Milton Nascimento se consagra na eternidade das canções que alicerçam A última sessão de música

12/06/2022 13h58


Fonte G1

 Imagem: Reprodução
O apito do trem soou na Grande Sala da Cidade das Artes Bibi Ferreira como o sinal de que A última sessão de música ia começar. O lento apagar das luzes da plateia, às 21h45m de 1(Imagem:Reprodução)
O apito do trem soou na Grande Sala da Cidade das Artes Bibi Ferreira como o sinal de que A última sessão de música ia começar. O lento apagar das luzes da plateia, às 21h45m de 11 de junho de 2022, sublinhou o aviso. Abertas as cortinas, o público se deparou com Milton Nascimento vestido com manto colorido que aludia à realeza do artista na música do mundo.

Na despedida dos palcos, mas não da música, o cantor e compositor revisou 60 anos de trajetória profissional – iniciada em 1962 na noite de Belo Horizonte (MG), destino final da turnê em parada prevista para novembro – ao seguir roteiro que totalizou 31 músicas, sucessos em grande maioria.

O ponto de partida da turnê mundial A última sessão de música foi o Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do artista de alma musical mineira. Na saída do trem, o baticum vigoroso do baterista Lincoln Cheib e do percussionista Ronaldo Silva citou incidentalmente Os tambores de Minas (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1997) para marcar o território original da viagem.


Na sequência, o velho maquinista, ainda sem boné e munido da sanfona afetiva, prosseguiu a viagem com o canto de Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974). Daí até o fim da jornada, encerrada no fecho do bis em que Milton e Zé Ibarra se alternaram nos versos de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967), o artista quase octogenário se consagrou na eternidade das canções que constituem obra pavimentada com extrema originalidade.

Milton Nascimento abriu um universo na MPB a partir de 1967. Em cena, a força inexorável da obra e da alma do artista compensaram a imobilidade no palco e a fragilidade da voz que enfrenta os efeitos naturais do tempo.

Por ter ciência de que a hora do reencontro com o ídolo era também a despedida, o público embarcou na viagem e a tornou vibrante em canções e momentos como Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, 1970) – número ao qual se seguiu ovação da plateia, que gritou em coro “Bituca! Bituca!” – e Nos bailes da vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981).

Sob a direção musical do guitarrista Wilson Lopes, A última sessão de música fez o resumo de obra que transita pela latinidade – exposta no toque andino de San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1972), música cantada somente por Zé Ibarra – e que sempre soou fraterna, gregária.


Ouvida com arranjo reverente ao registro original de 1979, Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant) deixou claro que A última sessão de música é para quem traz o velho maquinista com seu boné no lado esquerdo do peito.

Aliás, o boné foi posto logo após o bloco inicial com Canção do sal (Milton Nascimento, 1965) e Morro velho (Milton Nascimento, 1967), composições que exemplificaram a carga social também impressa no cancioneiro ativista de Milton.

Como um segundo condutor do trem, Zé Ibarra deu o start em músicas como Vera cruz (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1968) e alicerçou o canto de Milton ao longo do show sem tirar o protagonismo do astro-rei nem quando Milton fez a segunda voz em Volver a los 17 (Violeta Parra, 1966).

A sessão alternou climas. Se Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) foi afiada pelo guitarrista Wilson Lopes na lâmina do rock, o medley com Calix Bento (tema de Folia de Reis com música e letra adaptada por Tavinho Moura, 1976), Peixinhos do mar (tradicional cantiga de marujada em adaptação de Tavinho Moura, 1980) e Cuitelinho (tema tradicional em adaptação de Paulo Vanzolini, 1974) transportou o trem para o interior de Minas, terra de festas e folclores.


Já Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) reverberou com uma certa e já costumeira magia antes do primeiro fecho das cortinas, reabertas para Milton cantar Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981).

Na sequência, Travessia encerrou a viagem em que, com e sem boné, o velho maquinista conduz o trem da derradeira turnê por roteiro que condensa 60 anos de obra fundamental na música brasileira.