Senadora cassada diz que deixará PSL pelo Podemos

15/09/2019 09h03


Fonte Estadão Conteúdo

Imagem: Estadão ConteúdoClique para ampliarSenadora Selma Arruda(Imagem:Estadão Conteúdo)

Sob a vista de um quadro de Jesus, de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e de uma escultura de um Cristo crucificado - nas paredes de seu gabinete -, a senadora de primeiro mandato Selma Arruda (MT), juíza aposentada também conhecida como "Moro de saias", disse ao Estado que decidiu sair do PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro.

"São coisas graves, é uma pressão que vem de todo lado, e é por isso que eu vou sair do PSL", afirmou. "Na próxima quarta-feira (18) vou me filiar ao Podemos."

Não explicitou as "coisas graves", mas disse que foi "pressionada por membros do PSL" para retirar sua assinatura do pedido para a instalação da CPI da Lava Toga. O único nome que citou foi o do senador Flávio Bolsonaro, igualmente do PSL e filho do presidente da República. Também alegou, entre os motivos da saída, a "falta de solidariedade" do PSL em relação ao processo de cassação de seu mandato, em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Selma Arruda - 56 anos, 22 deles como juíza - fez a campanha com as bandeiras do candidato Bolsonaro e da Operação Lava Jato. Foi eleita em primeiro lugar em seu Estado com 678.542 votos (24,65% dos válidos). Nem tinha assumido o mandato quando, em janeiro deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Mato Grosso desaprovou suas contas de campanha por unanimidade. Uma segunda decisão unânime do mesmo TRE, em abril, cassou seu mandato e o de seus suplentes, por abuso de poder econômico e caixa 2.

Negando todas as acusações, a senadora recorreu ao TSE - onde o processo tramita, sob a relatoria do ministro Og Fernandes. No começo da semana, foi divulgado o parecer da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, favorável à cassação do mandato. A qualquer momento, o relator pode levar o caso a julgamento no plenário.

Também aguarda julgamento, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), um Procedimento Administrativo Disciplinar (PDA) em que é acusada de usar o cargo de juíza para aproveitamento político e midiático. Está nas mãos do corregedor do CNJ, ministro Humberto Martins, aguardando data de julgamento. Não é a primeira vez que ela passa pela Corregedoria do CNJ. Foi advertida, em 2008, por ter admitido seu marido, advogado e policial rodoviário federal aposentado, como voluntário na Vara em que era juíza, sem nenhuma formalidade legal. Mesmo punida com a advertência, não admite que tenha errado. "Eu estava certa", afirmou.

A senadora recebeu o Estado na tarde da última quinta-feira, 12, no gabinete 15 da ala Teotônio Vilela do Senado. Aparentava tranquilidade. "Quando você não deve, é difícil ficar preocupada", afirmou, antes de ligar sua metralhadora verbal. A munição é farta de teorias conspiratórias, sem nenhuma prova, principalmente contra os juízes do TRE-MT que cassaram seu mandato por unanimidade. A assessoria do Tribunal disse ao Estado, em nome deles, que "as decisões foram tomadas em cima das provas dos autos".

Os olhos verdes da senadora choraram com vontade durante os minutos em que lembrou a morte dramática de sua filha Letícia, advogada de 25 anos, em 2014, vítima de um câncer de pele devastador. "Cada cicatriz é uma vitória", dizia a ruiva de olhos verdes, segundo a memória da mãe. "É isso que me dá coragem", afirmou a senadora com a maquiagem borrada.


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