CCBB-RJ: Clube de Leitura traz Rubens Paiva em memórias e investigação

13/05/2025 14h35


Fonte Agência Brasil

Imagem: CCBB/DivulgaçãoCentro Cultural Banco do Brasil CCBB.(Imagem:CCBB/Divulgação)Centro Cultural Banco do Brasil CCBB.

O escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva e a também jornalista, escritora e apresentadora Juliana Dal Piva têm trabalhos que se entrelaçam pelas histórias abordadas. Essa ligação levou o Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, no centro da cidade, a convidar os dois para a terceira edição deste ano. O encontro será nesta quarta-feira (14), às 17h30.

Imagem: Cia das Letras/DivulgaçãoClique para ampliarMarcelo Rubens Paiva(Imagem:Cia das Letras/Divulgação)Marcelo Rubens Paiva
Enquanto Marcelo vai conversar com o público sobre as histórias do seu livro Ainda Estou Aqui, que baseou vencedor do Oscar de Filme Internacional em março deste ano, a participação de Juliana é sobre Crimes sem Castigo: Como os Militares Mataram Rubens Paiva, o livro documental que foca na investigação do desaparecimento do ex-deputado federal Marcelo Rubens Paiva durante a ditadura militar.

Em Ainda Estou Aqui, a personagem principal é Eunice Paiva, casada com o deputado Rubens Paiva, que esteve ao lado dele quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, entre eles Marcelo, teve que criá-los sozinha após o marido ter sido preso por agentes da ditadura, em janeiro de 1971, torturado e morto. Mesmo diante de tanto sofrimento resistiu, voltou a estudar, formou-se em direito e tornou-se defensora dos direitos indígenas. No livro, ao falar da doença de Alzheimer da mãe, Marcelo traz memórias da família, incluindo os momentos difíceis sem a presença do pai que foi levado sem explicações.

O engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva nunca mais voltou para casa depois de ser levado, pelo grupo de militares, na presença da mulher e de filhos. Foram anos de tentativas de Eunice para saber o que tinha ocorrido na verdade com o marido e onde ele estava.

Investigação

No livro Crime sem Castigo: Como os Militares Mataram Rubens Paiva, Juliana Dal Piva trata da investigação do caso e mostra como o processo, aberto em 26 maio de 2014, por homicídio e ocultação de cadáver do ex-deputado federal Rubens Paiva, deu um novo rumo no poder Judiciário brasileiro para a impunidade contra os crimes cometidos por militares durante a ditadura iniciada em 1964. Pela primeira vez, a ação de um juiz pedia a punição criminal de um assassinato cometido naquele período.

A tarefa de desvendar o caso não foi fácil e teve monitoramento da ditadura a cada passo dado no sentido de descobrir o que tinha ocorrido e impedir que a verdade aparecesse. Somente em 2014, foi possível que o grupo de Justiça de Transição do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPRJ) resolvesse o caso, o que resultou em cinco militares apontados pelo assassinato de Rubens Paiva.

Imagem: Custódio Coimbra/Clube de LeituraClique para ampliarJuliana Dal Piva se dedicou a investigar a vida de Rubens Paiva.(Imagem:Custódio Coimbra/Clube de Leitura)Juliana Dal Piva se dedicou a investigar a vida de Rubens Paiva.
“O filme e sobretudo o trabalho do livro do Marcelo gerou isso. Eu fico feliz em me somar a isso e somar a esse trabalho. Para o Marcelo é a vida, a história, a biografia dele. Ele vai com este olhar de dentro da família e eu sou uma jornalista que faz investigação. Me dediquei a investigar o desaparecimento do pai dele. O meu livro reúne muito mais do que o meu trabalho em torno disso, mas todas as iniciativas que se fizeram de investigação sobre o assassinato e o desaparecimento de Rubens Paiva desde 1971”, analisou em entrevista à Agência Brasil.

O encontro será uma oportunidade de juntar a literatura da obra de Marcelo Rubens Paiva com o testemunho da história do país do livro de Juliana Dal Piva.

