Lula justifica ausência em atos contra Bolsonaro e muda tom sobre regulação da mídia

09/10/2021 09h37


Fonte 180graus.com

Imagem: ReproduçãoEx-presidente Lula(Imagem:Reprodução)Ex-presidente Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (8) que não foi aos últimos protestos de rua organizados pela oposição a Jair Bolsonaro e por questões sanitárias e para evitar transformá-los em "atos políticos".

O petista disse que ainda não decidiu se participará da próxima manifestação organizada pela esquerda, marcada para 15 de novembro, mas admitiu a possibilidade de ir ao protesto caso não esteja em viagens internacionais marcadas para a mesma data.

Em entrevista em Brasília, o ex-presidente também mudou o tom de sua fala com relação ao tema da regulação da mídia e afirmou que este é um assunto de responsabilidade do Congresso Nacional e dos partidos, e não do presidente da República.

Antes, nas últimas declarações, o petista defendia a regulamentação sem tentar se distanciar do assunto, como fez nesta sexta-feira.

"O que se propõe é que em algum momento da história do Congresso Nacional este tema possa ser debatido. É um tema do Congresso", disse. "Em algum momento os partidos vão debater. O que ninguém pode é ter medo de um debate sobre isso", afirmou Lula nesta sexta.

A mudança no tom atende a apelos que o petista ouviu em conversas com aliados nesta semana, que pediram a ele que evitasse adotar a regulação da mídia como um mote de sua campanha eleitoral.

Lula voltou a dizer que só decidirá se será candidato à Presidência no início do ano que vem, mas afirmou que montará um conselho de desenvolvimento econômico e social, com a participação de "empresários, negros, todo mundo", para debater temas afeitos à campanha.

Durante a entrevista, o petista criticou Bolsonaro, o chamou de "maluco beleza", "biruta de aeroporto", e rebateu ilações de parlamentares segundo os quais o o PT não defenderia verdadeiramente o impeachment porque Lula gostaria de manter a polarização e enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno, o que seria eleitoralmente melhor para ele.

"Dizer que o PT é contra o impeachment é de uma insanidade.. a pessoa que fala que o PT é contra o impeachment poderia perguntar porque o [Arthur] Lira [presidente da Câmara] não coloca em votação (...) O presidente poderia colocar um dos pedidos em votação", defendeu o ex-presidente.

Apesar das declarações, Lula não participou até hoje de atos de oposição organizados para defender o afastamento de Bolsonaro e afirmou que ainda não decidiu se vai ao próximo ato que está sendo organizado para o dia 15 de novembro.

O ex-presidente justificou a ausência com o argumento de que não quer contaminar os protestos.

"Não fui aos atos primeiro por uma questão de responsabilidade. Não queria e não vou contribuir para transformar os atos em atos políticos. Porque a hora que eu subir no caminhão, subirá no caminhão o primeiro colocado nas pesquisas e que pode vencer a eleição em primeiro turno", disse.

"Uma coisa é subir no caminhão quem tem 2% dos votos. Outra coisa é subir no caminhão quem tem 45%, 49%, depende das pesquisas, das intenções de voto. Então, eu tenho essa responsabilidade, porque quando eu subir no caminhão, é para não descer mais."

Lula ainda justificou a ausência nos atos por recomendação de ex-ministros da Saúde que dizem que ele faz parte do grupo de risco por ter 75 anos e só deve ir "houver segurança científica".

Na entrevista, o petista adotou tom moderado, disse que a Lava Jato é um assunto que ficará para trás e que quer focar no debate sobre a reconstrução do país.
O ex-presidente afirmou que Bolsonaro é incompetente ao governador o país por não conseguir controlar a alta dos preços dos produtos e da gasolina e defendeu a interferência na política de preços da Petrobras.

"Vou te dizer e repetir que o Brasil é autossuficiente em Petróleo, tem refinarias qualificadas. Começamos a privatizar nossas refinarias e estamos comprando combustível dos EUA. O que está acontecendo é que a Petrobras tem uma direção mais importante que o presidente da República. Não vejo nenhum sentido em querer agradar acionista minoritário americanos e não querer agradar consumidor majoritário brasileiro."

Na entrevista, Lula ainda afirmou que os acordos internacionais sobre meio ambiente eram respeitados por ele e colocavam o Brasil com boa reputação no cenário internacional até "o maluco beleza" assumir o governo, em referência a Bolsonaro.

O ex-presidente ainda elogiou o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, hoje secretário do governo de João Doria (São Paulo), com quem conversa eventualmente. Disse também que não responderá às críticas feitas pelo ex-aliado Ciro Gomes, pre-candidato à Presidência da República pelo PDT.
A entrevista de Lula ocorreu ao final de uma semana em que o petista teve uma série de encontros políticos em Brasília.

Entre as reuniões, na quarta (6), o ex-presidente teve um jantar na casa do ex-senador Eunício Oliveira (MDB), que acabou esvaziado. Caciques do partido que haviam sido convidados para o encontro, como os senadores Eduardo Braga (AM) e Renan Calheiros (AL), o ex-presidente José Sarney e o governador Ibaneis Rocha (Distrito Federal) não compareceram.

Na ocasião, Lula fez avaliações do cenário nacional, mostrou-se otimista e foi aconselhado a adotar tom moderado na campanha.
Antes disso, o ex-presidente encontrou-se com as direções do PSB, do PC do B, do PSOL e do Solidariedade. Reuniu-se também com o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Nesta sexta, o petista reuniu-se com militantes que defenderam sua inocência nas acusações da Lava Jato.

Quem esteve com Lula diz que o mandatário está otimista com relação às eleições. A mais recente pesquisa Datafolha mostrou que a corrida presidencial está estagnada, com Lula mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro na dianteira da disputa.

Comparado ao último levantamento, Lula oscilou de 46% para 44% e Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que passou de 5% para 4%.

Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro.

O petista foi de 46% para 42%, e Bolsonaro se manteve em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite (RS) –que oscilou de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro Gomes (PDT) pulou de 9% para 12%.
 

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