Gustavo Galo ambienta bem a poesia em Quarto, EP em que o violão viola o silêncio da solidão
22/12/2020 18h41Fonte G1
Imagem: Reprodução
Com lançamento programado para segunda-feira, 28 de dezembro, Quarto alude no nome tanto ao fato de o EP ser o quarto título da discografia solo de Galo – artista paulistano revelado como integrante da Trupe Chá de Boldo – como ao espaço físico em que o disco foi idealizado e gravado, no formato minimalista de voz & violão, com produção dividida entre Galo e Otávio de Carvalho.
Esse espaço é o quarto em que Gustavo vive em aparamento situado na região central da cidade de São Paulo (SP). Na obra fonográfica do cantor e compositor, Quarto sucede a trilogia formada pelos álbuns Asa (2014), Sol (2016) e Se tudo ruir deixa entrar o ruído (2019).
Embora esteja longe de ser violonista virtuoso, Galo se acomoda bem com o instrumento e com a poesia das cinco músicas na ambiência cool deste disco editado pelo selo fonográfico Pequeno Imprevisto, aberto em fevereiro deste ano de 2020 por Eduardo Lemos e Otávio de Carvalho.
Inspirada pelas sensações provocadas pela pandemia, a seleção do repertório molda o retrato do artista quando (ainda) jovem – Galo completou 35 anos em junho – e em isolamento social.
Com capa que expõe arte criada por Ciça Góes a partir de foto polaroid de Júlia Rocha, Quarto foca Galo a partir da janela interior do artista, mas com o olhar para fora, mirando o mundo.
Aberto com a regravação de Até amanhã (2018), parceria entre o compositor Peri Pane e o poeta arrudA lançada há dois anos por Pane no álbum Canções velhas para embrulhar peixes vol. 3, o EP de Galo se alimenta da poesia. “Até amanhã / Cheio de vida”, reforça o artista na repetição do verso-síntese da canção que abre o disco.
“São as flores que me mantém são no apartamento em manutenção”, avisa o cantor, no invariável registro cool, na tensão poética de As flores são, parceria de Galo com Peri Pane. Já Queridos dias difíceis – parceria de Galo com o poeta Ricardo Aleixo – embala a angústia com fina ironia.
Fechando o EP, a regravação de Pra começar (1986) – música de Marina Lima e Antonio Cicero gravada por Marina com pegada roqueira para a abertura da novela Roda de fogo (TV Globo, 1986) – soa oportuna porque renova o sentido da letra de Cicero nestes tempos de pandemia.
O velho mundo está em caquinhos, “quebrou, não tem mais jeito”, mas tudo raia na poesia ambientada por Gustavo Galo em Quarto no silêncio violado pelo violão solitário.