Rivalidade entre MBL e bolsonaristas se intensifica com ataques ao presidente

13/06/2020 12h05


Fonte Época

Imagem: ReproduçãoO presidente Jair Bolsonaro atende a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada.(Imagem:Reprodução)O presidente Jair Bolsonaro atende a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada.

O protesto feito por uma ex-apoiadora a Jair Bolsonaro, na manhã da última quarta-feira, é mais um golpe na briga que tem sido travada entre o Movimento Brasil Livre (MBL) e o bolsonarismo. Os ataques entre os dois grupos, que foram aliados nas eleições de 2018, se intensificaram nos últimos dias e chegaram ao presidente.

A manifestação de Cristiane Bernart, que é assessora do vereador Fernando Holiday (Patriota-SP), uma das lideranças do MBL, e foi até o Palácio da Alvorada para criticar a forma com que o governo tem lidado com a pandemia, faz parte de um plano para desgastar a imagem do presidente.

Pouco depois de o protesto de Bernart ter sido exposto como uma ação midiática, no fim da manhã da quarta-feira, os apoiadores de Bolsonaro partiram para o contra-ataque. Hashtags como #DerreteMBL e #PeppadoMBL entraram nos assuntos mais comentados do Twitter, fazendo referência a outra inimiga pública do bolsonarismo, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), constantemente ofendida com a comparação com a personagem infantil Peppa Pig. Montagens depreciativas com o rosto de Cristiane Bernart se espalharam pelas redes sociais.

A estratégia da qual Cris Bernart participou foi anunciada pelocoordenador nacional do MBL, Renan Santos, num vídeo vazado de um grupo de WhatsApp no último fim de semana. Ele anunciava a seus companheiros "o início das operações do MBL na próxima semana para a derrubada do presidente Jair Bolsonaro" e pediu engajamento dos apoiadores. "Não será uma ação com essa turma de antifas, de torcida organizada, vai ser do nosso jeito, no nosso estilo", disse Santos, embora não detalhasse do que se tratava.

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarCristiane Bernart confrontou o presidente Jair Bolsonaro.(Imagem:Reprodução)Cristiane Bernart confrontou o presidente Jair Bolsonaro.
No dia seguinte, bolsonaristas revidaram. Um site chamado Estudos Nacionais, simpatizante de Jair Bolsonaro, publicou que o deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), outra liderança do MBL e também conhecido como Mamãe Falei, havia sido "alvo de notícia-crime por rachadinha e funcionário fantasma". Segundo o texto, o Ministério Público de São Paulo recebera uma ação, de autor anônimo, contra o deputado pela suposta prática de recolher o salário de seus assessores para si próprio.

Arthur do Val publicou um vídeo no qual diz ter descoberto que o autor anônimo se tratava de um funcionário do gabinete do deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), seu desafeto na Assembleia Legislativa. O servidor Bruno André Ferreira Costa de Jesus havia se esquecido de tirar seu nome do arquivo que enviou ao MP-SP, a que Arthur do Val teve acesso. Gil Diniz debochou no Twitter. "Se essa informação for verdadeira, vou promover meu assessor".

Segundo Do Val, a acusação foi protocolada com o intuito de gerar matérias para serem replicadas em sites bolsonaristas, já que não necessariamente deve desembocar numa investigação pelo MP. Eduardo Bolsonaro, que havia compartilhado o artigo do Estudos Nacionais contra o MBL, apagou sua publicação após o MBL criticar a "acusação plantada".

"É o modus operandi deles. Agora o Gil Diniz foi pego nessa. Eles queriam uma notícia falsa para disseminar em suas redes de fake news com o único intuito de assassinar a reputação de alguém", afirmou Arthur do Val a ÉPOCA. Já Gil Diniz disse que a notícia-crime foi protocolada por um "eleitor que tem medo do MBL e da patrulha que eles fazem na rede social", que teria pedido ajuda ao seu assessor para redigir a ação.

"Não se trata de uma denúncia em si. Não tem por que a gente se esconder. Nós tentamos ajudar numa demanda de um eleitor nosso. Quem gosta de fazer fake news é o MBL, é o próprio Arthur do Val. Ele, por exemplo, no dia da operação da Polícia Federal, ele fez um vídeo e postou em seu canal, para milhões de pessoas, que eu fui alvo de busca e apreensão. O que é mentira, eu nem fui alvo", contou Diniz.

A troca de acusações continuou nas redes. Edson Salomão, líder do Movimento Conservador (MC) e chefe de gabinete do deputado bolsonarista Douglas Garcia (PSL-SP), publicou que o MBL estaria "se aliando aos antifas (antifascistas) para atacar apoiadores do presidente" e pediu investigação da Polícia Federal aos desafetos. O tuíte foi compartilhado pelo empresário Otávio Fakhoury e pelo blogueiro Allan dos Santos, investigados no inquérito das fake news, além de blogueiros como LiloVLOG e Paula Marisa.

No dia seguinte, o blog Terça Livre, de Allan dos Santos, publicou um artigo afirmando que "simpatizante do MBL faz ameaça a jornalista". Tratava-se de um comentário feito anonimamente por um usuário no YouTube, pedindo para a autora do texto contra Arthur do Val que "tomasse cuidado por onde andava à noite".

O MBL pôs em prática, na quarta-feira, outra etapa do plano contra o governo. O grupo botou carros de som para percorrer algumas cidades, como São Paulo, Belém e Rio de Janeiro, incentivando protestos contra Bolsonaro. Renan dos Santos afirmou que o MBL vai continuar com ações e que a reação bolsonarista é "medo" das críticas que o grupo faz ao presidente.

"Pela lógica deles, se você não se submete a eles você precisa ser destruído. Desde o ano passado a gente vem articulando oposição ao Bolsonaro dentro da direita, centro-direita, e eles odeiam isso. E a gente vai continuar. Agora a gente quer conversar com outros agentes para fazer (ações) junto com a gente. O importante é manter uma linha de oposição ao Bolsonaro contínua, com diferentes grupos da sociedade", disse.

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