Sem local adequado, jovens que mataram Gleison vão para o CEIP

21/07/2015 08h43


Fonte G1 PI

Imagem: Gilcilene Araújo/G1Juiz Antônio Lopes determinou trasnferência dos jovens para o CEIP.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)Juiz Antônio Lopes determinou trasnferência dos jovens para o CEIP.

Os três jovens, que admitiram terem espancado até a morte Gleison Vieira da Silva no dia 16, foram transferidos nesta segunda-feira (20) do Complexo da Cidadania para o Centro de Internação Provisória (CEIP), na Zona Sudeste de Teresina.

Segundo o juiz Antonio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude da capital, eles ficarão no Centro até que o estado providencie um local definitivo para o cumprimento da medida socioeducativa. Os adolescentes foram condenados pelo estupro coletivo em Castelo do Piauí.

“Eles devem ficar lá (no CEIP) pelo período mais breve possível, apenas até que o estado encontre um lugar para eles. Atualmente não tem nenhum local apropriado no Piauí com condições de recebê-los. Se forem para o CEM (Centro Educacional Masculino), morrem todos os três”, afirmou.

O magistrado afirmou também que a Secretaria da Assistência Social e Cidadania (Sasc) tem obrigação de providenciar alojamentos adequados para os jovens. “O antigo CEIP está vazio e precisa ser feito algo (uma reforma) lá de forma urgente. Acho que no máximo em um mês, os jovens terão que ser transferidos. O estado vai ter que se virar para conseguir um local”, contou.

Segundo a Sasc, está sendo providenciada uma reforma emergencial no CEM com o intuito de adquear o local para o recebimento definitivo dos três jovens suspeitos de terem matado Gleison. Ainda de acordo com a secretaria, os adolescentes estão em alojamentos separados e tendo uma rotina normal, porém isolada. Eles não têm contato entre si e nem com os outros garotos no CEIP.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Piauí, realizou uma vistoria nesta segunda-feira no CEM. Segundo William Guimarães, presidente da OAB-PI, atualmente o Centro abriga 83 internos, 20 a mais do que sua capacidade. Foram encontrados problemas como falta de colchões em todos os alojamentos, insuficiência de educadores e estrutura precária, com uma fossa estourada numa das celas.

Do resultado da vistoria, o presidente da OAB-PI pretende elaborar um relatório, que será entregue ao governo do estado e a direção do CEM. "Vamos solicitar uma audiência com o governador e cobrar dele o investimento para a reforma deste centro como a construção de um novo. Soubemos que a União disponibilizou R$ 5,5 milhões para a nova unidade, mas que há risco de devolução do valor porque o estado não tem tido eficiência da aplicação desses valores. Não podemos aceitar este retorno", completou.

Jovens confessam homicídio
Os três adolescentes que dividiam o alojamento com Gleison Vieira da Silva, 17 anos, assumiram a autoria do ato infracional de matar o jovem, pois a vítima entregou para a polícia os nomes dos envolvidos no estupro coletivo em maio deste ano.

“Um dos adolescentes disse que foi apenas uma discussão que terminou na morte do Gleison, já os outros dois narram que a intenção era realmente matar o delator. Os adolescentes afirmam que assassinaram Gleison porque ele teria dito para a polícia que eles participaram do estupro coletivo sem terem envolvimento com o caso”,
afirmou a titular da delegacia do Menor Infrator em Teresina, Thais Paz, que informou abrir um novo inquérito e ouvir novas testemunhas.

Vazam fotos
O gerente de internação do Centro Educacional Masculino (CEM), Herberth Neves, declarou que vai abrir uma sindicância para identificar os responsáveis pelo vazamento das imagens do adolescente Gleison Vieira da Silva, 17 anos, por companheiros de cela.

As imagens, que mostram o corpo ferido e o rosto de Gleison Vieira desfigurado, foram compartilhadas nas redes sociais. Herberth Neves quer saber se houve negligência por parte dos policiais ou educadores de plantão com relação a divulgação das fotos do garoto.

Ainda de acordo com o gerente de internação, os suspeitos de assassinar o adolescente admitiram o homicídio e não demonstraram remorso ou arrependimento ao relatar o ato criminoso.

