentador de usar. Errei. E quando errei e vi que estava desandando foi edição extraordinária, Jornal Nacional, Globo Esporte, fiquei muito falado.
Quando caí no exame antidoping, falei: agora é o fim do túnel
— Jura.
– Acho que fui um dos primeiros, então minha situação.... Parecia um marginal, até fico emocionado quando falo isso, porque fui prejudicado também, por tanto me usarem como exemplo negativo, mas isso uso hoje como exemplo para ajudar as crianças que estão se envolvendo, faço minhas palestras, mas na época fui bem crucificado. Lógico que errei, mas na minha época foi muito mais visto e falado do que é uma situação que acontece hoje – conta.
Imagem: Reprodução/TV Globo
Jura atualmente é professor de uma escolinha em Piracicaba.

Na época, defendendo a Inter de Limeira, o então lateral acabou sendo punido por 30 dias pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) pelo uso de maconha e chegou a ficar internado em uma clínica de reabilitação. Jura se emociona ao lembrar que foi, segundo ele, tratado como um “marginal, um bandido”. Ele afirma estar há 17 anos limpo e que o episódio deixou cicatrizes além da vida profissional.
– Eu tinha que mudar, sabia que errei e que não era essa pessoa que aconteceu. A abertura com o pai e com a mãe foi fundamental. Meu pai e minha mãe sempre estiveram do meu lado, sabiam que não tinham um marginal dentro de casa, para muitos antigamente era bandido, um cara que não tinha escrúpulo nenhum, aprendi que estava no caminho cada vez para baixo. Depois que meu filho nasceu comecei a ver a vida diferente.
Na época, defendendo a Inter de Limeira, o então lateral acabou sendo punido por 30 dias pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) pelo uso de maconha e chegou a ficar internado em uma clínica de reabilitação. Jura se emociona ao lembrar que foi, segundo ele, tratado como um “marginal, um bandido”. Ele afirma estar há 17 anos limpo e que o episódio deixou cicatrizes além da vida profissional.
– Eu tinha que mudar, sabia que errei e que não era essa pessoa que aconteceu. A abertura com o pai e com a mãe foi fundamental. Meu pai e minha mãe sempre estiveram do meu lado, sabiam que não tinham um marginal dentro de casa, para muitos antigamente era bandido, um cara que não tinha escrúpulo nenhum, aprendi que estava no caminho cada vez para baixo. Depois que meu filho nasceu comecei a ver a vida diferente.
Imagem: Arquivo Pessoal
Jura ao lado do ex-zagueiro Ronaldão nos tempos de São Paulo.

Perda incalculável
Jura evitar fazer as contas de quanto perdeu em patrimônio pelos excessos fora do futebol. As noitadas com os amigos, o uso excessivo de álcool que o levou às drogas e a falta de organização financeira foram determinantes para que ele perdesse imóveis, carros e zerasse a conta que por muito tempo recebeu cifras irreais para os dias atuais da vida do ex-jogador.
Eu ganhava dinheiro para gastar o dinheiro, não tinha um equilíbrio. Tinha uma casa linda para comprar, no mesmo valor de um carro zero, eu ia no carro zero. Nunca tive esse equilíbrio profissional de inteligência
— Jura.
Pouco tempo depois da aposentadoria e sem qualquer fonte de renda, nem mesmo os salários mais baixos dos times menores da reta final da carreira, Jura se viu obrigado a se desfazer dos bens materiais acumulados durante a carreira para conseguir manter o padrão de vida ao qual havia se acostumado.
– Vou falar que perdi em bens, valores não posso falar hoje, não lembro. Mas perdi apartamento, perdi casa, perdi chácara, perdi carro, perdi muita parte da minha vida moralmente, que para mim é o principal. É lógico que para quem me conhece sabe que sou um cara de um bom caráter, mas quem não conhece julga a gente mal pelo que aconteceu, não pelo que conhece. Eu pago esse preço até hoje, quem não me conhece sempre julga.
– Hoje, graças a Deus, trabalho com crianças de 4 a 15 anos, então tenho que ser um professor, um exemplo. Acredito que também perco por essa situação ter acontecido, mas ganho muito mais pela pessoa que sou no dia a dia, pelo exemplo que dou, pelas palestras que passo. Estou aqui, vivo, inteiro, com saúde, minha família muito bem e ter sobrevivido nessa situação que é complicado – disse.
Imagem: Reprodução/TV Globo
Jura perdeu imóveis, carros e todo o dinheiro que ganhou na carreira.

Passado, presente e futuro no futebol
A nova direção que Jura tomou em sua vida passou pelo trabalho como manobrista durante alguns meses no estacionamento de um amigo. Ele acabou se tornando uma atração no local diante da curiosidade das pessoas em ver um ex-jogador de futebol de relativo sucesso tendo que trabalhar para sobreviver como qualquer outro cidadão comum.
– Foi logo depois das situações que aconteceram comigo. Não aparecia nada, ninguém acreditava, e de repente pintou esse amigo meu que tinha um estacionamento e me deu essa oportunidade. Não tenho vergonha de trabalhar, não tenho vergonha de fazer o que for para trazer sustento para a minha família. O que não sei é fazer sacanagem, prejudicar alguém para conquistar alguma coisa. Então eu dei a cara para bater – relembra.
O grande sonho de Jura é seguir no futebol, agora como treinador. Inspirado pelos ensinamentos de Telê Santana em sua passagem pelo São Paulo, o ex-jogador atualmente trabalha na área em uma escolinha da Juventus, da Itália, da qual é sócio.
Imagem: Reprodução/TV Globo
Jura quer retomar a carreira no futebol profissional.
A missão para tornar-se treinador profissional esbarra justamente na questão financeira. Para entrar no mercado, são necessárias as licenças concedidas pela CBF. São quatro estágios até a graduação máxima: licença C (R$ 5.800), B (R$ 9.030), A (R$ 13.200) e PRO (R$ 24.900).
O que escolho? Ou pago minhas contas ou faço a licença [de treinador da CBF].
— Jura
– Queria uma oportunidade de treinador, queria ter uma condição para fazer o curso da licença B, A e que também não é barato. Se eu for fazer um curso vou destapar meu aluguel, a minha situação financeira do mês em casa. Não tenho essa condição, mas queria fazer esse curso, ter essa oportunidade, porque acredito no meu trabalho, acredito que ele é bom, mas tudo tem um preço.
– É o mesmo sonho de criança. Sei que sou bom na minha área profissional, acredito que posso prosperar mais. Sou um cara muito vitorioso, tenho uma experiência de vida muito boa, não de faculdade. É meu sonho e não desacredito, espero que com o meu trabalho guarde uma situação e consiga fazer esse curso. Ainda dá tempo para conquistar esse meu sonho – conta.
Mas antes de retomar a carreira no futebol profissional, Jura prioriza dar uma vida mais confortável para a sua família e atender a um pedido do seu filho que está prestes a completar 18 anos: tirar a carteira de motorista.
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