Dandara Mariana, estrela de Verão 90, festeja recado de fã: "Você me dá afroestima"

02/06/2019 11h21


Fonte Extra

Imagem: Nana Moraes/DivulgaçãoDandara fez um ensaio animal print,(Imagem:Nana Moraes/Divulgação)

Dandara Brasil deu os primeiros passos para a fama em “Verão 90” como backing vocal e dançarina de Ticiano, grande nome da lambada, vivido por Ícaro Silva. Hoje, na trama, ela superou o sucesso do cantor e se estabeleceu como estrela de primeira grandeza. Homônina à personagem da novela das sete, sua intérprete, Dandara Mariana, segue trajetória muito semelhante na vida real.

A tijucana, de 31 anos, estreou na história com um papel secundário e agora tem status de protagonista. O jeito engraçado e espevitado, as curvas sinuosas, a atitude de mulher poderosa e o talento de ambas as Dandaras ganharam o país! Principalmente das meninas, muitas delas negras, que confiam nelas — atriz e personagem — a responsabilidade de reestruturar a autoestima escondida ou até mesmo perdida para a força de padrões estéticos estabelecidos há tempos.

Imagem: João Cotta/Rede Globo/DivulgaçãoClique para ampliarDandara Mariana encantou o país com sua Dandara Brasil(Imagem:João Cotta/Rede Globo/Divulgação)Dandara Mariana encantou o país com sua Dandara Brasil.

— Uma menina me escreveu: “Você está me dando afroestima, não tem noção de como nos dá força”. Olha que máximo, Dandara Brasil virou referência! Vejo poucas negras em novelas que abordam o racismo dessa forma. É comum mostrar gente triste, reprimida e raivosa — lamenta a atriz, que fala, durante este ensaio de moda com o tema animal print, do carinho do público nas ruas: — É o trabalho de maior projeção da minha carreira. As pessoas torcem por ela e se identificam com a questão da lambada. Muita gente viveu isso, né? As pessoas vêm cantando “Preta, fala pra mim... fala o que você sente por mim”.

A artista entrou na obra de Izabel de Oliveira e Paula Amaral no terceiro capítulo. De maneira tímida, a lambadeira apareceu seis vezes na primeira semana. Manuzita (Isabelle Drummond) e Lidiane (Claudia Raia), as duas principais personagens do folhetim, por exemplo, entraram em cena 38 e 35 vezes, respectivamente, na mesma ocasião. Cinco meses após a estreia, as três já contabilizam o mesmo número de aparições numa semana. A audiência da cena do casamento da dançarina com Quinzinho (Caio Paduan) rendeu 29 pontos, o maior daquela semana e um dos mais altos registrados durante a novela.

— Ela tem star quality (expressão para explicar que a pessoa é uma grande estrela) e força de protagonista — derrete-se Paula, que recorda: — Logo nas primeiras gravações, vi a força que tinha em cena. Ela é perfeita para viver Dandara Brasil. Uma moça trabalhadora e guerreira, que não perde a doçura. Ela toma conta da tela. Sem dúvida, é um dos personagens mais positivos de “Verão 90” e, consequentemente, fonte de inspiração para muitas jovens, sejam negras ou não.

Quem também se rasga em elogios pelas Dandaras é Izabel de Oliveira, que botou os olhos na intérprete após uma conversa com Taís Araújo, que chamou atenção para o trabalho da colega.

— Ela tem exatamente a temperatura da personagem. Gostei dela de cara. É carismática, sensível, extremamente inteligente e tem um entendimento grande do papel — destaca Izabel.

Diretor artístico do enredo, Jorge Fernando conta que “foi se apaixonando aos poucos por Dandara”:

— Ela foi me ganhando com suas cenas, e a nossa convivência ficando cada vez mais próxima. Meu maior presente nesta novela foi conhecê-la e saber que eu posso contar com esse enorme talento, que só tende a crescer.

Antes de se tornar a “Dandara do Brasil” (perdoem o trocadilho), a atriz — formada em Teatro na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) e aluna de Dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro — teve outras experiências na TV, como a Marilda de “A força do querer” (2017), amiga de Ritinha (Isis Valverde), e Tamtam em “Malhação” (2012). Deu vida também, dentre outras personalidades, a Elza Soares na peça “Garrincha” e a Dona Ivone Lara no musical sobre a vida da baluarte. E mais: Dandara ainda foi backing vocal da banda Blitz em 2014.

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliar musical (Imagem:Divulgação) musical 

— Sou uma atriz que canta e quero me tornar cantora. Ter feito parte da Blitz foi maravilhoso. Fiquei pouco tempo na banda, porque tinha contrato de um filme para cumprir. Mas amo cantar, desço escada cantando, dirijo cantando — conta.

Quem solta a voz, desta vez em exaltações, é Elza Soares:

— Dandara tem muita personalidade. Meu conselho é que ela siga em frente, porque a luta é grande. Nada de olhar para trás.

Da mesma forma, Claudia Raia, colega de elenco em “Verão 90” e referência em teatro musical no país, comemora:

— É sempre bom ver uma atriz jovem e dedicada ganhando espaço ao contar uma história tão legal na TV. A repercussão da Dandara na novela é fruto do trabalho dela.

De volta aos temas sensíveis da sociedade, Dandara Mariana lembra que seu repertório de argumentos e sentimento de pertencimento sobre sua história foram construídos dentro de casa. Filha do ator Romeu Evaristo (o primeiro Saci do “Sítio do Picapau Amarelo”), de 63 anos, e da gerente de consultoria e projetos aposentada Elizabeth Correa Nahas, de 62, ela destaca que a mãe foi peça fundamental para sua autoestima.

