Meu caro poeta

30/04/2019 08h42


Fonte Daniel Ciarlini

Foi Humberto de Campos quem, certa vez, entendeu ser “A poesia destinada a encontrar melhor acolhimento na alma dos homens, é, pois, ainda, e sê-lo-á por muito tempo, aquela que vem do coração, e que se serve da cultura, da inteligência, como a água se utiliza da areia em que se filtra: para tornar-se mais simples e mais límpida”.

Não há como pensarmos a sociedade sem esse artifício tão vivaz, tão eloquente, tão verdadeiro. Seria a poesia o “néctar bendito da ventura”, de Da Costa e Silva? Talvez! O que sabemos, porém, é que sem ela não seríamos humanos, e como a humanidade nos é cara... Não foi por acaso que Pessoa, em uma das suas intuições legou-nos, em “Impermanência”, que a “Literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta” – é a imaginação, é a criação que nos salva do automatismo da vida, da práxis que nos abrevia dia após dia o sentimento. Ainda mais, já se vai distante a vez que Werner Jaeger, dedicado pesquisador do espírito grego, nos afirmou a poesia ser a responsável pela configuração de todo esse grande império do pensamento – a isso deu o nome de paideia.

Foi o que vi ontem, na sede da Albeartes, instituição que agrega de forma singular um conjunto de artistas que comungam da arte em suas mais variadas facetas. Acredite o poeta que eu não costumava ver tanto empenho, diversidade e espontaneidade em instituições congêneres que já experimentei audiência. Seus confrades e amigos dialogam com o povo, retomando a origem do artifício criativo, e é aí que reside a sabedoria de toda essa produção. É o sertão, é o rio, é a fé; são os costumes, os tipos, bem como o gado e a alegria de nossa gente que compõem o complexo e rico caleidoscópio, tão imagético, dos intelectuais que imprimem essa exultação de sentimentos em versos, em plástica e em som.

Emocionei-me deveras com essa comunhão belíssima. Felicitei-me com as produções ouvidas e apreciadas. Eu não tinha ideia que no centro-sul piauiense fervilhasse todo esse caldo cultural! E, por fim, regozijei-me com os trabalhos enviados das canções musicadas desse poeta que reside em tuas veias, chamado Paraguassú. A “Última vaquejada” não me parece uma simples poesia, sua significação pode alcançar o tom característico de um hino do sertão, evocando sentimentos que só os homens dessa porção de mundo encantado conseguem despertar, profundamente.

Por fim, noticio a satisfação em ter participado do evento, mais ainda em ter conhecido os amantes da cultura de Floriano.

Imagem: José ParaguassúJosé Paraguassú, Prof. Daniel, José Bruno e Jusmária.(Imagem:José Paraguassú)José Paraguassú, Prof. Daniel, José Bruno e Jusmária.

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