Quase 40% dos alunos de escolas públicas não têm computador ou tablet em casa, aponta estudo

09/06/2020 15h13


Fonte G1

Imagem: Divulgação/Prefeitura de Várzea PaulistaEnsino a distância tem sido desafio para as redes durante a pandemia;(Imagem:Divulgação/Prefeitura de Várzea Paulista)Ensino a distância tem sido desafio para as redes durante a pandemia;

A pesquisa TIC Educação 2019, divulgada nesta terça-feira (9), aponta que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablet em casa. Nas escolas particulares, o índice é de 9%.

Os dados mostram o cenário em que a educação entrou na pandemia em 2020 e indicam possível desafio no ensino remoto, montado às pressas quando houve necessidade de fechamento das escolas para evitar a propagação do coronavírus.

Sem computadores e conexão à internet, é possível que os estudantes tenham dificuldade para acessar os conteúdos online, que têm substituído as aulas presenciais.

Outros destaques da pesquisa:
  • Conectividade: 21% dos alunos de escolas públicas só acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o índice é de 3%
  • Regiões: o uso da internet exclusivamente pelo celular é maior no Norte (26%) e Nordeste (25%)
  • Plataformas virtuais: 14% das escolas públicas (estaduais e municipais) tinham ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem antes da pandemia
  • Aprendizagem online: 16% dos estudantes da rede pública e privada declararam ter participado de cursos online e 24% fizeram simulados ou provas, o que pode indicar dificuldades atuais para acompanhar o ambiente virtual de aprendizagem. Quanto mais velho o aluno, maior o índice
  • Professores: 53% dos docentes disseram que a ausência de curso específico para o uso do computador e da internet nas aulas dificulta muito o trabalho; para 26%, dificulta um pouco – a soma é de 79%
  • Interação: entre 2016 e 2019, a porcentagem de instituições públicas urbanas cujos pais ou responsáveis utilizaram perfis ou páginas em redes sociais para interagir com a escola passou de 32% para 54%
“Antes do fechamento das escolas, a gente pode dizer que os estudantes tinham pouco acesso às tecnologias no ambiente escolar. As atividades pedagógicas estavam mais centradas no ensino do que na participação dos estudantes, e quando eles vão para casa e têm que fazer eles mesmos estas atividades, o trabalho se torna mais árduo", avalia Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação.

As aulas presenciais estão suspensas desde março em todo o país. Um levantamento feito pelo G1 indicou que, desde então, todas as redes estaduais de ensino implantaram alguma forma de transmissão de conteúdo remoto – seja em plataformas online, ou conteúdos repassados pela TV aberta e via rádio.

Ainda assim, alunos, pais e professores narraram à reportagem as dificuldades de aprendizagem neste período de isolamento social. Entre elas, estão inexistência de ambiente apropriado de estudo; maturidade dos estudantes; falta de acesso à internet, pouca continuidade nas aulas; baixa preparação dos professores, entre outros.

Outra análise, feita pelo Instituto Unibanco e pela organização Todos pela Educação, aponta que 95% dos estados implantaram plataformas online de aprendizagem durante a pandemia, mas só 45% estão comprando pacotes de dados para dar acesso gratuito ao conteúdo.

"[Durante a pandemia] houve uma percepção das escolas, pais e responsáveis pelas políticas públicas de que a tecnologia é algo essencial para a aprendizagem e que o acesso à educação hoje passa pelo acesso às tecnologias. Quando a educação puder acontecer no novo normal, pode ser que a gente tenha implementação de novas ferramentas e um novo olhar na interação com novas tecnologias", afirma Costa.

Professores e formação online

O uso da internet para se comunicar com alunos antes da pandemia era menor entre professores de escolas públicas se comparado às particulares. Os dados da pesquisa mostram que 31% dos professores afirmaram que receberam trabalhos ou lições dos alunos pela Internet; 44% tiraram dúvidas dos alunos pela Internet e 48% disponibilizaram conteúdo na Internet para os alunos. Na rede privada, os números são 52%, 65% e 65%.

Os docentes também relatam que a falta de capacitação dificulta a inserção no ambiente digital: 53% dos docentes disseram que a ausência de curso específico para o uso do computador e da internet nas aulas dificulta muito o trabalho; para 26%, dificulta um pouco.

"Mais de 70% dos professores estão relatando dificuldades relacionada à formação. No ano passado, 33% dos professores disseram que fizeram curso de formação continuada formal e grande parte dos professores procuraram por essa formação por conta própria", afirma Costa.

Estudantes e aprendizagem online

Os dados sobre aprendizagem online indicam que 16% dos estudantes da rede pública e privada declararam ter participado de cursos online e 24% fizeram simulados ou provas, o que pode indicar dificuldades atuais para acompanhar o ambiente virtual de aprendizagem.

Se analisadas as etapas de ensino, os dados apontam índices maiores nos últimos anos de formação do ensino médio.

Segundo Costa, os dados da próxima pesquisa devem trazer informações sobre o impacto da pandemia na conectividade dos estudantes e escolas. A expectativa é que haja aumento do uso de tecnologias no ensino remoto. Além disso, os dados também podem trazer maior interatividade entre escolas e pais ou responsáveis.

"Em escolas públicas, professores ficam dependentes do sistema da Secretaria de Educação, os dados estão lá. Neste momento em que as escolas fecharam, eles não tinham acesso a dados de telefone e e-mail dos pais e tiveram que correr atrás", conta.

Metodologia

A pesquisa foi feita entre agosto e dezembro de 2019. Os pesquisadores falaram presencialmente com 11.361 alunos, 1.868 professores, 954 coordenadores pedagógicos e 1.012 diretores de escolas urbanas.

Nas escolas rurais, foram ouvidos por telefone 1.403 diretores ou responsáveis por estes estabelecimentos de ensino.

A pesquisa é feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), que monitora a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil. Criado em 2005, o Cetic.br é um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br).

Tópicos: escolas, professores, online