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarElizabeth Correa Nahas(Imagem:Divulgação)Elizabeth Correa Nahas

— Minha mãe é branca de cabelo liso, e eu não me pareço com ela. Então, esteticamente, não é meu espelho. Mas ela sempre me colocou para cima, deixou claro que eu era uma garota bonita. Isso foi importante pra mim. O afeto de mãe serve para tudo. Lembro que ela me estimulava muito a assumir meu cabelo. Na época, minha maior referência era Mel B (cantora do grupo inglês Spice Girls). Eu amava a atitude dela, que dança e canta muito. Por isso, é importante termos em quem nos espelhar. Agora, Dandara está neste lugar — celebra ela, para enaltecer o pai: — Ele é meu amorzão, sempre preocupado por eu ter escolhido a mesma profissão que a dele. Meus pais são verdadeiros, não perderam o senso crítico por sermos família.

Com a palavra, Romeu Evaristo confessa que tentou evitar que os filhos (ele e a mulher são pais também do geofísico e saxofonista Noah, de 28 anos) mergulhassem de cabeça na carreira artística. Tudo no intuito de poupá-los das instabilidades. Mas, quando viu a filha no palco na peça “Noites de reis” (2009), entregou os pontos.

— Ela ainda estudava na CAL. Numa apresentação, chorava com vontade, tinha muita dramaticidade em cena. E eu vi aquilo tudo impactado. Quando terminou, eu disse: “Minha filha, você é uma artista”. Não tinha mais jeito de segurá-la. E, quando essa personagem chegou, eu falei: “Cai dentro”. Estimulo, mas falo todos os dias: “Sucesso é temporário, e você está só começando”. Dandara Brasil é ótima, mas é mais um degrau na sua vida. Procuro tirar todo o deslumbramento da profissão. Nessa carreira, o que vale é a continuidade — argumenta o ator, que está no elenco de “Bom sucesso”, trama que sucederá “Verão 90”.

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarRomeu Evaristo(Imagem:Divulgação)Romeu Evaristo

Romeu Evaristo também já orientou a filha a fazer as malas e ir para os EUA assim que acabar a novela:

— Falo para estudar mais, melhorar o inglês. Temos que estar preparados para as próximas oportunidades.

Enquanto não bate o martelo se vai para a terra do Tio Sam e ainda vive intensamente a repercussão do atual trabalho, Dandara, que namora o empresário Alessandro Mota (abaixo), de 31, relembra a cena em que sua personagem teve os cabelos alisados por maldade da sogra, Mercedes (Totia Meireles), e diz que nunca se rendeu à prática:

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarAlessandro Mota(Imagem: Divulgação)

— Essa menina é muito bem resolvida com seu cabelo, é instruída, sabe se impor e vem combatendo esse olhar preconceituoso de quem acha que existe um esteriótipo para ser aceito dentro dessa sociedade com tantos valores deturpados. Hoje em dia, a gente pode ter os fios de tudo quanto é jeito: trançados, alisados, com mega hair. Uma menina negra não precisa, necessariamente, permanecer com o cabelo crespo. Ela tem que ser feliz como deseja. Passamos a vida inteiro ouvindo que nossa beleza não fazia parte do que é belo. Já entendemos que a mudança de visual deve ser consciente, não para entrar num padrão.

Defensora das vontades próprias de cada um, Dandara relata que um dia já foi vítima da opinião alheia.

— Não era completamente bem resolvida com meu cabelo. Só o usava preso, não me sentia bem com ele armado. Eu me limitava. Ficava o tempo inteiro de rabo de cavalo. Mas quem disse que nosso cabelo é ruim? Ele fica bem em qualquer penteado — garante ela, para logo depois falar sobre a origem do seu nome: — É homenagem a uma guerreira (casada com Zumbi dos Palmares). Não à toa, nasci no dia 13 de maio de 1988, 100 anos após a abolição. É muito significativo para mim.

Criada na classe média carioca e estudante de escola particulares, a tijucana — hoje moradora do Recreio dos Bandeirantes, bairro da Zona Oeste — entende que foi poupada de muitas questões sociais.

Imagem: Nana Moraes/DivulgaçãoClique para ampliarDandara Mariana(Imagem:Nana Moraes/Divulgação)Dandara Mariana

— Tenho consciência do meu privilégio. Quando você tem dinheiro, acaba embranquecido pela sociedade. Louco, né? Nunca estudei numa escola pública e tem coisas que eu não sei o que são. Mas tenho certeza de que todas nós, meninas negras, convergimos em um ponto. Ter estudado sempre em colégio particular, por exemplo, me fez não ter referências naquele ambiente. Eu não tinha colegas negras, por exemplo, e minha autoestima era abalada. Com o tempo, entendi minha estética. Acho importante se reconhecer por outros ângulos. A beleza está na diversidade — defende ela, que lembra um episódio recente de racismo: — Faço pilates num lugar frequentado majoritariamente por brancos. Um dia, enquanto ia para a sala de exercícios, uma moça me abordou achando que eu era manicure. Tudo bem ser manicure. Mas, na cabeça dela, eu era o esteriótipo da profissão, alguém que estivesse servindo. E falei: “Não, estou indo fazer pilates. Mas a manicure é aquela menina branca ali”. Ela ficou muito sem graça e me pediu mil desculpas.

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