“Como o Marcelo não trata especificamente do crime com os detalhes, com tudo que eu trago como jornalista, acho que a gente consegue fazer uma conversa em que a literatura está no cenário dos dois modos, mas eu trago o jornalismo, a investigação e a luta por justiça por um lado e ele por outro", pontuou a escritora.

"Acho que o Oscar simbolizou uma vitória em algum sentido, alguma justiça para a família do Rubens Paiva, para o Marcelo e demais filhos. Para além da família Paiva, acho que o Oscar do filme Ainda Estou Aqui também faz justiça às demais vítimas da ditadura e seus familiares, porque fazer com que o mundo conheça quão brutal e monstruosa a ditadura brasileira foi, é uma vitória importante mesmo que ainda assim seja incompleta, mesmo que o desejo por justiça seja mais amplo”, concluiu.

Linguagem

A curadora e mediadora do Clube de Leitura, Suzana Vargas, disse que esta edição trará um mesmo fato à luz da literatura com a vivência de uma família dentro da ditadura, ao mesmo tempo em que trata da sua parte documental sobre o que aconteceu com o ex-deputado federal.

“Vamos poder pensar qual o sentido da literatura e o valor de um documento, como essas duas linguagens são importantes. Em um Clube de Literatura, que trabalha literatura, não existe nada melhor do que se conscientizar de que a literatura nos devolve a vida de uma forma mais humana. O livro Ainda Estou Aqui mostra esse fato por dentro como foi vivenciado pelas pessoas que fizeram parte desse acontecimento, como afetou as pessoas em volta, a família, amigos e principalmente a personagem principal do livro e do filme que é a Eunice Paiva”, disse à Agência Brasil.

“A Eunice surge com muito mais força na literatura. A literatura é que mostra a Eunice protagonizando, mas no livro da Juliana o protagonismo é do desaparecido, do Rubens Paiva”, acrescentou.

O poeta Ramon Nunes Mello, que será mediador da conversa com Suzana Vargas, revelou que está com uma expectativa muito grande, porque o encontro trata da memória do país e sobretudo do livro do Marcelo que inspirou o filme que ganhou o Oscar.

Para o mediador o relato do Marcelo neste livro é muito emocionante porque trata não somente da questão do desaparecimento do Rubens Paiva pela ditadura, mas também traz a mãe dele com um olhar muito humano e afetivo sobre a questão de uma mulher que lutou pela memória do marido e que perdeu a memória com a doença.

“Acompanhar este trajeto dela de luta política, não só pelo Rubens Paiva, mas pelos indígenas, e ver ela na sua intimidade perdendo memória e cuidada pelos filhos é muito forte. Quando vem o livro da Juliana Dal Piva em que ela pesquisa justamente o episódio do Rubens Paiva é um complemento grande porque é um trabalho primoroso de jornalismo investigativo político tratando de uma questão que é muito atual, política no sentido de se preservar a democracia e a luta dos direitos humanos. Vai ser uma conversa muito interessante”, adiantou à reportagem.

Evento

O Clube de Leitura CCBB, que tem patrocínio do Banco do Brasil, completa quatro anos e busca a interface da literatura com outras artes como a música, o teatro e o cinema. A participação de Marcelo será online, em tempo real, enquanto Juliana estará presente na companhia dos mediadores Suzana Vargas e Ramon Nunes Mello. A entrada é gratuita e os ingressos ficam disponíveis a partir das 9h do dia do evento.

Os eventos realizados no Salão de Leitura da Biblioteca Banco do Brasil, no quinto andar do CCBB Rio, são gravados e os vídeos ficam disponíveis, na íntegra, no canal do Banco do Brasil no YouTube, na semana seguinte ao evento. As edições de 2025 seguem até dezembro, sempre na segunda quarta-feira de cada mês. Nos 30 minutos finais o microfone é aberto para a plateia fazer perguntas.


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Tópicos: brasil, livro, literatura