"É figura de retórica", diz Mourão sobre Bolsonaro defender "pólvora" para evitar sanções

11/11/2020 16h28


Fonte G1

Imagem: Divulgação

O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta quarta-feira (11) que é "figura de retórica" a defesa feita pelo presidente Jair Bolsonaro de uso de "pólvora" quando a diplomacia e a "saliva" não são suficientes para lidar com ameaças de sanções comerciais ao país devido às queimadas e ao desmatamento da Amazônia.

A afirmação de Bolsonaro, feita durante discurso nesta terça (10), no Palácio do Planalto, faz referência a uma declaração do presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

Ainda como candidato, Biden disse que o Brasil pode enfrentar "consequências econômicas significativas" se não parar de "destruir" a floresta.

Bolsonaro, porém, não citou o nome de Biden ao fazer a declaração na terça. O brasileiro torceu publicamente pela reeleição do presidente dos EUA, Donald Trump, e até o momento não se pronunciou sobre a vitória do democrata.

"Acho que não causa nada, isso aí tudo é figura de retórica", disse Mourão ao ser questionado por jornalistas se a declaração de Bolsonaro pode trazer consequências ao Brasil.
"Vamos aguardar, dê tempo ao tempo”, completou o vice-presidente.

Segundo Mourão, Bolsonaro se referiu a “aforismo antigo que tem aí, que diz que, quando acaba a diplomacia, entram os canhões”.

Pólvora
Na terça, Bolsonaro participava de uma cerimônia no Palácio do Planalto sobre um plano do governo para incentivar o turismo quando, ao se referir à Amazônia, afirmou que "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora."

Sem citar o nome de Biden, Bolsonaro declarou:

"Assistimos há pouco aí um grande candidato a chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos."

Ainda no discurso durante a cerimônia da terça, Bolsonaro afirmou que o Brasil tem que "deixar de ser um país de maricas" e enfrentar a pandemia de Covid-19 de "peito aberto".

Já Biden fez a declaração sobre a Amazônia durante debate com o adversário Donald Trump, candidato à reeleição, durante a campanha eleitoral. Biden afirmou:

“O Brasil, a floresta tropical do Brasil, está sendo demolida, está sendo destruída. Mais carbono é absorvido naquela floresta tropical do que cada pedacinho de carbono que é emitido nos Estados Unidos. Em vez de fazer algo a respeito… Eu estaria me reunindo e garantindo que os países do mundo venham com US$ 20 bilhões e digam: Aqui estão US$ 20 bilhões. Pare, pare de derrubar a floresta, e, se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas."

O presidente eleito dos Estados Unidos não foi o único a se referir a possíveis sanções econômicas ao Brasil em resposta ao aumento do desmatamento e das queimadas no país, que é alvo de críticas internacionais.

Em setembro, países europeus divulgaram uma carta em que cobram do governo Bolsonaro ações para controlar a destruição da floresta amazônica e alertam para o risco de boicote a produtos brasileiros.

A política ambiental do governo também tem dificultado a concretização do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Vacina
Mourão também declarou nesta quarta que não se deve “politizar” o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, o que “infelizmente” já ocorreu.

“O que não pode é politizar. Infelizmente, vocês sabem, né, essa questão está toda politizada e fica [ah, é do lado A, é do lado B]. Acho que isso não é bom", disse Mourão.

O vice-presidente não quis comentar se Bolsonaro contribui para politizar o tema. Na terça, Bolsonaro comemorou a suspensão temporária dos testes da CoronaVac, desenvolvida no Brasil pela empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Saúde de São Paulo.

O episódio foi mais um na série de disputas entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Bolsonaro e Doria divergem desde o início do ano sobre as medidas contra a pandemia e se tornaram adversários políticos declarados.


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