Juliano Holanda solta o verbo em disco em que a música serve à poesia gerada pela pandemia

19/02/2021 17h33


Fonte G1

Imagem: ReproduçãoClique para ampliar?Tem dias que o tempo desgarra / Tem tempos que o dia demora / Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria / Eu tenho tentado fugir das notícias do dia / Haja terapia?, poe(Imagem:Reprodução)
 “Tem dias que o tempo desgarra / Tem tempos que o dia demora / Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria / Eu tenho tentado fugir das notícias do dia / Haja terapia”, poetiza o cantor e compositor Juliano Holanda em versos de Haja terapia, canção sobre as angústias provocadas pelo isolamento social.

Haja terapia é uma das oito músicas inéditas que compõem o repertório inteiramente autoral do terceiro álbum do artista pernambucano, Por onde as casas andam em silêncio.

Lançado pela gravadora Dubas nesta sexta-feira, 19 de fevereiro, com capa que expõe arte criada por Lucas Torres a partir de foto de Tiago Calazans, o álbum ocupa na discografia do artista o lugar que seria de Sobre a futilidade das coisas, álbum que chegou a ser anunciado por Holanda no primeiro semestre de 2020 e que chegou a gerar single, Eu, cata-vento, editado em 29 de maio.

Como a pandemia gerou sentimentos e músicas mais emergenciais, Juliano Holanda adiou a obra em progresso e produziu Por onde as casas andam em silêncio no inusitado formato de voz e baixo – instrumento que o artista tocou por dez anos antes de passar a priorizar a guitarra.


Na arquitetura do disco, o toque do baixo de Holanda por vezes soa mais sujo, roqueiro, como em Prefácio. Em outras vezes, esse baixo adquire tom mais melódico, suave, como em Daqui da lua (faixa que evolui em apropriado clima espacial) e em Súmula, canções que sobressaem – ao lado de Haja terapia – em safra autoral em que a música parece feita e posta sempre a serviço das letras poéticas.

“Não há queda maior do que cair em si”, sentencia o poeta em Cair em si, exemplo de como a letra geralmente se impõe sobre a música no disco, opção explicitada por Juliano Holanda em depoimento inserido no texto que apresenta o álbum.

A música-título Por onde as casas andam em silêncio – dos versos “Palavras que se pedem, mas não rimam / Todas essas coisas me contaminam” – e a esmaecida canção As pessoas corroboram a ênfase no verbo para exprimir o estado de espírito de tempo atípico na história da humanidade. Até por isso a tristeza é senhora nos versos de As pessoas.

Com aridez evidenciada pelo toque do baixo do artista, Cuidado dá algum alento ao encerrar disco que apresenta seis composições feitas na pandemia entre outras duas já pré-existentes entre os cerca de 600 títulos do cancioneiro autoral de Juliano Holanda, compositor que vem sobressaindo na atual geração pop de Pernambuco e que solta o verbo neste solitário álbum Por onde as casas andam em silêncio.