Dupla Anavitória apresenta algumas canções certeiras no álbum "Cor" sem se desprender do passado
02/01/2021 17h09Fonte Globo.com
Imagem: Breno Galtier
Dupla Anavitória apresenta algumas canções certeiras no álbum "Cor" sem se desprender do passado
Dupla Anavitória apresenta algumas canções certeiras no álbum "Cor" sem se desprender do passado“Ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância. As minhas necessidades e as minhas relações. A minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele”, sentencia ninguém menos do que Rita Lee ao recitar versos embutidos em Amarelo, azul e branco (Ana Caetano e Vitória Falcão), música que abre o quarto álbum de Anavitória com tributo à terra natal da dupla.
Lançado sem aviso prévio nesta sexta-feira, 1º de janeiro de 2021, o disco mostra que Ana Caetano e Vitória Falcão tentam experimentar maior liberdade artística sem se desprender do passado que transformou a dupla – formada em 2013 em Araguaína (TO), cidade do interior do Tocantins – em um dos nomes mais lucrativos da indústria da música nos últimos cinco anos.
“O norte é a minha seta, o meu eixo, a minha raiz”, aponta Anavitória em verso de Amarelo, azul e branco, faixa na qual sobressai a pulsação da percussão de Felipe Roseno e da bateria de Valmir Bessa.
Com 14 músicas em repertório que somente se desvia do trilho autoral em Dia 34 (Tó Brandileone e Fábio Sá), o álbum Cor foi gravado com produção musical dividida entre Ana Caetano e Tó Brandileone, integrante do grupo paulistano 5 a Seco que já tinha sido arregimentado para pilotar o álbum anterior da dupla, N (2019), dedicado ao cancioneiro do compositor Nando Reis.
Tal como já ocorrera em N, disco valorizado pela elegância dos arranjos, Cor é álbum de produção musical sobressalente. O arranjo de Terra (Ana Caetano), por exemplo, exemplifica a evolução de Anavitória nesse quesito. Tanto que há, em Cor, faixas em que o arranjo e a produção musical soam mais interessantes do que a canção em si, caso de Tenta acreditar (Ana Caetano e João Ferreira).
Contudo, há munição certeira na safra autoral de Cor, primeiro disco da dupla sem o selo e o aval da Universal Music (o primeiro independente álbum, Anavitória, foi licenciado em 2016 para a gravadora multinacional). Explodir (Ana Caetano) é o fofolk pop romântico típico da dupla. Selva (Ana Caetano e Tó Brandileone) é canção sedutora, escrita com rimas feitas com palavras proparoxítonas em letra que soa charmosa, ainda que distante da engenhosidade de Construção (Chico Buarque, 1971).
Eu sei quem é você (Ana Caetano) é balada que soa tão convencional quanto fluente. Cigarra (Ana Caetano) é canção afetuosa, levada com delicadeza no ukelele (tocado por Tó Brandileone) e no violão (de Conrado Goys) com a base suave da percussão de Felipe Roseno e do próprio Tó.
Ainda é tempo (Ana Caetano) é balada conduzida pelo piano de Mari Jacinhto em gravação que esboça a densidade possível na obra de dupla que canta para geração de ouvintes refratários a qualquer rasgo de profundidade. A balada Abril (Ana Caetano) segue essa linha densa no mesmo limite da intensidade suportada pelo público de Anavitória.
Te procuro (Ana Caetano, Nina Fernandes, Saulo Fernandes) é canção que expia a sofrência de amor doído. Já Carvoeiro (Ana Caetano e Deco Martins) sinaliza, já na 13º faixa, que Cor é álbum longo demais para os padrões fonográficos dos anos 2020, embora seja louvável a atitude da dupla de não apresentar o álbum fatiado em EPs ou singles, como virou praxe no mercado.
Das 14 faixas, há resquícios de maior inventividade em Te amar é massa demais (Ana Caetano) – música light que cai em suingue percussivo evocativo da batida do samba-reggae – e Lisboa (Ana Caetano e Pedro Novaes), boa canção final que junta as vozes de Anavitória com o canto suave de Lenine.
Lenine é participação inusitada e realmente especial em Cor, álbum que expõe Ana Caetano e Vitória Falcão ainda presas a um passado que lhes trouxe glória precoce.
O tempo é agora, como a dupla já sentenciou no título do segundo álbum das artistas, lançado em 2018, mas, sim, é difícil não se deixar escravizar pelo sucesso.
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