Ministro da Saúde faz apelo para países com doses extras de vacina contra Covid-19 ajudarem Brasil

30/04/2021 14h57


Fonte O Globo

Imagem: Pablo Jacob / Agência O GloboMinistro da Saúde Marcelo Queiroga(Imagem:Pablo Jacob / Agência O Globo)Ministro da Saúde Marcelo Queiroga

Em coletiva de imprensa virtual da Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta sexta-feira, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga fez um apelo aos países que tenham doses extras de vacina contra a Covid-19 para que façam doações ao Brasil e assim "possamos avançar com nossa ampla campanha" e evitar a "proliferação de novas linhagens e variantes do vírus".

Queiroga também afirmou que, ao assumir o Ministério da Saúde, se comprometeu com a aceleração da vacinação contra a Covid-19 e buscou orientar a população brasileira sobre medidas não farmacológicas.

— Eu me comprometi com a aceleração da vacinação e busquei orientar a população brasileira, de maneira clara e objetiva, sobre as medidas não farmacológicas cientificamente comprovadas: uso de máscara, lavagem das mãos e respeito ao distanciamento social. Busquei conciliar a adoção de medidas sanitárias com a necessidade de emprego e renda da população brasileira — afirmou.

O uso de máscaras já foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), que aparece sem o acessório em diversas ocasiões. Durante a pandemia, o presidente também já promoveu aglomerações, criticou medidas de distanciamento social e desestimulou o uso dos imunizantes.

Em seu longo discurso, Queiroga não mencionou as 400 mil mortes pela doença no Brasil, marca atingida nesta quinta-feira, e que foi tema da fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, mas prestou solidariedade às vítimas da Covid-19 no Brasil e no mundo, e a seus familiares.

O ministro também tratou da vacinação da população indígena no país:

— Considerando a vulnerabilidade desses povos a doenças respiratórias, eles foram priorizados pelo governo federal na vacinação contra a Covid-19. Já foram distribuídas doses suficientes para todos os indígenas com mais de 18 anos em territórios indígenas.

No entanto, a vacinação de indígenas segue um ritmo lento no país. Um estudo do Observatório Direitos Humanos Crise e Covid-19 mostra que menos de 60% dos indígenas aldeados receberam a primeira dose do imunizante, embora estejam na primeira fase das campanhas em todos os estados.

Ministro diz que população será imunizada até o fim do ano

Queiroga disse ainda que o Ministério está "na iminência de assinar" um contrato com a Pfizer para aquisição de mais 100 milhões de doses de vacina, e afirmou acreditar ser possível imunizar toda a população brasileira até o fim de 2021:

— Temos doses suficientes para o segundo semestre, e (assim) é possível garantir que até o fim de 2021 tenhamos a nossa população inteiramente vacinada — afirmou o ministro, que também disse que o Brasil tem capacidade de vacinar 2,4 milhões de pessoas todos os dias.

O ex-ministro Eduardo Pazuello já havia prometido vacinar a população brasileira até o fim deste ano. Até quinta-feira, o Brasil conseguiu aplicar a primeira dose de vacina contra a Covid-19 apenas em 14,74% da população, e somente 7,15% receberam a segunda dose, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.

Por falta de doses, municípios de pelo menos 18 estados precisaram suspender a aplicação da segunda dose da CoronaVac essa semana.

O ministro disse ter orgulho em se referir a "duas centenárias instituições de saúde pública brasileiras": a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan, que produziram em território nacional a "totalidade das vacinas usadas até hoje na imunização dos brasileiros contra a Covid-19". Destacou também a "cooperação fundamental" da China, que exporta ao Brasil o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) necessário para a produção local.

A CoronaVac, produzida pelo Butantan, já foi alvo de diversos ataques do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido). O imunizante ficou no centro de uma disputa política entre Bolsonaro e governador de São Paulo, João Doria (PSDB), responsável pelo acordo que trouxe a vacina para o Brasil.

Queiroga também citou discussões sobre a quebra de patentes de vacinas na Organização Mundial do Comércio (OMC):

— Defendemos a imediata disponibilidade e o acesso a vacinas da Covid-19, de maneira justa e equitativa. Entendemos que a imunização deve ser considerada um bem público global.

Brasil não pode baixar a guarda

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a atenção do mundo está neste momento voltada para a escalada da Covid-19 na Índia, mas que outros países também estão vivendo transmissão intensa, destacando o Brasil, "um dos mais afetados pela pandemia".

— Desde novembro, o Brasil teve uma crise aguda, incluindo (aumento de) casos, hospitalizações e mortes entre jovens. Os casos agora diminuíram por quatro semanas seguidas, hospitalizações e mortes também. São boas notícias, esperamos que continuem. Mas a pandemia nos ensinou que nenhum país pode baixar a guarda.

O diretor da OMS afirmou ainda que o país se saiu bem nas áreas da detecção precoce da doença, telemonitoramento de casos e distribuição de vacinas, com priorização de profissionais da saúde, indígenas e idosos.

Na avaliação de Ghebreyesus, a pandemia ameaça os ganhos dos últimos 30 anos na saúde pública brasileira:

— O Brasil tem uma longa e orgulhosa história da saúde pública, com três décadas de investimento no fortalecimento da saúde primária e progresso em relação à cobertura universal de saúde. Mas pandemia atingiu o sistema de saúde do Brasil em cheio, e arriscamos perder essas conquistas.

O diretor da OMS adotou um tom diplomático com o Brasil, que também foi empregado no discurso de Queiroga, que agradeceu, por exemplo, o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no esforço para assegurar acesso a medicamentos para intubação e oxigênio medicinal.

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