Marília Mendonça reina postumamente com "exagero sentimental" do segundo EP extraído da live "Serena

09/12/2022 16h16


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarCapa do EP Capa do EP "Decretos reais vol. 2", de Marília Mendonça

“Eu sou brega. Eu sou um espetáculo. E faço dos meus sentimentos exagerados o meu próprio palco. Eu sou amor. [...] E Deus me livre de um amor chique e discreto”.

Ditas por Marília Mendonça (22 de julho de 1995 – 5 de novembro de 2021) no discurso que antecede o canto de Morango do nordeste (Walter de Afogados e Fernando Alves, 1987), as palavras traduzem com precisão a alma musical da cantora e compositora goiana morta há um ano.

Morango do nordeste é uma das seis músicas do segundo EP póstumo da artista, Decretos reais vol. 2, lançado hoje, 9 de dezembro, com números extraídos da mesma live Serenata que gerou o primeiro EP, apresentado em 21 de julho.

A rigor, inexiste novidade nestes discos, já que a apresentação virtual feita por Marília em 15 de maio de 2021 é de conhecimento público. Contudo, o recorte oferecido por esses discos enfatiza o tom explicitamente despudorado dessa cantora que tinha voz grave e quente.

Marília Mendonça está na história da música brasileira por ter dado voz ativa às mulheres no cancioneiro do universo sertanejo. A cantora encarnou a mulher que ama, sofre e é traída, mas que dá o troco no patriarcado masculino.

Acima de gêneros, Marília foi intérprete de canções românticas pautadas pelo exagero sentimental. E esse tipo de canção sempre existiu na música popular do Brasil. O que vem mudando, ao longo do tempo, é a linguagem, é a sonoridade, não o sentimento universal e atemporal do amor cantado com intensidade pela artista.

Tanto que Marília Mendonça consegue irmanar músicas dos anos 1970, 1980 e 1990 no EP aberto com Leão (Xamã, 2020), a mais fraca das seis composições.

Da década de 1970, a cantora requenta Café da manhã (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978) na cadência popular dos boleros que aquecem corações partidos nos vitrolões acionados Brasil afora. Dos anos 1980, Marília revive sem um sabor especial a já citada música Morango do nordeste, sucesso de Lairton e seus Teclados que ganhou várias vozes ao longo dos últimos 35 anos.

Da década de 1990, a cantora valoriza a balada Pra falar a verdade (Peninha e Régis Danese, 1998) – um dos sucessos do primeiro álbum solo de Daniel – e pesca a pérola rara Nem é bom lembrar (César Augusto e Zezé Di Camargo, 1995), balada menos batida do repertório da dupla Zezé Di Camargo & Luciano.

Completa o EP Uma vida a mais (2020), versão em português – escrita por Marília Mendonça com Maraisa, Juliano Tchula e Gabriel Agra – de Listen to your heart (Per Gessle e Mats Persson, 1988), sucesso da dupla sueca Roxette.

Uma vida a mais é música lançada originalmente pela própria Marília em gravação com Maiara & Maraisa. No EP Decretos reais vol. 2, a versão soa desajeitada.

Ainda assim, se ouvidas na sequência do disco, as seis músicas do EP mostram como Marília Mendonça sabia reinar no palco com “sentimentos exagerados” que ainda ecoam forte no coração do Brasil.

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