"Festa" de Elba Ramalho e Fagner com repertório forrozeiro de Luiz Gonzaga resulta protocolar

13/12/2021 16h23


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoElba Ramalho e Fagner(Imagem:Divulgação)Elba Ramalho e Fagner

Luiz Gonzaga (13 de dezembro de 1912 – 2 de agosto de 1989) reinou nos anos 1940 e 1950 como o principal difusor do baião. Sanfoneiro, compositor e cantador arretado, Gonzaga pôs a nação nordestina no mapa musical do Brasil.

Depois desse período áureo, o artista pernambucano perdeu o trono no etnocêntrico eixo cultural capitaneado pelas cidades de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), mas nunca deixou de ser rei no nordeste, terra natal do forró.

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, Luiz Gonzaga continuou contribuindo para animar o repertório dos forrós com discos que ofereciam munição certeira para os arrasta-pés da região.

No álbum Festa, gravado por Elba Ramalho com Fagner e lançado em 10 de dezembro, três dias antes do 109º aniversário de nascimento de Gonzaga, os cantores recorrem (em parte) a esse cancioneiro mais recente, nunca carimbado com o rótulo de “clássico” ou “obra-prima”.

Danado de bom (Luiz Gonzaga e João Silva, 1984), Forró nº 1 (Cecéu, 1985) e Deixa a tanga voar (Luiz Gonzaga e João Silva, 1985) representam bem o repertório dessa fase menos cultuada da obra do Rei do baião no festivo disco dos cantores.

Outro exemplar desse período da discografia de Gonzagão é Pense neu (1984), dengoso xote composto por Gonzaguinha (1945 –1991) e gravado pelo autor com o pai no álbum Danado de bom (1984). Gonzaguinha é também o compositor da afogueada música-título Festa, apresentada por Luiz Gonzaga em 1968 em momento crepuscular da trajetória.

Título inaugural do selo Bonus Track, braço fonográfico de empresa de entretenimento cultural comandada por Luiz Oscar Niemeyer, o álbum Festa transcorre sem erros, mas previsível, por ter sido gravado em zona de conforto ampliada pelo fato de a produção musical ter sido confiada ao sanfoneiro Zé Américo.

Por ser um disco regido pela alegria, Festa deixa sensação incômoda de que faltou real animação aos cantores nesse primeiro projeto fonográfico em dupla. É como se Elba e Fagner estivessem batendo ponto no tributo a um artista referencial que ambos já celebraram com mais pujança nas respectivas discografias individuais (no caso de Fagner, em dois álbuns gravados com o próprio Gonzaga em 1984 e 1988).

Para perceber a diferença, basta comparar o percurso de Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) seguido corretamente pelos cantores com o registro feito por Elba com maior rigor estilístico no exponencial álbum Leão do norte (1996).

A inusitada seleção de repertório contribui para diluir (um pouco) a sensação de burocracia e obviedade que permeia o álbum Festa. Marota música-título do último disco de Gonzaga, Vou te matar de cheiro (Luiz Gonzaga e João Silva, 1989) tinha sido até então lembrada somente por artistas de visibilidade restrita ao nordeste, como a banda Mastruz com Leite e o cantor Petrúcio Amorim.

Vou te matar de cheiro reforça o tom forrozeiro de disco que abarca Baião da Penha (Guio de Moraes e Davi Nasser, 1951) e que somente abre espaço para a melancolia em Sanfona sentida (Dominguinhos e Anastácia, 1973) e A morte do vaqueiro (Nelson Gonzaga e Nelson Barbalho, 1963).

Xote machista que cuja letra cerceia a liberdade de a mulher se vestir com roupas curtas, Facilita (Luiz Ramalho, 1973) ganha a voz de Elba em medley que prossegue com O cheiro da Carolina (Zé Gonzaga e Amorim Roxo, 1956) e volta para Facilita no mesmo tom ideologicamente incorreto no Brasil de 2021.

A propósito, o fato de a junção das duas músicas já ter sido feita pela cantora no álbum Elba canta luiz (2002) somente reforça o caráter protocolar da festa feita por Elba Ramalho e Raimundo Fagner na volta para o aconchego do repertório de Luiz Gonzaga neste disco tão correto quanto burocrático.

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Tópicos: gonzaga, cantores, disco