Aldir Blanc deixa obra com João Bosco que ´´caiu como viaduto´´ sobre a ditadura dos anos 1970

04/05/2020 16h33


Fonte g1

Imagem: ReproduçãoCapa de disco(Imagem:Reprodução)
Capa de disco 
Talvez tenha sido mero capricho do destino ou trapaça da sorte, mas o fato de o elo profissional de João Bosco com Aldir Blanc (1946 – 2020) – fortalecido ao longo da década de 1970 – ter começado a afrouxar justamente em meados dos anos 1980 revela muito sobre a natureza combativa da parceria do compositor mineiro com o letrista carioca, dissolvida em 1986 e retomada em 2005 sem a mesma repercussão popular.

Compositores que formaram uma das duplas fundamentais da MPB dos anos 1970, João Bosco e Aldir Blanc construíram obra que “caiu como um viaduto” sobre a ditadura brasileira. Ruída a ditadura, em 1985, foi como se não houvesse mais razão de ser para essa parceria que se aliou às lutas inglórias do povo que sobrevive na pátria nada gentil e tampouco materna.

Feita no verso inicial da canção O bêbado e a equilibrista (1979), hino da anistia vinda com a abertura iniciada em 1979 de forma “lenta, gradual e segura”, a alusão à queda do viaduto Paulo de Frontin, ocorrida em 1971 na cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi somente uma prova da engenhosidade de Aldir Blanc na escrita de letras que, muitas vezes, desafiaram a moral vigente no Brasil sombrio dos anos 1970.

Encerrada melancolicamente em 1986 com a composição do samba João do Pulo, gravado por Bosco no álbum Cabeça de nego (1986), a fase inicial e áurea da parceria de Aldir Blanc e João Bosco jamais fugiu à luta em defesa da liberdade de expressão e contra toda forma de opressão.

A obra da dupla foi artilharia pesada de exército musical em que as armas eram letras escritas com metáforas que deram o recado que precisava ser dado na época. Vitor Martins, letrista das composições de Ivan Lins, também foi soldado valente nesse exército em que Aldir Blanc sobressaiu com versos corrosivos, alvos certeiros nos tiranos que ignoravam a fome que motivava O ronco da cuíca (1976), samba que exemplificou a verve politizada da dupla de compositores.


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Tópicos: parceria, aldir blanc, 1970