Domenico Lancellotti atravessa ondas da arrebentação com a mansidão que pauta o disco Raio

11/04/2021 11h37


Fonte G1


Imagem: ReproduçãoClique para ampliarIndependentemente das origens de cada tema, o conjunto das 12 músicas de Raio flui com leveza e organicidade no disco, como onda em mar calmo. Até a envolvente canção Confusão vers(Imagem:Reprodução)
 Quando o cantor, compositor e baterista fluminense Domenico Lancellotti disparou em 5 de março o primeiro single do álbum Raio, Vai a serpente, uma das músicas compostas pelo artista com Bruno Di Lullo, ficou claro que Raio cai no suingue de João Donato.

A obra do compositor e pianista acreano sempre foi uma das assumidas influências da geração musical de Domenico, revelada na década de 1990 e projetada a partir dos anos 2000. Terceiro álbum solo do artista, título inaugural do recém-aberto selo lusitano Arraial, Raio sintetiza influências brasileiras ao lado de 12 inéditas músicas autorais, indo além desse arco referencial.

Margem do céu, outra parceria de Domenico com Di Lullo, ecoa a bossa de Marcos Valle, outra referência de Domenico, expoente da geração pop que floresceu na cena indie carioca, avalizada por nomes do mainstream como a antenada Adriana Calcanhotto – visionária ao recrutar a turma de Domenico, Kassin e Moreno Veloso para o álbum Cantada (2002) – e Gilberto Gil.

Gravado entre Petrópolis (RJ) e Lisboa, cidade-capital de Portugal, país para onde Domenico migrou em 2019 no rastro de outros brasileiros que fizeram o mesmo percurso tão geográfico quanto político, o álbum Raio consegue fugir da sina de simplesmente reverberar os balanços de mestres antecessores.

“Raio é um fogo criativo que cai sobre as nossas cabeças, mas que, por debaixo da terra, são raízes, formas muito semelhantes de carregamento. Por isso, pus esse acento no i em forma de z, criando a possibilidade de lermos também raiz”, teoriza Domenico, em rede social, a respeito da apresentação gráfica do título do disco na capa desse álbum já disponível em edição digital desde 26 de março e programado para ser lançado em LP, em 28 de maio, com tiragem limitada de 300 cópias.

A raiz, no caso, está fincada em terras indígenas, mas brota com sutileza ao longo do disco. O universo indígena foi uma das fontes de inspiração para a criação do repertório, precisamente na composição de músicas como Lanço minha flecha – faixa em que sobressai o toque da guitarra de Pedro Sá – e no baticum que embasa a gravação de Snake way, uma das duas parcerias em inglês do artista com Nina Miranda (a outra, Mushroom room, versa sobre lisérgica viagem feita com cogumelos).

Cantora e compositora de origem brasiliense e vivência inglesa, Nina Miranda participa das duas faixas deste disco que filtra as referências da música do Brasil por tom contemporâneo de sotaque universal.

As origens do repertório são diversas. O tema instrumental Dynamo e Newspaper, por exemplo, são músicas criadas a partir de convite feito a Domenico em 2018 por Lúcia Koch para a criação da trilha sonora de instalação de arte apresentada em Kansas City, cidade do estado norte-americano do Missouri (EUA).

Independentemente das origens de cada tema, o conjunto das 12 músicas de Raio flui com leveza e organicidade no disco, como onda em mar calmo. Até a envolvente canção Confusão versa poeticamente, sem perder a ternura, sobre a turbulência que agita o Brasil como tsunami e leva pessoas como Domenico a atravessar o mar em busca de portos mais seguros.

Onda do mar, a propósito, é o nome de uma das músicas desse disco leve. A música já nasceu em Portugal. A melodia é de Domenico. A letra é de Alvinho Lancellotti, irmão do artista.

Parceria de Domenico com Alberto Continentino, a balada Vinho velho é para ser sorvida no clima zen que pauta o álbum Raio. Em Hordas, música de Domenico com letra de Negro Léo, esse clima fica quase etéreo em gravação conduzida por violão.

Ao longo das 12 faixas de Raio, Domenico Lancelloti atravessa as ondas da arrebentação sem perder no horizonte a mansidão que o guia no curso desse disco gravado com músicos como Alberto Continentino (baixo, guitarra e synth), Bem Gil (violão), Bruno Di Lullo (guitarra, baixo, piano, synth, teclados e violão), Danilo Andrade (teclados), Joana Queiroz (clarinete, clarone e piano) e Piotr Zabrodsky (órgão, teclados e piano).

“Eu, na minha prancha, sobre o mar / A flutuar na imensidão / Tudo se move sem parar / As ondas vem, as ondas vão / Mas a canção / Não vão levar / A minha paz”, avisa Domenico Lancellotti nos versos da já mencionada canção Confusão, um dos destaques do repertório.

Mesmo que o “fogo criativo” do álbum Raio tenha caído sobre a cabeça de Domenico Lancelotti, o coração do artista parece continuar sitiado pela paz, âncora que o faz atravessar em harmonia as tais ondas da arrebentação.

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Tópicos: disco, raio, domenico