Gal Costa é a estrela-guia que brilha quase sem querer ao conduzir o público em show

13/11/2021 14h35


Fonte G1

Imagem: ReproduçãoContudo, seria injusto deixar de ressaltar a total fluência do roteiro seguido por Gal já como entidade da música brasileira. ?Deusa!?, corroborou, aos gritos, espectador mais desi(Imagem:Reprodução)
Desde que a voz de Gal Costa foi ouvida na casa Vivo Rio na noite de ontem, 12 de novembro, entoando a capella uns poucos versos de Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) na estreia carioca do show As várias pontas de uma estrela, a cantora personificou a estrela-guia que, a partir da obra de Milton Nascimento, norteou em cena caminhos trilhados pela própria Gal desde 1964, ainda na cidade natal de Salvador (BA).

Uma estrela que brilhou quase sem querer, como ressaltaria liricamente – três números depois – ao dar voz a uma canção de Vitor Ramil que propagou há 40 anos no álbum Fantasia (1981).

No roteiro estruturado pelo diretor Marcus Preto, a delicada canção de Ramil – Estrela, estrela (1981) – iluminou caminho seguro que desembocaria, ao fim do show, em músicas lançadas por Gal nos anos 1980, década em que a artista atingiu picos de popularidade e vendas de discos.

Sim, no show As várias pontas de uma estrela, a artista alinha canções afáveis como Açaí (Djavan, 1981), Nada mais (Lately, Stevie Wonder, 1980, em versão em português de Ronaldo Bastos, 1984), Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, 1985), Lua de mel (Lulu Santos, 1984) – bolero sensual havaiano que inspirou o título do controvertido álbum de tom tecnopop, Lua de mel como o diabo gosta, lançado por Gal em 1987 – e Um dia de domingo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1985).

Revivida na abertura do bis na estreia carioca do show, ocupando o lugar que nas duas apresentações paulistanas de As várias pontas de uma estrela foi de Lua de mel (deslocada para o meio do show), a melodiosa balada Um dia de domingo foi o pretexto para a cantora fazer breve discurso sobre a patrulha sofrida por ter gravado músicas da dupla Sullivan & Massadas nos anos 1980.

A alta concentração de canções populares e românticas no terço final do show potencializou a energia (boa) da plateia que lotou a casa Vivo Rio. O coro do público deu o tom caloroso da apresentação em músicas como a citada Nada mais, número que representou pico de intensidade do canto da estrela.

A propósito, a apresentação transcorreu intensa. Havia uma força estranha no ar, talvez porque para cantora e público o show simbolizasse a retomada da vida neste momento de reabertura dos palcos.

“Eu tô achando tudo estranho ainda”, admitiu Gal após percorrer a luminosa Estrada do sol (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1958), número que relacionou com o momento solar em que o Brasil vislumbra (nova?) normalidade.

A emenda de Estrada do sol com Solar (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1982) exemplificou a astúcia do diretor Marcus Preto ao ligar as várias pontas da estrela em roteiro que, na apresentação carioca, gerou ovação quando Gal voltou à seminal canção Baby (Caetano Veloso, 1968), música emblemática na trajetória dessa estrela tropicalista, presente nas três lives da cantora, mas ausente nos repertórios dos shows das duas turnês nacionais anteriores da artista.

Pode-se questionar a ausência no roteiro da música-título do show As várias pontas de uma estrela. Pode-se até lamentar o esquecimento de uma das mais belas canções de Milton Nascimento e Fernando Brant (1946 – 2015), Me faz bem (1987), composição sensual lançada pela própria Gal no mencionado álbum Lua de mel como o diabo gosta, nunca revisitada pela cantora e somente regravada uma única vez, em 2010, pelo próprio Milton.

Contudo, seria injusto deixar de ressaltar a total fluência do roteiro seguido por Gal já como entidade da música brasileira. “Deusa!”, corroborou, aos gritos, espectador mais desinibido assim que Gal, afiada, terminou de cantar Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) na sequência da abertura do show.

Cabe lembrar que o link inicial dessa abertura, com Ponta de areia e Fé cega, faca amolada, reproduz a costura feita por Elis Regina (1945 – 1982) em julho de 1979 em apresentação no Montreux Jazz Festival eternizada postumamente em álbum ao vivo editado em 1982. Só que Elis prosseguia na costura com Maria, Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976), música com a qual Gal encerra o show em número que, na estreia carioca, resultou apoteótico.


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Tópicos: show, nascimento, milton