Chico Xavier: o médium filho de analfabetos que vendeu 50 milhões de livros

30/06/2022 11h06


Fonte G1

Imagem: ReproduçãoFrancisco Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002), costumava dizer que iria
 Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier (1910-2002), costumava dizer que iria "desencarnar" em um dia de festa para o Brasil, para que sua morte não fosse lembrada com tristeza.

Para os céticos, uma coincidência; para os que acreditam, mais uma prova das capacidades do médium — Xavier morreu exatamente há 20 anos, no mesmo domingo em que o Brasil venceu a Alemanha na final da Copa do Mundo e conquistou o sonhado pentacampeonato.

Ele tinha 92 anos e era uma personalidade amplamente conhecida no país. O filho de um vendedor de bilhetes de loteria e de uma lavadeira, ambos analfabetos, havia se tornado o maior médium brasileiro, tendo escrito mais de 10 mil cartas psicografadas e se consolidado como dono de uma obra de mais de 450 livros — cuja autoria sempre foi atribuída a espíritos. No total, vendeu cerca de 50 milhões de exemplares.


Nascido em Pedro Leopoldo, pequeno município na região metropolitana de Belo Horizonte, Xavier alcançou a notoriedade com a publicação de seu primeiro livro — embora fenômenos mediúnicos já fizessem parte de sua vida desde a tenra idade.

Em 1932, quando ele ganhava a vida como vendedor e tecelão e costumava publicar poesias em jornais — sempre atribuindo os textos a autores mortos —, ele lançou a antologia Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de 60 poemas, assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo.

A edição ficou por conta da Federação Espírita Brasileira. E o livro alcançou repercussão no meio literário. "Ele tinha pouco mais de 20 anos e era um matuto, um menino do interior de Minas Gerais, filho de pais analfabetos, que colocava no papel poemas assinados por nomes como Castro Alves, Augusto dos Anjos… E afirmava: foram eles que escreveram, não fui eu, conta o jornalista e escritor Marcel Souto Maior, autor de, entre outros, "As Lições de Chico Xavier" e "As Vidas de Chico Xavier".

"Era uma época em que ele, que já havia trabalhado numa fábrica de tecidos, trabalhava 12 horas seguidas por dia como vendedor no armazém de um tio. Tinha pouco tempo para leitura e para exercícios de escrita", comenta Souto Maior. "O livro foi publicado e provocou uma grande comoção, atraindo a curiosidade dos principais escritores da Academia Brasileira de Letras."


Segundo o biógrafo, "95% dos escritores ficaram impressionados com a qualidade e a versatilidade da escrita", sendo que alguns comparavam com textos escritos em vida pelos autores ali citados e encontravam muitas semelhanças no estilo, na métrica e na temática.

Foi um impacto muito forte. E isso levou jornalistas a Pedro Leopoldo, alguns interessados em desvendar aquele enigma, outros querendo desmascarar aquela fraude, prossegue Souto Maior. "Houve um impacto positivo e também um impacto negativo na repercussão."

Tal dicotomia perseguiu Xavier por toda a vida. "De um lado, admiradores; de outro, profunda desconfiança", comenta o jornalista. "Mas neste início dele, vejo algo forte e interessante. Ele foi se tornando uma figura conhecida. E polêmica."

E se ele sempre manteve a simplicidade no seu dia a dia — três anos depois, assumiu um posto de escrevente-datilógrafo em uma fazenda modelo ligada ao Ministério da Agricultura —, a escrita passou ser parte indissociável de seu dia a dia como médium.

De certa forma, foi essa obra literária mediúnica que atraiu Souto Maior ao universo de Xavier. Ele se recorda que, nos anos 1990, era então subeditor de Cultura do Jornal do Brasil quando ficou curioso para ver uma peça de cunho espírita que estava arrebatando as bilheterias no Rio de Janeiro. Era "Nosso Lar", baseada no best-seller homônimo psicografado por Xavier.

"Recordo-me até hoje do que escrevi depois, no jornal, sobre a experiência, aquele universo em que o centro era Chico Xavier. Coloquei no papel que ele havia então escrito mais de 400 livros, vendido mais de 30 milhões de exemplares e doado toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes", relata o jornalista.

Xavier costumava dizer que os livros não pertenciam a ele. Que ele não havia escrito nada, mas que eram obras dos espíritos. "Aquilo para mim era muito intrigante. Por isso decidi ir até Uberaba, apesar de muito cético, muito descrente", diz.

Era em um centro espírita na cidade do Triângulo Mineiro que o médium então exercia suas atividades.


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