A moda que machuca? Por que tantas famosas vestem looks desconfortáveis
28/05/2025 09h46Fonte G1
Imagem: Reuters/Reprodução/AFP
SZA, Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine.

Marina Ruy Barbosa chama de “obra-prima” o look que usou no Baile da amfAR, em Cannes, na semana passada. “O vestido dos meus sonhos”, ela descreve no post em que ostenta a roupa, que pesa mais de 15 quilos e que deixou seu braço roxo, inchado e com veias salientes.
Assim como ela, a cantora SZA vestiu um look bem desconfortável no American Music Awards, que aconteceu nessa segunda-feira (26). Extremamente apertada, sua saia limitou a movimentação das pernas, fazendo com que a americana dependesse de uma ajudinha (de mais de uma pessoa) para andar pelo evento — que dirá, então, subir no palco.
Nem SZA, nem Marina pareceram se preocupar com as consequências ao corpo. Pelo contrário. As duas se mostraram bem orgulhosas pelas roupas. Bastante sensual, o look da americana deu a ela uma silhueta-violão. Já o vestido da brasileira é todo reluzente e traz pedras nitidamente valiosas — a peça foi desenhada por Olivier Rousteing, diretor criativo da Balmain.
Elas não são as únicas celebridades a posar com looks desconfortáveis. Colocar o glamour à frente do bem-estar já foi escolha de bastante gente famosa, principalmente em eventos de gala.
"Não dava para respirar"
Depois de brilhar no Met Gala 2024, Bruna Marquezine confessou que seu vestido a deixou meio sufocada: "Não dava para respirar. Eu mandei apertar tudo que dava, tudo que tinha".
O tecido era tão grosso que chegou a cortar a pele da atriz. Para não sangrar no evento, ela pôs uma fita adesiva na perna.
Quem também já se sentiu sufocada por um vestido foi Elle Fanning. Em 2019, a americana desmaiou no Festival de Cannes. Depois, explicou que passou mal porque não conseguia respirar direito de tão apertado que estava o look.
"Ops, tive um desmaio hoje com meu vestido Prada da década de 1950, mas está tudo bem! Vestido apertado demais", escreveu ela em um post com sua foto sorrindo.
Naquele mesmo ano, a modelo Kim Kardashian foi ao Met Gala com um vestido que a impedia de sentar. Em 2024, voltou ao evento com um espartilho ainda mais extremo que deixou sua cintura afinadíssima. Como consequência, ela ficou parecendo uma Barbie e respirou com dificuldade durante toda a festa.
Imagem: Dia Dipasupil/Getty Images / AFP
A modelo Kim Kardashian no Met Gala 2024.

Quinze quilos de status
A ideia de trajes pesados, difíceis, ou que causam ferimento está historicamente ligado à nobreza, explica Fernando Hage, professor e especialista em moda. "Os nobres usavam trajes feitos para gerar uma ideia de poder, força ou riqueza."
"Essas roupas eram muito usadas em bailes de realeza ou representadas em quadros para diferenciar classes sociais. É um tipo de roupa que tem muito mais função de discurso do que aquela usada no dia a dia."
Quanto mais complexo fosse o traje, maior prestígio haveria em seu entorno. Durante séculos, o conceito de elegância na moda ficou atrelado à ideia de exagero. Por isso, nobres usavam bastante roupas bufantes, bordados, várias camadas e design extravagante.
Até o século 18, o conforto não era uma prioridade têxtil. Fernando ressalta que a própria noção de conforto era diferente da de hoje, no entanto.
Imagem: Reprodução/Instagram
Marina Ruy Barbosa explica motivo de braço roxo durante baile da amfAR, em Cannes.

Ele também explica que esses trajes complexos não eram apenas para expressar poder, embora isso fosse, sim, o principal foco. O excesso de tecido se tornava aconchegante no inverno, e as armaduras masculinas eram revestidas por materiais potentes.
Hoje, porém, esse tipo de look perdeu utilidades práticas, ficando restrito à mensagem que tenta passar. Toda essa associação entre elegância e moda complexa continua existindo. Só que, agora, isso surge em meio à era das redes sociais, em que qualquer roupa está a um clique de repercussão.
Pretty hurts
"Marina Ruy Barbosa estava usando um vestido-armadura. Uma roupa que não é prática, mas funciona como armadura social", diz Fernando. "É a moda sendo usada como fórmula de articular uma imagem de poder."
Somado à ideia de que "chique é ser inalcançável", está a busca pelo corpo perfeito. Pressão estética que recai principalmente sobre as mulheres.
No documentário "Eu Sou: Celine Dion", a cantora diz que por várias vezes forçou seus pés a caberem em sapatos de numeração menor, o que obviamente causou fortes ferimentos nela. "Quando uma garota ama o sapato, ela vai fazer servir", diz Celine na cena em que descreve o impacto disso em seu corpo.
Culturalmente, existe um estímulo à obsessão feminina pela própria imagem. Isso se reflete tanto em um excesso de cirurgias plásticas quanto no uso de roupas de numeração menor, por exemplo.
Fernando diz que, além disso, muitos looks femininos são desenhados por estilistas homens que projetam ali "um ideal de mulher". O problema é que esse ideal é justamente o de uma beleza que machuca.
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