"Os acusados não falaram a motivação do crime, mas acredito que houve uma discussão entre eles e o Gleison, porque ele foi o delator do estupro. Os três confessaram ter matado o companheiro e explicaram como fizeram isso. Percebi a frieza deles em comentar o ato, como se fosse algo banal. Não demonstraram nenhum remorso ou arrependimento o que mostra o grau de periculosidade destes menores",
declarou.

Detalhes do crime
Segundo Herberth Neves, os adolescentes não utilizaram nenhum objeto para matar Gleison Vieira e que o crime aconteceu durante o banho."Um dos menores relatou que deu uma ‘gravata’ na vítima, para imobilizar e impedir que ela gritasse. Depois os três menores iniciaram uma sessão de espancamento, atingindo principalmente a cabeça de Gleison", falou.

Já o juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina, afirmou que a agressão que culminou com a morte de Gleison deve ter sido iniciada enquanto a vítima dormia. Cada um eum alojamento diferente.

Chacina no CEM
O juiz Antonio Lopes da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina comentou que o ocorido e disse que o Centro Educacional Masculino (CEM) poderia ter sido palco de uma chacina, já que os adolescentes vinham sendo ameaçados de morte pelos demais jovens da unidade.

“Eles (os internos) disseram que os agressores tiveram foi sorte, porque iriam matar os quatro. Poderia ter sido uma chacina. Há 14 anos vejo que o estado não tem cumprido o que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é manter separados menores com alto grau de agressividade, a exemplo de estupradores, e quando há riscos para a integridade física deles”, disse o juiz.

Perfil da vítima
A história de Gleison é parecida com a de tantos outros jovens em conflito com a lei pelo Brasil: vem de família pobre, largou a escola no 3º ano do ensino fundamental, era envolvido com drogas e já tinha passagens pela polícia por furtos e roubo, o primeiro cometido aos 13 anos. As informações são da mãe do rapaz, Elizabeth Vieira, e do Conselho Tutelar de Castelo do Piauí, cidade localizada a 190 km de Teresina.

Antes da barbárie, Gleison vivia em uma casa pequena no bairro Refesa, periferia da cidade, com cinco irmãos, o padrasto e a mãe grávida de três meses. A renda da família é a aposentadoria do irmão mais velho, que tem problemas mentais, e mais R$ 270 do Bolsa Família.

Elizabeth Vieira, 35 anos, conta que o filho “se desviou” quando tinha apenas 13 anos de idade. A mãe disse que sabia que ele usava drogas, mas não tinha ideia de como as comprava.

Gleison, segundo relatos do Conselho Tutelar, teve várias passagens pela polícia por furtos e roubos. Para a mãe, que amamentou o filho até os dois anos, o garoto sempre saía de casa dizendo que ia para o “videogame”.

Segundo relatos do delegado Laércio Evangelista, responsável pela investigação do estupro coletivo, muita gente em Castelo do Piauí comemorou a morte de Gleison.

Enterro em Teresina
Diante da possibilidade de reações hostis de moradores de Castelo do Piauí durante o enterro de Gleison Vieira da Silva, 17 anos, a família da vítima realizou o sepultamento do corpo do jovem nessa sexta-feira (17), no cemitério Santa Cruz, em Teresina.

A mãe do garoto, o padrasto e uma tia acompanharam o enterro. Policiais militares e conselheiros tutelares também estiveram no cortejo.

Mãe grava vídeo
Elizabeth Vieira gravou um vídeo depois que soube do assassinato do filho. "Foi um choque muito grande porque eu não estava esperando. Recebi a notícia, é uma dor muito grande", disse.

A mãe da vítima disse ainda que acredita que a briga entre os jovens tenha sido motivada por causa dela. No vídeo, ela diz que ele a defendia muito. "Ele tinha que pagar pelo crime que cometeu, mas não desta forma", disse.

Destino dos outros três jovens
Após o crime, os jovens que são apontados como os autores do homicídio foram transferidos do CEM para o Complexo da Cidadania, na Zona Sul de Teresina. Representantes do Centro Educacional e da Justiça irão se reunir para decidir onde esses garotos irão cumprir o restante da suas medidas socioeducativas.

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