Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis expõem desatinos reais em disco feito na cadência de Samp

05/07/2022 11h06


Fonte G1

Imagem: ReproduçãoUma ponte desaba sobre um rio na imagem da capa criada por Aline Paes para o álbum Sambas do Absurdo volume 2. A arte pode bem simbolizar o naufrágio de um país, o Brasil, que pare(Imagem:Reprodução)
 Uma ponte desaba sobre um rio na imagem da capa criada por Aline Paes para o álbum Sambas do Absurdo volume 2. A arte pode bem simbolizar o naufrágio de um país, o Brasil, que parece submergir em tempos doentes.

A imagem é boa tradução do repertório do disco que chega ao mundo digital na sexta-feira, 8 de julho, mais de um ano após ter sido anunciado com o single Ladeira (2021).


O absurdo está mais palpável na realidade nacional e serve de alimento para os sambas reunidos por Gui Amabis (produção musical, gravação, teclados, voz e synth), Juçara Marçal (voz) e Rodrigo Campos (violão de nylon, violão de aço, guitarra, cavaco e voz).

Um dos maiores compositores brasileiros revelados no século XXI, Campos também é o autor – solitário ou com parceiros – dos oito sambas que compõem o repertório inédito do disco Sambas do Absurdo volume 2.

“O absurdo em 2022 ganhou novos contornos, uma nova dimensão menos onírica, mais terrena, real. Esta dimensão do real está refletida neste novo disco, que mais uma vez encontra no samba ou refúgio e fortaleza”, situa Romulo Fróes, parceiro de Rodrigo Campos no já mencionado samba Ladeira, ao longo do elucidativo texto em que contextualiza a sequência do álbum original de 2017.

Samba sinuoso que permanece como a obra-prima do repertório de Sambas do Absurdo volume 2, Ladeira apontou em abril de 2021 a rota paulistana repisada pelo trio neste disco que segue o trilho da cidade em Sé (Rodrigo Campos e Nuno Ramos), samba que cita Adoniran Barbosa (1912 – 1982), bamba que abriu linhas no samba de Sampa, desbravando caminhos seguidos em outras vias por Rodrigo Campos, bamba contemporâneo deste mesmo samba que mapeia dores e mazelas do povo oprimido nas filas, nas vilas e favelas da metrópole, babel brasileira.


Carlão, personagem fictício perfilado postumamente por Rodrigo Campos no samba homônimo cantado pela sempre certeira Juçara Marçal, representa baixa nesse povo que encara cotidianamente a dor, caracterizada por Campos em verso de Olhos grandes como “um Deus que morre a cada manhã”.

Diante de tanta dor, o tempo escasseia e a tragédia de cada um é apenas mais um flash na incessante polaroide urbana. “Um minuto até você chorar / Um minuto pra morrer / Um minuto até você passar”, marca Juçara Marçal, solista de Um minuto, samba de um minuto e meio que abre o álbum gravado pelo trio com a adesão de Régis Damasceno (baixo elétrico e violão de aço), mixado por Gustavo Lenza e masterizado por Felipe Tchauer.

Nesse tempo sem paz, Na memória vida outra radiografa a anestesia das almas enquanto Faca afia a poética para evidenciar que a morte anda à espreita, mesmo aparentemente esquecida.

Samba em tons menores, Mini grão completa o cardápio de Sambas do Absurdo volume 2, disco de som mais orgânico do que sintético, com arranjos por vezes dramáticos ou quase fúnebres, como no justificado caso de Cartão.

Gui Amabis, Juçara Marçal e Rodrigo Campos sabem que é preciso atravessar o samba para expor o absurdo que pulsa em cada esquina da cidade de São Paulo (SP), macrocosmo do Brasil dissonante de 2022.

Confira as últimas notícias sobre Cultura: florianonews.com/cultura
Siga @florianonews e curta o FlorianoNews

Tópicos: rodrigo, samba, ladeira