Ludmilla vai do céu ao inferno do amor na genérica batida de pagode que embasa o disco Numanice #2

27/01/2022 11h36


Fonte G1

Imagem: ReproduçãoEm contrapartida, Meu desapego (Ludmilla, Umberto Tavares e Jefferson Junior) evolui em tom mais confessional e menos expansivo e feliz, soando quase como lamento pelas desilusões(Imagem:Reprodução)
 “Chega feito criança / Me leva na dança / Apaixonada não te nego / Me leva do céu ao inferno, canta Ludmilla nas ágeis rimas do amor que conduzem Fora de si. Composição da própria Ludmilla, Fora de si é uma das dez músicas autorais do segundo álbum de pagode gravado em estúdio pela artista fluminense, Numanice #2, lançado na noite de ontem, 26 de janeiro.

Ao fazer DR na letra que inclui verso autorreferente (“Quem é você, irmão, que vem para me enlouquecer? / Sabe que a Lud é do mundo e ainda me quer só pra você”), Ludmilla manda recado e sintetiza o tom do disco que dá sequência ao projeto fonográfico de pagode da cantora e compositora projetada como voz do funk, mas desde 2020 também na roda do samba.

Ao longo das dez músicas de Numanice #2, Ludmilla vai do céu ao inferno do amor na genérica batida de pagode que embasa o álbum.

Para quem frequenta as rodas cariocas, cabe ressaltar que o pagode da artista tem raiz distinta do samba colhido nos quintais ao longo dos anos 1980 pela geração de Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho. O samba de Ludmilla descende da linhagem do pagode romântico que brotou em São Paulo nos anos 1990, com influências do soul e do R&B, revelando grupos como Soweto.

Só que esse pagode dos anos 1990 também já se transmutou no século XXI e se misturou com o som genérico rotulado como pop no mainstream do mercado musical.

Esse é o pagode apresentado em Numanice #2. Basta ouvir 212 (Ludmilla, Umberto Tavares, Jefferson Junior) e Cabelo cacheado (Ludmilla) – músicas que se insinuam como R&B antes de entrarem na roda – para localizar o pagode de Ludmilla na árvore genealógica do samba.

212 é música escrita pela artista para celebrar a mulher, Brunna Gonçalves, também musa inspiradora de Maldivas (Ludmilla). Com letra de maroto duplo sentido, embebida em sensualidade (“...Eu sou a melhor DJ / Posso tocar a noite inteira e você pode me pedir replay / Se você cansar ,eu paro só para você descansar / Mas só tem três minutinhos porque a festa vai continuar”), Maldivas é música que exala felicidade de lua-de-mel e que, com outra produção musical, poderia até figurar na discografia pop funk de Ludmilla.

Em contrapartida, Meu desapego (Ludmilla, Umberto Tavares e Jefferson Junior) evolui em tom mais confessional e menos expansivo e feliz, soando quase como lamento pelas desilusões da vida amorosa. Nesse enredo superficial, Ludmilla encarna a amante tão resignada quanto insistente em Meu homem é seu homem (Ludmilla, Umberto Tavares e Jefferson Junior).

Fora da trama amorosa, Maria Joana cai em suingue particular, quase em clima de gafieira, com letra que alude à maconha, assunto recorrente no cancioneiro da compositora de hits como Onda diferente (Ludmilla e Snoop Dogg, 2019) e Verdinha (Ludmilla, Helder Vilas, Topo La Maskara e Walshy Fire, 2019). O arranjo de Maria Joana é a onda diferente de Numanice #2, álbum de arquitetura linear.

Atual na temática ao falar de amor nos tempos das redes sociais – assunto de Me arrepender, parceria de Ludmilla com Brunno Gabriel – e na batida pop que conduz pagodes como Quem é você (Ludmilla e Rafael Castilhol) e Eu estive aqui (Ludmilla, Umberto Tavares, Jefferson Junior), flash de positividade na dicotomia céu-inferno que rege o disco, Numanice #2 ecoa o pagode que os milhões de seguidores de Ludmilla querem ouvir. Para essa imensa legião de fãs, o álbum Numanice #2 faz jus ao título.

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